Política

‘Não penso em 2014’, diz Eduardo Campos

Presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos diz que continuará na base de Dilma e que não está interessado em discutir a sucessão agora

"O PSB sempre foi da base aliada do governo, mas é legítimo querer crescer", diz Eduardo Campos.
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As dúvidas sobre 2014 perseguem o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Em seu segundo mandato e bem avaliado pela população, o presidente nacional do PSB é sempre apresentado como presidenciável nas próximas disputas. Mais ainda agora, com o seu partido em ascensão e após as rusgas com o PT em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte. Em defesa das candidaturas socialistas, Campos é taxativo: “o PSB nunca foi satélite ou sublegenda do PT”. Mesmo assim, garante que a aliança nacional com o governo Dilma Rousseff será mantida e que a legenda deverá apoiá-la na reeleição. “Mas antecipar esse debate é um desserviço”. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

CartaCapital: O que explica o crescimento do PSB?

Eduardo Campos: O partido manteve-se coerente, em um campo político bem definido, a defender teses progressistas e um pensamento que busca construir justiça na vida brasileira, equilíbrio social. Quando tivemos a oportunidade de governar cidades e estados, procuramos fazer isso com grande esforço para imprimir uma marca: a capacidade de ouvir a população, de envolver a sociedade em um processo de planejamento e nas decisões. E participamos ativamente de importantes transformações pelas quais o Brasil passou.

CC: Quais transformações?

EC: A conquista da democracia, a reinstitucionalização do País, a estabilidade econômica. Esse último foi um passo dado por um governo que nós não participamos, estávamos na oposição, mas foi algo importante por reorganizar alguns fundamentos, como o próprio sistema financeiro. Mas muitos problemas ficaram. Aí vem o presidente Lula e coloca na pauta do desenvolvimento nacional a questão da desigualdade – que é um grande freio para o desenvolvimento brasileiro, sobretudo, para regiões mais pobres, onde a desigualdade sempre barrou ciclos de expansão econômica com inclusão. E consegue conduzir o País com responsabilidade e entregá-lo a nossa presidenta Dilma, que tem feito um enorme esforço para blindar o País dos efeitos de uma severa crise internacional. Participamos desse esforço brasileiro e desse projeto sem olhar miúdo, sem olhar pequeno. E isso deu ao PSB um carimbo, um certificado, de um partido que tem responsabilidade, que tem a cultura do fazer como uma marca muito destacada. O trabalho foi reconhecido. Em 2008, saltamos para a casa dos 300 prefeitos. Em 2010, fizemos seis governadores, ampliamos a bancada no Congresso.

CC: O PSB deve eleger quantos prefeitos neste ano?

Eduardo Campos: Nós disputamos em mais de mil municípios e devemos eleger mais de 400 prefeitos, algo entre 400 e 500. Na segunda-feira 8, saberemos exatamente qual é esse número.

CC: O PSB apoia Dilma, mas rompeu com o PT em várias capitais. A relação entre os partidos não ficou abalada?

Eduardo Campos: Vejo isso com muita naturalidade, até porque o PSB nunca foi satélite ou sublegenda do PT. Sempre tivemos autonomia, uma visão diferenciada sobre muitos pontos e uma capacidade política de fazer alianças com o PT. Estivemos com Lula em 1989, 1994 e 1998. Lançamos candidato próprio em 2002, mas voltamos a apoiar Lula no segundo turno. Desde então, o PSB está na base aliada. Temos com o presidente Lula uma relação de muito respeito. Caminhamos juntos e isso fez bem a muitos municípios e estados. Mas é legítimo querer crescer. Aliás, isso é importante para o próprio PT. Se eles querem o crescimento do campo político progressista no Brasil, que o PSB cresça!

CC: É melhor o PSB do que um DEM. Essa é a lógica?

Eduardo Campos: Sim, mas tem gente que pensa só no aspecto eleitoral, na rinha política. Estamos pensando o que podemos fazer para que o País possa retomar o crescimento econômico com inclusão, desenvolver-se mais, como podemos ajudar a presidenta Dilma a dar conta de sua missão. Não queremos “eleitoralizar” a política. Acabar uma eleição agora e já estar falando em uma eleição de 2014, isso é um desserviço ao País.

CC: Por que o PSB rompeu a aliança com o PT em Recife?

