Política
No Roda Viva, Deltan acena a pastores, poupa Bolsonaro e ataca Lula
Ex-deputado também insistiu na afirmação de que os ministros do TSE teriam cassado seu mandato por ‘interesses pessoais’


O ex-deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR) tornou a mentir para defender sua posição contrária ao PL das Fake News. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido na noite desta segunda-feira 29, ele insistiu na posição de que versículos da bíblia seriam censurados em caso de aprovação da medida. Não há no texto da lei qualquer previsão para tal ação.
“As plataformas se não quiserem tomar uma grande multa do governo, elas vão derrubar tudo quanto é xingamento, tudo que tenha determinadas palavras, isso vai restringir o alcance, isso é restringir o alcance, por exemplo, de versículos bíblicos que falam que, dentro do lar, existe uma liderança do homem sobre a mulher”, mentiu Deltan.
“De novo, não importa ou não se eu concordo com isso, importa que isso está na bíblia e feriria a cláusula específica de igualdade de gênero”, reforçou o ex-deputado logo em seguida.
Além de mentirosa, a afirmação feita por Deltan foi classificada como machista por apresentadoras que estavam na bancada do programa. Vera Magalhães, jornalista que comanda o quadro na TV Cultura, também avaliou a resposta do ex-deputado como ‘um triplo twist carpado interpretativo’.
Daniela Lima, jornalista da CNN Brasil, também repudiou as declarações após o fim do programa:
“É triste o país em que uma figura pública se sente à vontade para defender a submissão da mulher ao homem diante de tantos índices crescentes de feminicídio”, escreveu em uma rede social.
É triste o país em q uma figura pública se sente à vontade para defender a submissão da mulher ao homem diante de tantos índices crescentes de feminicídio. “Não importa se vc concorda ou não. Tá na Bíblia”. Eu clamo pelos evangélicos que leram mais o novo do q o velho testamento.
— Daniela Lima (@DanielaLima_) May 30, 2023
Aceno a Bolsonaro e ataque a Lula
O ex-deputado também fez um forte aceno a Jair Bolsonaro (PL) ao afirmar que ele ‘não pensaria duas vezes’ em defender o ex-presidente contra Lula (PT). Ao justificar sua posição, disse que Bolsonaro nunca teria encontrado ditadores enquanto esteve no poder.
A posição, porém, ignora as múltiplas agendas com o príncipe saudita Mohammad bin Salman – de quem recebeu as joias – e com Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria. Os dois integram a lista de ‘predadores da liberdade de expressão’ da organização Repórteres Sem Fronteiras. Salman estaria envolvido também na morte atroz do jornalista saudita Jamal Khashoggi. A gestão de Orbán, por sua vez, fez com que a Hungria deixasse de ser uma democracia plena, segundo resolução do Parlamento Europeu. O documento diz que o país se tornou ‘um regime híbrido de autocracia eleitoral’.
Novo ataque ao TSE
Na entrevista, Deltan tornou a fazer ataques aos ministros do Tribunal Superior Eleitoral. Novamente, ele acusou os integrantes da Corte de terem ‘interesses pessoais’ ao decidirem pela sua cassação. Ele alega que sua cassação teria sido ‘fora da lei’.
“Um ministro chega ao tribunal superior não só porque é indicado pelo presidente, mas porque é apoiado por uma série de partidos e figurões da nossa República. […] Essas pessoas querem vingança, o sistema quer vingança”, disse.
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