Os discursos de posse de Lula atacaram todos os pontos cruciais das diferenças de gênero e raça que são o flagelo do Brasil. E até o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), um quase-puro-sangue do Centrão, fez uma deferência inevitável a um preto. Abriu a sessão solene de posse no Congresso com uma homenagem a Pelé, que hoje começa a ser velado em Santos (SP). E coube à catadora preta Aline Sousa passar a faixa presidencial para o recém-empossado, no momento mais emotivo da jornada democrática que abriu 2023 no Brasil.
No meio de uma maioria de homens brancos, que domina a política institucional do Brasil desde sempre, além do espírito de Pelé, circulavam o menino corinthiano Francisco Carlos do Nascimento, Benedita da Silva, Sonia Guajajara, Raoni e Anielle Franco. A ministra da Igualdade Racial entrou no Congresso “esperando novos ares e com a certeza de que a democracia voltou a sorrir”.
“A diversidade é uma forma de alargar a democracia”
A posse do ex-presidente coloriu a Esplanada dos Ministérios de vermelho, marrom, preto, arco-íris e verde e amarelo. Duda Salabert (PDT/MG), eleita junto com Erika Hilton (PSOL/SP) a primeira deputada federal trans do Brasil, adentrou o Congresso na mesma condição de políticos antiquados que ocupam parte da Casa.
“O dia de hoje é para celebrar a derrota de Jair Bolsonaro e a vitória de um projeto voltado para a vida. Sepultamos a necropolítica e fomentamos a biopolítica. Estamos celebrando a vitória de um projeto popular construído coletivamente. Não é à toa que temos duas travestis eleitas no Congresso Nacional e uma travesti na Secretaria LGBT. Tudo isso é uma vitória da democracia. A diversidade é uma forma de alargar a democracia”.
Violentamente agredida por Jair Bolsonaro duas vezes dentro do Congresso (“não estupro porque você não merece”), Maria do Rosário (PT/RS), ex-ministra das Mulheres no governo Dilma, falou sobre o tipo de política que retorna ao governo:
“Há muitos assuntos relacionados a políticas de cuidados que as mulheres querem dividir com a sociedade e sobre os quais os Estado precisa atentar. No discurso, o presidente Lula falou muito sobre creches, saúde pública, de políticas públicas que fazem diferença para todos, mas sobretudo para as mulheres. Então acho que as mulheres também venceram com o presidente Lula.
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