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O caminho da prosperidade

A estabilidade política é indispensável para o Brasil voltar a crescer, avalia Jerônimo Rodrigues

Hábil negociador. O governador assegurou bilionários investimentos para reindustrializar a Bahia em seu recente périplo internacional – Imagem: Mateus Pereira/GOVBA
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Em processo de reindustrialização, a Bahia ocupa um lugar de destaque no staff do presidente Lula, tendo os ex-governadores Rui Costa e Jaques Wagner em cargos estratégicos. Na entrevista a seguir, Jerônimo Rodrigues, o atual governador, fala sobre o peso da economia baiana e faz um balanço das parcerias comerciais recém-celebradas com a China e com os Emirados Árabes Unidos, além de comentar a “força do 13” no eleitorado local, a garantir o triunfo do PT por cinco eleições consecutivas. Mas nem tudo são flores. O estado enfrenta sérios problemas de segurança pública e há quatro anos lidera o ranking nacional de mortes violentas. A entrevista em vídeo está disponível no canal de CartaCapital no YouTube.

Reindustrialização
Durante as recentes viagens à China e aos Emirados Árabes, tivemos agenda com quase 20 empresas estrangeiras, e isso estreitou o relacionamento que pretendemos manter com elas. Anteriormente, já havíamos iniciado um diálogo com algumas delas, a exemplo da CCC, do consórcio que vai realizar a construção da ponte Salvador-Itaparica. Estivemos com outras companhias que tínhamos feito contato, mas não havíamos fechado negócios, sobretudo no setor de energia solar e eólica. E tem outro bloco de empresas que não havia contato algum até aquele momento. Trouxemos resultados concretos, como a instalação da fábrica de carros elétricos da BYD em Camaçari.

Incentivos fiscais
O desejo da BYD era instalar-se na Bahia, onde a Ford tinha seu parque industrial até há alguns meses. Para tanto, é preciso haver um entendimento entre as duas empresas. Não diz respeito nem ao governo federal nem ao estadual, mas nós buscamos mediar esse contato, facilitar o acordo. Reafirmamos o compromisso de reduzir as alíquotas de ICMS e IPVA, para diminuir o custo dos automóveis elétricos aos consumidores. Da mesma forma, reiteramos a intenção de adquirir veículos sustentáveis na renovação de nossa frota de viaturas, ambulâncias e ônibus elétricos, além de assegurar investimentos na infraestrutura e logística. Quando Lula chegou à China, nos reunimos em Xangai e o staff da empresa apresentou para ele as condições. De imediato, o presidente colocou o ministro Fernando Haddad e o presidente do BNDES, Aloisio Mercadante, para ouvir as demandas da BYD. Entendemos ser necessária uma política nacional de incentivo aos carros elétricos. A instalação da BYD em Camaçari vai ser muito importante para o Brasil, para a Bahia e para o Nordeste, mas também para a comercialização com a América Latina, América Central e Europa. Agora, estamos discutindo investimentos em portos com o governo federal. A BYD já tem uma fábrica em São Paulo e, com a unidade baiana, poderá produzir 200 mil automóveis elétricos por ano. Esperamos que isso aconteça o mais rápido possível.

Violência urbana
Quando governador, Jaques Wagner iniciou um trabalho muito forte de valorização profissional das carreiras das polícias Militar e Civil. No governo Rui Costa, houve robustos investimentos em tecnologia, em estrutura física e bem-estar dos trabalhadores, com delegacias, companhias, pelotões e viaturas. Quando Jaques Wagner chegou ao governo, lembro de haver viaturas quebradas, sendo empurradas pelos policiais, ou cedidas por prefeituras para poder dar conta do policiamento. Isso ficou no passado, a realidade é outra. Reaparelhamos as polícias, inclusive com armas adequadas para enfrentar o crime organizado. Investimos muito em Tecnologia da Informação e inteligência. Bolsonaro estimulou a violência no País e esvaziou a política de segurança pública nacional. Nossas divisas entre os estados, nossas fronteiras, ficaram desguarnecidas. A quantidade de armas em circulação cresceu muito e o governo federal não investiu nos estados e municípios. Agora, com Lula, vamos restabelecer as parcerias, porque a União tem muito a contribuir no combate à violência. E continuaremos investindo em equipamentos, em automóveis, em concursos públicos.

“Na China e nos Emirados Árabes, os empresários e governantes demonstraram muita confiança em Lula”

A força do 13
Nós tivemos, a partir do governo Jaques Wagner, o resgate de uma Bahia que ninguém via. O interior estava esquecido. Não havia estradas de qualidade nem escolas boas. Quando um parente adoecia, as pessoas tinham de ser transportadas numa ambulância por até mil quilômetros, porque não havia hospitais no interior, a saúde não era interiorizada. Tudo isso nós conseguimos resgatar, a partir de um governo que democratizou a Bahia. Nos aproximamos muito da sociedade, dos prefeitos, dos consórcios. O Wagner hoje ocupa um espaço de liderança no Senado e todos nós conhecemos o estilo dele de fazer política, que é da mesma escola de Lula e Rui Costa, todos gestores excelentes. Temos de reconhecer o grau de maturidade que a Bahia passou a ter ao trazer novos quadros, como é o meu caso, que nunca tinha concorrido a cargo eletivo. Essa renovação tem de ser trabalhada da seguinte forma: novas atores com novas formas de pensar, mas sem perder de vista o legado das pessoas com mais idade, com mais experiência.

Governo Lula
Houve mudança de concepção de governo e sempre há tensões. Vínhamos de um governo com concepção diferente da nossa, de empreender, de investir, de cuidar da sociedade, e Lula hoje traz um modelo diferenciado. Ele conseguiu implementar mudanças no Congresso mesmo antes de assumir, tudo na base do diálogo. Em pouco tempo, também restabeleceu o bom relacionamento internacional do Brasil. Cheguei 15 dias antes de Lula na China. Em todos os lugares que visitei, via o semblante, as palavras e a crença dos empresários e governantes em relação ao nosso presidente, havia muita confiança. Tentaram derrubar a democracia no País, mas os poderes Judiciário, Executivo e Legislativo deram as mãos e disseram não a essa violência. O dia 8 de janeiro ficará marcado na nossa história como um dia de luto, muito triste, mas que também serviu para a gente avaliar o quanto temos de trabalhar para fortalecer a nossa democracia.

Democracia
Sempre respeitei as críticas da oposição, mesmo aquelas que considerava injustas. Há, porém, movimentos antidemocráticos nas redes sociais, que não condizem com os nossos parâmetros constitucionais. Desejo que Lula possa restabelecer a normalidade. O Brasil precisa de estabilidade e vamos trabalhar para isso, inclusive por meio de nosso fórum de governadores. Para mim, o conceito de democracia abrange participação, envolvimento, comida na mesa, água na torneira, escola de qualidade. A resistência de um pessoal que não aceitou a derrota nas urnas e de outros que ainda querem continuar no palanque não combina com o Brasil que estamos construindo com Lula. •

Publicado na edição n° 1258 de CartaCapital, em 10 de maio de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O caminho da prosperidade’

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