Longe da imagem pacifista e apaziguadora que mantinha na campanha de 2010, a presidenciável Marina Silva (PSB) decidiu confrontar seus adversários diretamente. Tanto ao se dirigir a outros candidatos quanto ao responder a perguntas, Marina não poupou palavras duras para desqualificar o discurso de seus rivais no debate do Grupo Bandeirantes, em São Paulo, no dia 26.
Ao ser questionada pelo candidato Levy Fidelix (PRTB) se governará a favor do agronegócio, por manter relações próximas com o empresário Guilherme Leal, candidato a vice em sua chapa no pleito de 2010, e com Neca Setúbal, Marina criticou a visão de mundo de seu rival. “Não tenho preconceito contra a condição social de nenhuma pessoa. Quero combater essa visão de apartar o Brasil, de que temos de combater as elites. O Guilherme faz parte da elite, mas os ianomâmi também. A Neca é parte da elite, mas o Chico Mendes também é parte da elite”, disse. “Essa visão tacanha de ter de combater a elite deve ser combatida. Eu quero governar unindo o Brasil, e não apartando o Brasil. Pessoas honestas e competentes temos em todos os lugares.”
Anteriormente, ao se dirigir à presidenta Dilma Rousseff, Marina observou que a série de pactos para atender às demandas da população que saiu às ruas em junho deu errado e perguntou o porquê. Dilma rebatou, lembrando que apenas o projeto de reforma política não foi aprovado no Congresso. “O primeiro pacto foi pela educação, por esse pacto nos comprometemos a aprovar no Congresso uma lei que destinava 75% dos royalties e do fundo social do pré-sal para a educação, nós aprovamos essa lei, que é a base para um grande programa para o Ensino Básico. Também dissemos que iríamos fazer o Mais Médicos, que hoje é uma realidade. Fizemos o compromisso com a estabilidade econômica, e cumprimos: a inflação está sistematicamente sendo reduzida”, disse, ao ressaltar que o governo está investindo 143 bilhões de reais em transporte público.
Marina criticou o modo como Dilma descrevia a realidade brasileira e disse: “Esse Brasil colorido e cinematográfico de que a presidenta fala não existe. Há descrença na política. Não existe mudança política, que virou troca de ministros e de tempo de televisão. Nós vivemos uma situação de penúria na saúde e na educação”.
Marina criticou ainda o estilo de governar de Dilma, dizendo que o Brasil não precisa de um “gerente”. “O presidente Lula não é um gerente, teve uma visão estratégica de que deveria reduzir a pobreza. O presidente Fernando Henrique não é um gerente. Viu que era preciso estabilidade econômica”, afirmou. “Um dos graves problemas da gerência é ver o Estado refém, um toma-la-dá-cá de favores.”
No centro do debate, que ocorre depois da primeira pesquisa que mostra o crescimento de Marina e a queda de Aécio Neves (PSDB), Marina disse não haver problema de incoerência ao ser questionada pelo candidato Aécio sobre o fato de pedir apoio de quadros do PT ou do PSDB em um possível governo. “Me sinto inteiramente coerente. Defender a nova política é combater a verdadeira polarização, que há 20 anos é o verdadeiro atraso para o País. Quando me referi ao senador Serra, eu dizia que tenho certeza de que se ganho a Presidência, ele não irá pelo caminho mesquinho, de não reconhecer os feitos, como o Bolsa Família que o PSDB tem muita dificuldade em reconhecer”, disse Marina.
No encontro que reuniu, além de Dilma Rousseff, Aécio Neves, Marina Silva e Levy Fidelix, os candidatos Pastor Everaldo (PSC), Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV), Dilma foi pressionada por adversários em relação à política econômica de seu governo. Ao ser acusada por Aécio de ter “surfado” nos frutos do governo Fernando Henrique Cardoso, ela rebateu. “Em três anos e oito meses, nós já criamos 5 milhões e 800 mil empregos, mais do que vocês criaram em oito anos. Os números não podem ser enganosos”, retrucou. Aécio criticou a resposta de Dilma ao dizer que ela “perdeu capacidade de inspirar confiança e credibilidade, com intervencionismo absurdo em setores essenciais”. “A verdade é que o governo do PSDB quebrou o Brasil três vezes”, ao se referir à busca pela ajuda do FMI, a proposta do aumento tarifário e a diminuição salarial. “Os números não podem ser enganosos. O fato é que o governo PSDB cortou salários e deu tarifaços.”
O cerco a Dilma em relação à economia continuou no debate com a pergunta do jornalista Boris Casoy, do Grupo Bandeirantes, que lembrou o baixo crescimento e a inflação alta. “Não se pode negar que o mundo vive uma das maiores crises internacionais. E nós recusamos a velha receita de colocar a conta pro trabalhador pagar, desempregar, arrochar salários, aumentar impostos e tarifas. Ao mesmo tempo, mantivemos o nível de empregos, nós mantivemos a inflação sob controle”, retrucou.
Rival pelo PSDB, Aécio Neves questionou Dilma sobre a crise na Petrobras, ao lembrar que investigações da Polícia Federal levaram à prisão de “um colega” de Dilma. “Em três anos, estamos conseguindo tirar 540 mil barris por dia. A Petrobras é uma empresa que aumentou de valor. Nós iremos produzir, em 2018, 3,8 milhões de barris por dia”, afirmou. “Quem investiga a Petrobras é o órgão do governo federal. Nós nunca escondemos debaixo do tapete os malfeitos, os crimes de corrupção.”
Antes de fazer a primeira intervenção no debate, a candidata pelo PSOL, Luciana Genro, se disse “chateada” por ninguém ter lhe perguntado nada até então. Mais tarde, afirmou enfaticamente que faria a demarcação de terras indígenas de forma imediata, caso fosse eleita. “É preciso fazer uma reforma agrária, o que é também uma ótima maneira de controlar a inflação. A atual política de juros só favorece as 5 mil famílias mais ricas do País”, acrescentou.