Política

No Senado, Moro se diz vítima de sensacionalismo do Intercept

Ministro não descartou ter dito trechos vazados e admitiu possibilidade de sair do cargo

Foto: José Cruz/ Agência Brasil
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O ministro da Justiça Sergio Moro participou, nesta quarta-feira 19, de uma audiência de quase nove horas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, para dar sua versão sobre os vazamentos noticiados pelo portal The Intercept Brasil. Todos os parlamentares da Casa receberam o direito a fazer perguntas. Entre dobradinhas com senadores governistas e farpas com opositores, o ex-juiz negou irregularidades em suas trocas de mensagens com procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato.

Em sua defesa, Moro se concentrou em exaltar a Operação no combate à corrupção, denunciar a invasão de criminosos a celulares de autoridades públicas e classificar as divulgações do Intercept como “sensacionalistas”. Segundo sua teoria, o escândalo é orquestrado por hackers que têm o objetivo de anular condenações de corruptos ou obstaculizar processos em andamento.

Sobre o conteúdo vazado, o ministro reforçou que não reconhece a autenticidade das mensagens, porém, não descartou ter mencionado trechos noticiados. “Tem coisas que eventualmente eu possa ter dito. Outras causam estranheza. Mas essas mensagens podem ter sido total ou parcialmente adulteradas”, ponderou. Além disso, afirmou que considera os diálogos “absolutamente corriqueiros”.

Sensacionalismo na pauta

Moro contou com o apoio declarado de boa parcela dos parlamentares, como o senador Marcio Bittar (MDB-AC), Mecias de Jesus (PRB-RR), além dos membros do partido de Bolsonaro, como a senadora Juíza Selma (PSL-MT) e o filho do presidente da República, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Parabenizaram o ministro pela trajetória na Lava Jato e recusaram as especulações de irregularidades nas mensagens veiculadas na imprensa. O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) também manifestou seu apreço por Moro, mas o criticou por ter poupado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) de investigações, segundo mostram os últimos vazamentos do Intercept.

Por outro lado, não faltaram colocações ácidas. Cid Gomes (PDT-CE) propôs uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a quebra de sigilo de comunicações e o suposto conluio entre Moro e o Ministério Público. Além disso, criticou o ex-juiz pela repetição massiva de palavras-chave durante a audiência – a expressão “sensacionalismo” era a preferida de Moro. O nome do pedetista esteve entre os mais comentados no Twitter.

“Se ele fez ou não media training [treinamento para lidar com declarações à imprensa], não sei, mas o fato é que ele trouxe três ou quatro mantras e tem repetido”, disparou Cid Gomes. “Eu dou um doce a quem disser o nome do atual juiz da 13ª Vara de Curitiba. A Operação continua, e ninguém sabe quem é o juiz agora. Isso é prova de que a postura de Moro era de sensacionalismo, de querer aparecer, de se colocar como salvador da pátria”.

Outro embate ocorreu com Jaques Wagner (PT-BA). O petista questionou se a liberação de diálogos entre Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, em 2016, também não teria sido um ato de sensacionalismo do então juiz. Além disso, cobrou que Moro se afaste do Ministério da Justiça, por considerar que, para investigá-lo sobre os vazamentos, a Polícia Federal precisará de independência. Moro respondeu: “Não tenho nenhum apego com o cargo em si. Que se apresente tudo, vamos submeter ao escrutínio público. Se houver alguma irregularidade da minha parte, eu saio”, disse.

O tucano Tasso Jereissati (PSDB-CE) também rechaçou abusos na condução da Operação Lava Jato. “Foi desnecessária a busca e apreensão no apartamento de Lula. Sempre fui oposição ao PT, mas não tem como não ver isso”. Os senadores Humberto Costa (PT-PE), Paulo Rocha (PT-PA), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL) também passaram por indisposições com o ministro em seus questionamentos.

O próximo a ser ouvido no Senado deve ser o procurador Deltan Dallagnol, conforme anúncio do Senado na terça-feira 18. O requerimento é de autoria do senador Angelo Coronel (PSD-BA), que tem o objetivo de apurar “suposta e indevida coordenação de esforços” na força-tarefa.

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