EC: O PSB é o partido que mais apóia o PT nas eleições municipais. Mas temos o direito de lançar candidatos onde o partido tem força, plataforma e propostas. Fizemos isso em muitas cidades. Apoiamos o PT mais do que eles nos apoiam. No Recife, fizemos um enorme esforço para manter a Frente Popular unida. Mas o PT brigou durante 4 anos. Elegeu um prefeito e passou a combatê-lo. Nem a oposição combatia tanto o João da Costa como o próprio PT. Na reta final dos prazos eleitorais, ele não estava bem nas pesquisas. Surge então uma prévia no meio da rua, sangrenta. A oposição estava preparada para levar a eleição para o segundo turno e ganhar a eleição. Pedimos calma e paciência a todos os aliados. Mas seis partidos da frente deixaram a prefeitura, lançaram uma proposta de uma candidatura alternativa. O PT preferiu decidir de São Paulo para cá. Mas a solução não foi boa. Tanto que 14 legendas foram em busca de uma candidatura do PSB. Todos esses partidos são da base de sustentação da presidenta Dilma, mas a nossa opinião não foi levada em conta. Tivemos de entrar na disputa.

CC: No horário eleitoral, PT e PSB passaram trocar duras acusações.

EC: Não fizemos nenhum tipo de agressão ou enfrentamento. Nem pudemos dizer que todo o PT encampou esse debate. Uma parte dos petistas, uma parte da campanha, enveredou por esse caminho, o que só desgastou a candidatura do PT.

CC: E em Fortaleza? O senhor chegou a conversar com o governador Cid Gomes sobre o rompimento com o PT?

EC: Claro, o governador Cid Gomes queria só dialogar sobre a escolha do candidato. Você não pode imaginar que uma força política, como o PSB tem efetivamente no Ceará, vai apoiar uma candidatura sem discutir qual é o melhor nome para lançar. O PT faria isso em relação ao PSB? Cid queria ter o direito de opinar sobre a escolha do candidato. Sem consenso, o PSB lançou um nome próprio. Até porque essa tradição o PT sempre teve. Cresceu inclusive com essa política de lançar candidato em todo o canto, inclusive quando não tinha chance alguma. Não é possível que, agora, o PT não respeite a decisão de nosso partido.

CC: No caso de Belo Horizonte, há um aspecto um pouco diferente. Havia a aliança entre PT, PSDB e PSB, mas os petistas acusam Márcio Lacerda de não cumprir um acordo e optar pelos tucanos. O senhor participou dessa discussão?

EC: Não, foi uma decisão local. Até porque todas as conversas aconteceram em Belo Horizonte, direto com o prefeito. Aí não dá certo e a culpa recai sobre a direção nacional do PSB? Não, eu apenas respeitei a decisão de Lacerda. Ele tem uma administração bem avaliada, acredito que ele vá se reeleger e vamos torcer para que ele faça um trabalho ainda melhor.

CC: Houve pressão por parte do senador Aécio Neves (PSDB) para romper esse acordo com o PT?

EC: Nunca falei com Aécio sobre esse assunto. Até porque não participei da construção dessa aliança em 2008. A estratégia foi costurada pelo Aécio e o Fernando Pimentel. Lacerda havia trabalhado com Ciro Gomes, era secretário de Aécio, e surgiu a ideia daquela união. Após firmarem a aliança é que eles me procuraram.  E estava tudo de pé até 90 dias atrás. Mas isso é coisa do passado. Fato novo é o que povo vai decidir.

CC: O senhor acha que essas rixas locais podem de alguma forma interferir na relação do PSB com o governo Dilma?

EC: Sinceramente, não acredito. Estamos vivendo um momento delicado da vida internacional. A crise não dá sinais de retroceder, temos cenários bastante complexos daqui pra frente, o Brasil tem que atravessar tudo isso. Temos de ajudar Dilma na governabilidade. Não precisamos de mais problemas. Vamos buscar solução para economia, para dar ritmo às obras no País, garantir recursos para que esses novos prefeitos possam trabalhar.

A receita está caindo muito nos municípios e nos estados. Essa é a pauta real, que vamos sempre nos guiar, e não pela falsa pauta que muitas vezes se tenta imprimir ao debate nacional.

CC: Como é a sua relação com o Aécio Neves?

