Política

PT em xeque nas três principais cidades do Nordeste

Em Recife, o partido perdeu no 1º turno. Já em Fortaleza e Salvador, a disputa deve ser apertada e tensa até 28 de outubro

O novato Geraldo Júlio é líder em Recife Foto: Clemilson Campos / JC Imagem / AE
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O primeiro turno das eleições municipais mostrou o PT em situação delicada nas três principais capitais do Nordeste (Salvador, Fortaleza e Recife). Nas duas primeiras, conseguiu avançar ao segundo turno, mas sem abrir distância para a oposição. Na capital pernambucana, a maior derrota do partido em 2012 já está consolidada: Geraldo Julio (PSB), candidato do governador Eduardo Campos, venceu ainda no primeiro turno, em grande parte pelas confusões internas dos petistas.

Julio, secretário estadual de desenvolvimento econômico – desconhecido até o início da campanha-, foi escolhido por 51,15% dos recifenses para comandar a cidade. Em segundo, Daniel Coelho (PSDB) surpreendeu com 27,65% e o senador Humberto Costa (PT), apoiado pelo ex-presidente Lula, alcançou um resultado pífio (17,43%).

A vitória do pessebista consolida ainda mais o poder de Campos no estado. Evidencia também o custo da candidatura de Humberto Costa, imposto pela Executiva Nacional após o atual prefeito João da Costa vencer as prévias internas do partido, contra Maurício Rands. “O racha deixou grandes arestas e cicatrizes que sangraram na campanha. É como se o partido tivesse se dividido em dois: um PT da situação e outro da oposição, criticando a gestão municipal”, diz Michel Zaidan Filho, doutor em história social e especialista em política Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O “autoataque” petista minou a esperada polarização PT-PSB, proporcionando a subida de Daniel Coelho (PSDB), tucano vindo do PV, e dispersando qualquer chance de um segundo turno com a presença de Costa. “Grande parte dos votos dele vieram de uma parcela cativa do PT, mesmo sendo uma força de oposição ao partido”, explica Adriano Oliveira dos Santos, doutor em Ciência Política e especialista em eleições da (UFPE).

Ao lado do tucano estavam o elemento da novidade, um grau de rejeição pequeno e uma campanha agressiva contra PT e PSB. “Isso atraiu muitos votos daqueles que não queriam Costa e Júlio. Seu desempenho foi supreendente para quem nunca havia disputado cargos majoritários, ajudando a eleger diversos vereadores de sua coligação que farão oposição ao governo”, completa Zaidan.

Mas o fator principal para a vitória do peessebista veio do apoio de Campos, um fenômeno de popularidade no nordeste. “O governo do estado veio como um rolo compressor para eleger seu candidato com propagandas casadas, uma aliança ampla para dar mais tempo de televisão e conseguir eleger vereadores da base.” Junte-se a isso, a baixa rejeição de Julio e o fato de nunca ter disputado um cargo eletivo.

A escolha de Julio, para Zaidan, foi uma estratégia pensada com antecedência pelo governador a fim de romper a aliança com o PT. E a vitória, diz, traz um “amadurecimento” do partido para um novo projeto: o Palácio do Planalto. “Mostra a consolidação de poder em longo prazo em Pernambuco, porque faltam elementos políticos capazes de competir com Eduardo Campos, faltam atores para se credenciar e ter essa força política. O que pode empurrá-lo à disputa pela presidência”, completa Santos.

Em Fortaleza, PSB e PT devem atacar um ao outro

A disputa em Fortaleza também foi marcada pelo rompimento entre PT e PSB, devido a um embate enre a prefeita petista Luizianne Lins e o governador socialista Cid Gomes. Na capital cearense, porém,  os candidatos de ambos os partidos se enfrentam no segundo turno: Elmano de Freitas (PT) e Roberto Claudio (PSB) tiveram, respectivamente, 25,44% e 23,32% dos votos.

O novo embate, em 28 de outubro, deve ser marcado pelo fim de um pacto de não agressão entre os partidos e o início dos ataques. “O PSB já não esconde mais a ideia de não querer ser mais um adjunto, um acessório do PT. Quer deter a iniciativa da direção politica”, afirma Zaidan.

E os apoios para o segundo turno podem levar as consequências da disputa para o âmbito nacional. “Dilma Rousseff sabe que precisa do PSB para governar, por isso, Lula e Dilma não devem ir a  Fortaleza apoiar Elmano”, acredita Santos. Por outro lado, Claudio terá ao seu lado Cid e Ciro Gomes, os principais nomes do PSB no Ceará.

A aliança entre os partidos havia funcionado bem nas últimas disputas. Luizianne foi reeleita prefeita de Fortaleza no primeiro turno e, dois anos depois, foi a vez de Cid Gomes alcançar exito. Mas, em 2012, a prefeita não aceitou negociar quem seria o candidato, com apoio da cúpula petista, e lançou seu secretário de Educação, Elmano. O PSB, então, optou por Roberto Claudio, presidente da Assembleia Legislativa cearense.

Salvador, o clássico duelo entre o carlismo contra o petismo

A decisão na capital baiana foi uma das mais equilibradas do País.  ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT) vão para o segundo turno separados por menos de um ponto porcentual. O demista conseguiu 40,17% dos votos válidos, contra 39,73% do petista. Essa disputa representa, no entanto, uma oposição maior que a existente entre dois partidos de ideologias opostas. Está em jogo um duelo entre dois fenômenos políticos: o carlismo e o petismo.

“Desde que o carlismo perdeu força na Bahia, o plano de retomada do poder no estado passa pela capital. Esse é o objetivo de ACM que o governador Jacques Wagner tenta combater”, indica Zaidan.

O choque destas correntes políticas acirrou os ânimos no primeiro turno. No horário eleitoral, o PT acusou ACM Neto de ser, como o seu partido, contrário à política de cotas para negros nas universidades públicas e levou ao ar o vídeo em que o deputado ameaçava “dar uma surra” no ex-presidente Lula.

ACM Neto negou ser contra as cotas (a maioria da população na Bahia se declara negra) e tentou explicar o contexto da frase contra Lula. Disse ainda que Pelegrino e Wagner, ambos do PT, pertencem ao “time do mensalão”. Os três casos acabaram na Justiça, com processos e recursos de ambos os lados. Um cenário de tensões que deve persistir no segundo turno, de acordo com Santos. “ACM vai tender a tese de que ninguém cuida de Salvador e trazer o desgaste do de Wagner para a disputa. Por outro lado, o PT usar as declarões de ACM de que daria uma surra em Lula, que é adorado no nordeste.”

Nesta disputa, atrair o apoio do PMDB pode ser fundamental para conseguir a vitória. Mas ambos os lados possuem caminhos difíceis para tentar abocanhar os 9,43% de votos obtidos por Mario Kertesz. Contra o PT, pesa um motivo sentimental. O ex-ministro Geddel Vieira Lima, chefe do PMDB baiano, guarda rancor pelo fato de Lula e Dilma terem apoiado abertamente a reeleição de Wagner em 2010, contra ele. Como integrante da base aliada federal, Geddel esperava mais isonomia. A mágoa foi reforçada em 2012, quando Lula e Dilma manifestaram abertamente apoio a Pelegrino. ACM Neto, por sua vez, acredita que o presidente do DEM, José Carlos Aleluia, será capaz de atrair para sua candidatura o apoio do peemedebista.

Com reportagem de Gabriel Bonis, José Antônio Lima e Piero Locatelli.

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