O dia seguinte

O fracassado golpe bolsonarista resulta de um complô entre fanáticos, endinheirados, militares e policiais. E fortalece momentaneamente Lula

O ataque às sedes dos Três Poderes foi bem planejado. Mais de cem ônibus chegaram em Brasília horas antes da incursão. Todos unidos para a “festa da Selma”, código usado pelos extremistas em conversas no Telegram, para descrever o que seria o acontecimento mais espantoso em 62 anos de vida da capital brasileira - Imagem: Joedson Alves/Anadolu Agency/AFP, Scarlett Rocha/Agif/AFP, Carlos Alves Moura/STF e Rosinei Coutinho/STF

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Em 23 de dezembro, George Washington de Oliveira Souza, de 54 anos, gerente de um posto de combustíveis no interior do Pará, montou uma bomba. Fazia quase um mês que havia saído de casa numa caminhonete cheia de armas e acampara em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, o Forte Apache. Ali uma mulher lhe sugeriu construir o explosivo e usá-lo para espalhar o pânico. O objetivo era levar Jair Bolsonaro, ainda presidente, a decretar estado de sítio e, com apoio de militares, impedir a posse do sucessor. Souza possuía dinamite e um colega acampado, espoleta e detonador. O plano original era detonar a bomba numa subestação de energia, mas um homem de nome “Alan” preferiu deixá-la em um local diferente. A Polícia Civil achou-a perto do aeroporto, graças a uma denúncia, desativou-a e, em 24 de dezembro, prendeu Souza.

Doze dias antes da detenção Lula havia sido diplomado presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral, última formalidade antes da posse, e Brasília vivera o caos. Bolsonaristas queimaram ônibus, vandalizaram bens públicos e tentaram invadir a sede da Polícia Federal, a pretexto de salvar um indígena, José Acácio ­Tserere Xavante, de uma prisão decretada em razão de ele pregar resistência violenta à posse de Lula. Saldo dos distúrbios: ninguém preso. No depoimento à Polícia Civil após ir em cana, Souza contou que naquele 12 de dezembro tinha conversado com PMs responsáveis por conter os manifestantes e ouvido que eles “não iriam coibir a destruição e o vandalismo”, desde que não fossem agredidos. “Ficou claro para mim que a PM e os Bombeiros estavam ao lado do presidente (Bolsonaro) e que em breve seria decretada a intervenção das Forças Armadas”, diz a transcrição do depoimento de Souza.

Segundo o Fatafolha, 93% dos brasileiros condenaram a insurreição dos “patriotas”

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1 comentário

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 17 de janeiro de 2023 04h31
Para o jurista, já falecido, Dalmo de Abreu Dallari , o bem comum consiste no conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral do ser humano. Essa concepção de desenvolvimento integral do ser humano abrange tudo, inclusive a ampliação dos valores materiais e dos valores espirituais que cada indivíduo considere necessário para a expansão da sua personalidade e da sua consciência. Pois bem, no dia 8 de janeiro, a república e a democracia foram atacadas. Uma tentativa de golpe pairou no ar sendo tramada e planejada ou pré-arquitetada por algumas autoridades, grupos empresariais e executada pelos fanáticos arruaceiros que vandalizaram o palácio dos três poderes destruíram obras histórica e de arte patrimônio de todo o povo brasileiro que foram doadas por artistas como Oscar Niemeyer, Di Cavalcanti, Victor Brecheret diversos países e herdados de personagens históricos como D. João VI, como o relógio doado pelo governo francês que pertenceu ao rei Luís XIV. Foi um golpe no estômago da República e dos três poderes que faria com que o Barão de Montesquieu se levantasse do túmulo para defender o seu legado simbólico. Depois da eleição do presidente Lula, a malta ignorante alicerçada por militares e endinheirados golpistas destilaram sua ira atacando o coração do poder no Brasil. De patriotismo, esses fanáticos e energúmenos não têm nada, somente ódio e um ressentimento escancaradamente irracional. Todos os líderes devem ser identificados e exemplarmente punidos para que nunca mais se repita tamanha infâmia contra a democracia brasileira.

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O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

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