EC: No passado, tivemos papéis assemelhados. Ele acompanhava o Tancredo Neves e eu, Miguel Arraes. Nós nos conhecemos na campanha das Diretas Já. Mais adiante, nos reencontramos como parlamentares – ele como líder do PSDB, na base do governo FHC, e eu como líder do PSB, na oposição. Depois ele foi ser governador de Minas Gerais. Na primeira disputa, ele não teve o nosso apoio, mas depois levou o PSB para sua base de sustentação. Fez um governo reconhecido em Minas e confiou no PSB para fechar a aliança em torno de Márcio Lacerda. Sim, estamos politicamente em campos distintos. Durante oito anos, apoiei o governo Lula enquanto ele era oposição. Continua assim com a Dilma. Mas somos civilizados, temos respeito um pelo outro. Dialogamos sempre que o interesse do Brasil está em jogo.

CC: Sempre há rumores quando vocês se encontram porque ambos são nomes cotados para disputar a Presidência no futuro.

EC: Não estou pensando em eleição de 2014 e muito menos em dobradinha, estou pensando no Brasil. E quem pensar no Brasil, terminada as eleições municipais, vai ajudar a presidenta Dilma, que é uma brasileira correta, séria, a fazer um bom trabalho pelo País. Esse é que é o debate. Mas ninguém pode interditar a minha capacidade de dialogar com pessoas do PSDB, com o próprio Aécio. Podemos ter divergências políticas, mas não podemos reduzir o Brasil a esse maniqueísmo. Do lado de cá está o bem, e o lado do mau está ali no PSDB.

CC: Essa polarização entre PT e PSDB é um problema?

EC: Parece-me claro que isso existe mais no debate da mídia do que na cabeça das pessoas. Essa dicotomia, além de ser falsa, está vencida. O que existe é uma nova pauta sendo construída no País e quem não entender que existe uma nova pauta em construção vai se surpreender com os resultados eleitorais.

CC: Qual exatamente é essa pauta?

EC: A retomada do crescimento econômico, da sustentabilidade, da ética na política, da inovação, da economia criativa, de redução das desigualdades regionais, de como o Brasil vai se inserir no pós-crise.  Após o crash de 1929, o País soube sair de uma economia agrícola e se industrializar, formar uma classe média urbana, criar um operariado que organizou os sindicatos, que embalou uma nova pauta até 1964. Essa crise iniciada em 2008 está forçando as grandes nações a construírem uma nova pauta, os conceitos e valores do novo ciclo de crescimento e desenvolvimento econômico que o mundo vai buscar. Quem não pensar dessa forma e ficar na eleiçãozinha dali, na briguinha de acolá, na rivalidade de ontem, vai para o estaleiro rápido.

CC: A mídia noticiou que Jarbas Vasconcelos articula um grupo de insatisfeitos no PMDB com o governo Dilma para firmar uma aliança com o senhor.

EC: Ninguém me comunicou sobre isso, nem o próprio Jarbas. Não fui procurado por ninguém do PMDB, nenhuma liderança para tratar desse assunto. Se eu tivesse sido procurado, eu falaria. Até porque eu não me nego a conversar com pessoas do PMDB, com quem eu encontro, com quem eu convivi na Câmara Federal, na luta política. Mas eu não fui procurado por ninguém.

CC: O senhor não gosta de falar de 2014, mas o PSB está crescendo e muitos o apontam como possível presidenciável…

EC: Precisamos chegar logo em 2014. Respondo a essa pergunta todos os dias, mas ninguém dá ouvidos. Nossa posição é de ajudar a presidenta Dilma a fazer um bom governo e a disputar outro mandato. Mas antecipar esse debate, em qualquer direção, é um desserviço ao País. A gente tem que cuidar do País, do mundo real, que não está preocupado com 2014 ainda.

CC: Qual é a estratégia do PSB daqui pra frente?

EC: Seguir crescendo com qualidade, interpretando exatamente esse sonho do povo brasileiro em construir um País com mais equilíbrio social e dinamismo econômico, com respeito aos conceitos de sustentabilidade. Em outras palavras, fazer do século XXI o século do Brasil, para que o País possa ajudar o mundo a ficar cada vez mais multipolar, com mais paz, com respeito aos direitos humanos. Esse é o papel de um partido socialista, esse é o papel do PSB. Vamos fazer isso com muita tranqüilidade e firmeza porque nós descobrimos um caminho seguro de crescimento. É ter um partido com unidade, propostas, bons quadros, que, quando governa, mantém o discurso. E alia duas coisas que pareciam impossíveis de andarem juntas na política brasileira: de um lado, envolver o povo no processo de planejamento e decisão, de outro, saber gerir e buscar a competência no serviço público.

