Política
O Facebook e os atiradores do escuro
A arena digital será um campo de luta fundamental na campanha eleitoral
Eu sou um usuário cotidiano do Facebook, acredito que a rede social é um instrumento importante para meu trabalho como jornalista, não apenas para divulgar minhas ideias, artigos e reportagens, mas para “sentir o pulso” dos meus amigos e leitores. Me ajuda a entender quais são os pontos nevrálgicos dos principais temas que abordo e para ter novas ideias de pauta.
Bom, como jornalista da área de sustentabilidade e meio ambiente, sou moderador de uma rede de profissionais da área, a Rede Brasileira de Jornalistas Ambientais que, além de uma lista no site Yahoo, mantém um perfil no Facebook para a troca de ideias, pautas e informações. Esse perfil da RBJA é administrado por mim e por quatro outros colegas, que em rodízio e trabalho voluntário se dedicam a aprovar as solicitações de ingresso nessa rede, o que somente é permitido a profissionais de imprensa que tenham algum interesse em pautas ambientais.
Bom, todo esse preâmbulo apenas para dizer que nas últimas semanas temos recebido no perfil da RBJA pedidos de dezenas de pessoas (perfis), que entraram no Facebook a um mês ou menos, e que desejam participar. Até aí, nada de novo, mas o que me chamou a atenção é que alguns desses perfis já participam de mais de uma centena de grupos de interesse no Facebook.
Não creio, em sã consciência, que alguém entre em uma rede social e em poucos dias esteja conectado com centenas de grupos com a melhor das intenções. São claramente perfis “fake” criados com intuito de “atirar do escuro” neste ou naquele político ou qualquer pessoa que lhes sirva de alvo.
A internet já esteve presente em outros períodos eleitorais, mas desta vez o acesso das pessoas é muito maior, a banda larga chegou a mais gente e os aparelhos de smartphones já em número maior do que o de telefones fixos no país. A arena digital será um campo de luta fundamental para a campanha não apenas de candidatos majoritários, como presidente, governadores e senadores, mas também para milhares de candidatos a deputado estadual e federal.
Esse cenário de franco atiradores vai invadir nossos perfis, vai nos oferecer informações sem nenhuma credibilidade, sem garantias de origem e eivadas de interesses obscuros.
Este texto não tem o objetivo de oferecer soluções para o problema, mas apenas alertar para a existência desse fato. Será um teste de força para a democracia brasileira. Tenho a impressão de que vamos ter usar algo raro na discussão política nos últimos tempos: inteligência e discernimento. (Envolverde)
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