‘Não sei se ele seguiria no cargo em um segundo governo’, diz Flávio Bolsonaro sobre Paulo Guedes

Senador subscreveu proposta apelidada pela equipe econômica de "PEC Kamikaze", com impacto de R$ 100 bilhões; segundo ele, prosseguimento depende da ‘disposição’ do ministro

O ministro da Economia, Paulo Guedes. Foto: Evaristo Sá/AFP

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Coordenador do comitê de campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro, Flavio Bolsonaro (PL-RJ) não garante a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, num eventual segundo mandato de seu pai. O clã Bolsonaro e o chefe da equipe econômica protagonizaram episódios de divergências públicas. No mais recente deles, o próprio Flávio apoiou uma proposta de emenda à constituição que, se aprovada, concederá um auxílio a caminhoneiros e reduzirá impostos, benesses com potencial de gerar impacto de R$ 100 bilhões ao erário. O projeto foi apelidado pela equipe de Guedes de ‘PEC Kamikaze’, dado o estrago que pode causar nos cofres públicos.

O senador elogiou “as orientações” de Guedes na política econômica, mas deixou claro que há um cardápio eleitoral que o ministro precisará seguir. Em um eventual segundo mandato, não há certeza da continuidade:

– Ele (Guedes) tem o senso de responsabilidade de buscar o meio-termo para que a política econômica não degringole o Brasil de vez, a médio e longo prazo, mas sabe da importância, em ano eleitoral, de ter um remédio mais amargo para segurar a inflação, reduzir o preço do dólar e gerar mais emprego. Eu não sei se ele seguiria no cargo em um segundo governo. É cansativo, depende da disposição dele. Se ele quiser continuar dando sua contribuição, o presidente Bolsonaro vai indiscutivelmente topar na hora, mas não sabemos os planos pessoais dele.

Flávio acredita que os debates sobre a eficiência das políticas econômicas do governo, capitaneadas por Guedes, tomarão o espaço ocupado pelas pautas de costumes durante as eleições de 2018. Frequentemente, a gestão do ministro é criticada por não ter entregado as prometidas privatizações de estatais, pela dificuldade de crescimento e pelo aumento do desemprego.

– A pauta de costumes terá um debate maior no segundo turno. Agora há um diferencial: temos que mostrar o que nós fizemos, e isso tomará mais espaço nas nossas bandeiras de campanha. Mas a pauta de costume será sempre um dos pilares da campanha. Questões como aborto, drogas e armas virão à tona naturalmente porque o eleitor ele leva isso em consideração na hora de escolher seu candidato – afirmou Flávio.

Em conversas reservadas, Guedes já disse que, em caso de vitória de Bolsonaro em 2022, ele não descarta deixar o governo ou mesmo migrar de pasta. Os desgastes provocados por embates com o chefe e colegas do Executivo são crescentes.


Recentemente, o presidente transferiu da Economia para a Casa Civil, comandada por Ciro Nogueira, um expoente do centrão, atribuições sobre a execução do orçamento. Desde então, determinadas ações de abertura, remanejamento ou corte de despesas do dia a dia dos ministérios dependem do aval da pasta de Ciro.

Em entrevista ao GLOBO, duas semanas atrás, o chefe da Casa Civil disse que passou a ser “para-raio do Posto Ipiranga”, ao justificar a nova atribuição. De acordo com Ciro, a mudança se deu para preservar Guedes, apelidado de “Posto Ipiranga” por Bolsonaro, em referência à propaganda que pregava que no posto em questão encontrava-se de tudo e podia-se sanar qualquer dúvida.

– Essa situação foi criada em comum acordo com o ministro Paulo Guedes. Achamos que era muito melhor tanto para ele quanto para a Casa Civil. Levamos esse pleito ao presidente. O que acontece é que o Paulo Guedes sempre ficava encarregado de dar o “não” para alguns pleitos dos ministérios. Além de amortecedor, agora eu sou um para-raio do Posto Ipiranga. Divido com Guedes a responsabilidade de dizer o “não” e o “sim” – afirmou Ciro na ocasião.

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