As dúvidas sobre 2014 perseguem o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Em seu segundo mandato e bem avaliado pela população, o presidente nacional do PSB é sempre apresentado como presidenciável nas próximas disputas. Mais ainda agora, com o seu partido em ascensão e após as rusgas com o PT em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte. Em defesa das candidaturas socialistas, Campos é taxativo: “o PSB nunca foi satélite ou sublegenda do PT”. Mesmo assim, garante que a aliança nacional com o governo Dilma Rousseff será mantida e que a legenda deverá apoiá-la na reeleição. “Mas antecipar esse debate é um desserviço”. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

CartaCapital: O que explica o crescimento do PSB?

Eduardo Campos: O partido manteve-se coerente, em um campo político bem definido, a defender teses progressistas e um pensamento que busca construir justiça na vida brasileira, equilíbrio social. Quando tivemos a oportunidade de governar cidades e estados, procuramos fazer isso com grande esforço para imprimir uma marca: a capacidade de ouvir a população, de envolver a sociedade em um processo de planejamento e nas decisões. E participamos ativamente de importantes transformações pelas quais o Brasil passou.

CC: Quais transformações?

EC: A conquista da democracia, a reinstitucionalização do País, a estabilidade econômica. Esse último foi um passo dado por um governo que nós não participamos, estávamos na oposição, mas foi algo importante por reorganizar alguns fundamentos, como o próprio sistema financeiro. Mas muitos problemas ficaram. Aí vem o presidente Lula e coloca na pauta do desenvolvimento nacional a questão da desigualdade – que é um grande freio para o desenvolvimento brasileiro, sobretudo, para regiões mais pobres, onde a desigualdade sempre barrou ciclos de expansão econômica com inclusão. E consegue conduzir o País com responsabilidade e entregá-lo a nossa presidenta Dilma, que tem feito um enorme esforço para blindar o País dos efeitos de uma severa crise internacional. Participamos desse esforço brasileiro e desse projeto sem olhar miúdo, sem olhar pequeno. E isso deu ao PSB um carimbo, um certificado, de um partido que tem responsabilidade, que tem a cultura do fazer como uma marca muito destacada. O trabalho foi reconhecido. Em 2008, saltamos para a casa dos 300 prefeitos. Em 2010, fizemos seis governadores, ampliamos a bancada no Congresso.

CC: O PSB deve eleger quantos prefeitos neste ano?

Eduardo Campos: Nós disputamos em mais de mil municípios e devemos eleger mais de 400 prefeitos, algo entre 400 e 500. Na segunda-feira 8, saberemos exatamente qual é esse número.

CC: O PSB apoia Dilma, mas rompeu com o PT em várias capitais. A relação entre os partidos não ficou abalada?

Eduardo Campos: Vejo isso com muita naturalidade, até porque o PSB nunca foi satélite ou sublegenda do PT. Sempre tivemos autonomia, uma visão diferenciada sobre muitos pontos e uma capacidade política de fazer alianças com o PT. Estivemos com Lula em 1989, 1994 e 1998. Lançamos candidato próprio em 2002, mas voltamos a apoiar Lula no segundo turno. Desde então, o PSB está na base aliada. Temos com o presidente Lula uma relação de muito respeito. Caminhamos juntos e isso fez bem a muitos municípios e estados. Mas é legítimo querer crescer. Aliás, isso é importante para o próprio PT. Se eles querem o crescimento do campo político progressista no Brasil, que o PSB cresça!

CC: É melhor o PSB do que um DEM. Essa é a lógica?

Eduardo Campos: Sim, mas tem gente que pensa só no aspecto eleitoral, na rinha política. Estamos pensando o que podemos fazer para que o País possa retomar o crescimento econômico com inclusão, desenvolver-se mais, como podemos ajudar a presidenta Dilma a dar conta de sua missão. Não queremos “eleitoralizar” a política. Acabar uma eleição agora e já estar falando em uma eleição de 2014, isso é um desserviço ao País.

CC: Por que o PSB rompeu a aliança com o PT em Recife?

