Política

Nova rede social pró-Trump vaza dados de perfis bolsonaristas

Lançado em 4 de julho, o Gettr já conta com meio milhão de perfis e sofreu duas tentativas de invasão

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Criada por um ex-conselheiro da campanha de Donald Trump, o Gettr foi lançada em 4 de julho, data em que é comemorada a independência americana, como um protesto a “independência” da censura imposta pelas outras redes sociais. Em apenas uma semana, a rede ultrapassou mais de meio milhão de downloads.

Segundo os criadores, o Gettr promete ser uma “nova plataforma fundada nos princípios da liberdade de expressão, pensamento independente e em rejeição à censura política e a cultura de cancelamento”. A ideia surgiu depois de o ex-presidente republicano ter sido ser banido do Twitter, Facebook e Youtube em diversos eventos – no mais recente por ter incentivado a invasão ao Capitólio dos Estados Unidos, no início do ano.

O app possui interface e funcionalidades muito semelhantes ao Twitter, a rede social mais utilizada por Trump como palanque político. No GETTR, as publicações poderão ter até 777 caracteres, transmissões ao vivo e o compartilhamento de vídeos de até três minutos.

Para o pesquisador de tecnologias de comunicação e cultura digital, Bernardo Queiroz,  redes de “nicho” como o Gettr não são novidade. “Outras plataformas já faziam isso, como o Reddit e o 4chan. Sempre houve essa reunião de pessoas sectárizadas, isso não é novidade”.

A diferença, segundo ele, é o fato de esta rede ter recursos financeiros e um enorme potencial lucrativo. “Redes assim estão sendo criadas pela existência de um mercado. Não estão fazendo isso puramente por questões ideológicas, estamos falando de muito dinheiro envolvido.”

Embora o aplicativo tenha como público-alvo os conservadores, comumente apoiadores de Trump e com retórica anti-China, a rede recebeu financiamento de Guo Wengui, um bilionário chinês conhecido por apoiar redes e sites de desinformação, que envolvem conspirações eleitorais do QAnon e notícias falsas sobre vacinação contra a Covid nos Estados Unidos.

Bolsonaro marca presença

Quatro dias após o lançamento do aplicativo, o presidente Jair Bolsonaro criou um perfil na rede social , ganhou um selo de verificação e já conta com mais de 100 mil seguidores. O conteúdo, por enquanto, reproduz as publicações do presidente no Twitter.

Flávio Bolsonaro, o zero um, marca presença na rede desde o lançamento oficial e mantém fixado no perfil do Twitter um convite para que seus seguidores também criem perfil na “rede social de Trump”. Outros deputados e senadores apoiadores do governo, como Carla Zambelli e Carlos Jordy, também aderiram ao GETTR.

O aplicativo mantém nota 4,4 e conta com mais de 14 mil avaliações positivas na Play Store brasileira, sendo exibido como 13° resultado na lista de redes sociais em destaque.

Entre os apontamentos encontrados na avaliação do aplicativo, está a solicitação para “liberar compartilhamento de áudio e publicações direto no WhatsApp”, ferramenta disponibilizada pelas outras redes e que foi peça chave na difusão de fakenews durante a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018.

Riscos

O Gettr foi hackeado já no dia de lançamento. Segundo o criador, “o problema foi detectado e selado em questão de minutos” e o hacker apenas conseguiu alterar alguns nomes de usuários.

Na última terça-feira 6, uma nova brecha na segurança permitiu que fossem coletados dados de quase 80 mil usuários, incluindo políticos bolsonaristas e apoiadores do governo brasileiro cadastrados na rede. Foi possível extrair nomes reais, nomes de usuários, data de nascimento e endereços de e-mail. Uma base de dados com essas informações foi publicada em diversos fóruns da internet.

Para o pesquisador Bernardo Queiroz, contraditoriamente ao discurso antissistema e em defesa da informação pessoal pregado por estes grupos, geralmente não são muito seguras. “É muito fácil que os dados sejam roubados.”

Do total de 85 mil contas invadidas, mais de 3 mil mencionavam “Bolsonaro”, “Brasil/Brazil” ou nomes de cidades brasileiras. Entre elas, estão as contas do senador Flávio Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli e o ministro Fábio Faria, que tiveram seus dados pessoais expostos.

Não é a primeira vez que o nome de Donald Trump está associado ao vazamento de dados pessoais. A equipe do ex-presidente é acusada de utilizar dados de milhares de perfis no Facebook obtidos pela Cambridge Analytica para manipular informações de campanha durante as eleições de 2016.

Mesmo sendo criada pelos seus ex-assessores, Trump tenta desvencilhar sua imagem da nova rede social enquanto tenta retornar, por meio de ação judicial, ao Twitter. No entanto, Jason afirmou à Fox News que há uma conta oficial inativa esperando pelo ex-presidente.

Tentativa brasileira não emplaca

A rede social BomPerfil, criada em agosto de 2017, têm o mesmo ideal defendido pelos ex-assessores de Trump, um espaço que defende a “liberdade de expressão e a liberdade individual, mas que conta com apenas 100 mil perfis cadastrados.

Com um sistema de “afiliados”, quem trouxer novos usuários para a rede ganha créditos para “patrocinar” publicações, o que aumenta o alcance e engajamento do conteúdo compartilhado.

Idealizada como uma rede que suprisse as necessidades de vendedores do Facebook que constantemente são bloqueados pela divulgação de vendas, o BomPerfil foi lançado prometendo não compartilhar informações de usuários, que podem “compartilhar o que quiserem sem medo de serem bloqueados.

A rede conta com perfis de alguns “influencers” de direita, como Alessandro Loiola, médico que espalhou informações de que as vacinas contra a Covid-19 possam causar danos genéticos e câncer.

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