EC: O PSB é o partido que mais apóia o PT nas eleições municipais. Mas temos o direito de lançar candidatos onde o partido tem força, plataforma e propostas. Fizemos isso em muitas cidades. Apoiamos o PT mais do que eles nos apoiam. No Recife, fizemos um enorme esforço para manter a Frente Popular unida. Mas o PT brigou durante 4 anos. Elegeu um prefeito e passou a combatê-lo. Nem a oposição combatia tanto o João da Costa como o próprio PT. Na reta final dos prazos eleitorais, ele não estava bem nas pesquisas. Surge então uma prévia no meio da rua, sangrenta. A oposição estava preparada para levar a eleição para o segundo turno e ganhar a eleição. Pedimos calma e paciência a todos os aliados. Mas seis partidos da frente deixaram a prefeitura, lançaram uma proposta de uma candidatura alternativa. O PT preferiu decidir de São Paulo para cá. Mas a solução não foi boa. Tanto que 14 legendas foram em busca de uma candidatura do PSB. Todos esses partidos são da base de sustentação da presidenta Dilma, mas a nossa opinião não foi levada em conta. Tivemos de entrar na disputa.

CC: No horário eleitoral, PT e PSB passaram trocar duras acusações.

EC: Não fizemos nenhum tipo de agressão ou enfrentamento. Nem pudemos dizer que todo o PT encampou esse debate. Uma parte dos petistas, uma parte da campanha, enveredou por esse caminho, o que só desgastou a candidatura do PT.

CC: E em Fortaleza? O senhor chegou a conversar com o governador Cid Gomes sobre o rompimento com o PT?

EC: Claro, o governador Cid Gomes queria só dialogar sobre a escolha do candidato. Você não pode imaginar que uma força política, como o PSB tem efetivamente no Ceará, vai apoiar uma candidatura sem discutir qual é o melhor nome para lançar. O PT faria isso em relação ao PSB? Cid queria ter o direito de opinar sobre a escolha do candidato. Sem consenso, o PSB lançou um nome próprio. Até porque essa tradição o PT sempre teve. Cresceu inclusive com essa política de lançar candidato em todo o canto, inclusive quando não tinha chance alguma. Não é possível que, agora, o PT não respeite a decisão de nosso partido.

CC: No caso de Belo Horizonte, há um aspecto um pouco diferente. Havia a aliança entre PT, PSDB e PSB, mas os petistas acusam Márcio Lacerda de não cumprir um acordo e optar pelos tucanos. O senhor participou dessa discussão?

EC: Não, foi uma decisão local. Até porque todas as conversas aconteceram em Belo Horizonte, direto com o prefeito. Aí não dá certo e a culpa recai sobre a direção nacional do PSB? Não, eu apenas respeitei a decisão de Lacerda. Ele tem uma administração bem avaliada, acredito que ele vá se reeleger e vamos torcer para que ele faça um trabalho ainda melhor.

CC: Houve pressão por parte do senador Aécio Neves (PSDB) para romper esse acordo com o PT?

EC: Nunca falei com Aécio sobre esse assunto. Até porque não participei da construção dessa aliança em 2008. A estratégia foi costurada pelo Aécio e o Fernando Pimentel. Lacerda havia trabalhado com Ciro Gomes, era secretário de Aécio, e surgiu a ideia daquela união. Após firmarem a aliança é que eles me procuraram.  E estava tudo de pé até 90 dias atrás. Mas isso é coisa do passado. Fato novo é o que povo vai decidir.

CC: O senhor acha que essas rixas locais podem de alguma forma interferir na relação do PSB com o governo Dilma?

EC: Sinceramente, não acredito. Estamos vivendo um momento delicado da vida internacional. A crise não dá sinais de retroceder, temos cenários bastante complexos daqui pra frente, o Brasil tem que atravessar tudo isso. Temos de ajudar Dilma na governabilidade. Não precisamos de mais problemas. Vamos buscar solução para economia, para dar ritmo às obras no País, garantir recursos para que esses novos prefeitos possam trabalhar.

A receita está caindo muito nos municípios e nos estados. Essa é a pauta real, que vamos sempre nos guiar, e não pela falsa pauta que muitas vezes se tenta imprimir ao debate nacional.

CC: Como é a sua relação com o Aécio Neves?

EC: No passado, tivemos papéis assemelhados. Ele acompanhava o Tancredo Neves e eu, Miguel Arraes. Nós nos conhecemos na campanha das Diretas Já. Mais adiante, nos reencontramos como parlamentares – ele como líder do PSDB, na base do governo FHC, e eu como líder do PSB, na oposição. Depois ele foi ser governador de Minas Gerais. Na primeira disputa, ele não teve o nosso apoio, mas depois levou o PSB para sua base de sustentação. Fez um governo reconhecido em Minas e confiou no PSB para fechar a aliança em torno de Márcio Lacerda. Sim, estamos politicamente em campos distintos. Durante oito anos, apoiei o governo Lula enquanto ele era oposição. Continua assim com a Dilma. Mas somos civilizados, temos respeito um pelo outro. Dialogamos sempre que o interesse do Brasil está em jogo.

CC: Sempre há rumores quando vocês se encontram porque ambos são nomes cotados para disputar a Presidência no futuro.

EC: Não estou pensando em eleição de 2014 e muito menos em dobradinha, estou pensando no Brasil. E quem pensar no Brasil, terminada as eleições municipais, vai ajudar a presidenta Dilma, que é uma brasileira correta, séria, a fazer um bom trabalho pelo País. Esse é que é o debate. Mas ninguém pode interditar a minha capacidade de dialogar com pessoas do PSDB, com o próprio Aécio. Podemos ter divergências políticas, mas não podemos reduzir o Brasil a esse maniqueísmo. Do lado de cá está o bem, e o lado do mau está ali no PSDB.

CC: Essa polarização entre PT e PSDB é um problema?

EC: Parece-me claro que isso existe mais no debate da mídia do que na cabeça das pessoas. Essa dicotomia, além de ser falsa, está vencida. O que existe é uma nova pauta sendo construída no País e quem não entender que existe uma nova pauta em construção vai se surpreender com os resultados eleitorais.

CC: Qual exatamente é essa pauta?

EC: A retomada do crescimento econômico, da sustentabilidade, da ética na política, da inovação, da economia criativa, de redução das desigualdades regionais, de como o Brasil vai se inserir no pós-crise.  Após o crash de 1929, o País soube sair de uma economia agrícola e se industrializar, formar uma classe média urbana, criar um operariado que organizou os sindicatos, que embalou uma nova pauta até 1964. Essa crise iniciada em 2008 está forçando as grandes nações a construírem uma nova pauta, os conceitos e valores do novo ciclo de crescimento e desenvolvimento econômico que o mundo vai buscar. Quem não pensar dessa forma e ficar na eleiçãozinha dali, na briguinha de acolá, na rivalidade de ontem, vai para o estaleiro rápido.

CC: A mídia noticiou que Jarbas Vasconcelos articula um grupo de insatisfeitos no PMDB com o governo Dilma para firmar uma aliança com o senhor.

EC: Ninguém me comunicou sobre isso, nem o próprio Jarbas. Não fui procurado por ninguém do PMDB, nenhuma liderança para tratar desse assunto. Se eu tivesse sido procurado, eu falaria. Até porque eu não me nego a conversar com pessoas do PMDB, com quem eu encontro, com quem eu convivi na Câmara Federal, na luta política. Mas eu não fui procurado por ninguém.

CC: O senhor não gosta de falar de 2014, mas o PSB está crescendo e muitos o apontam como possível presidenciável…

EC: Precisamos chegar logo em 2014. Respondo a essa pergunta todos os dias, mas ninguém dá ouvidos. Nossa posição é de ajudar a presidenta Dilma a fazer um bom governo e a disputar outro mandato. Mas antecipar esse debate, em qualquer direção, é um desserviço ao País. A gente tem que cuidar do País, do mundo real, que não está preocupado com 2014 ainda.

CC: Qual é a estratégia do PSB daqui pra frente?

EC: Seguir crescendo com qualidade, interpretando exatamente esse sonho do povo brasileiro em construir um País com mais equilíbrio social e dinamismo econômico, com respeito aos conceitos de sustentabilidade. Em outras palavras, fazer do século XXI o século do Brasil, para que o País possa ajudar o mundo a ficar cada vez mais multipolar, com mais paz, com respeito aos direitos humanos. Esse é o papel de um partido socialista, esse é o papel do PSB. Vamos fazer isso com muita tranqüilidade e firmeza porque nós descobrimos um caminho seguro de crescimento. É ter um partido com unidade, propostas, bons quadros, que, quando governa, mantém o discurso. E alia duas coisas que pareciam impossíveis de andarem juntas na política brasileira: de um lado, envolver o povo no processo de planejamento e decisão, de outro, saber gerir e buscar a competência no serviço público.

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