Política

‘Não basta ter amigos no Facebook e ser conhecido no bairro’

Ex-repórter de política e ex-assessor parlamentar, Aurélio Munhoz dá dicas para quem quer se aventurar na corrida eleitoral em 2012

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Por Aurélio Munhoz*

 

Porque navego no mar revolto da política há quase duas décadas – no início como repórter, depois como assessor parlamentar e, agora, como observador de camarote da arena partidária -, virei uma espécie de curandeiro de vários candidatos a candidatos.

É difícil o ano eleitoral em que passo incólume às consultas informais de cidadãos que sonham dormir candidatos e acordar donos de uma das cadeiras nas Câmaras de Vereadores, nas Assembléias Legislativas ou no Congresso Nacional.

Acredite: muito mais gente do que se imagina faria qualquer negócio para ser vereador ou deputado, apesar de a classe – boa parte dela com todo o mérito – ser a Maria Madalena do setor público. Ótimo que seja assim. É o que garante a sobrevivência do regime democrático, em que pese um coro numeroso de vozes berrarem o contrário. Mas isto é assunto para outro artigo, que deixarei para o calor das eleições de 7 outubro deste ano.

Neste rol de candidatos, há os que buscam dicas eficazes e rápidas de como chegar lá. Inexperientes, pensam que a conquista de uma cadeira no Parlamento é uma receita de bolo pronto, que se compra em supermercado e se confecciona dentro de casa, com a frieza mecânica das batedeiras.

Há também os que querem uma palavra de encorajamento. Inseguros, supõem que meia dúzia de bordões motivacionais possa reduzir seu temor ao já previsível tratamento irascível dos eleitores aos candidatos, cada vez mais refratários à fauna política.

Há ainda os que resumem sua conversa a um pedido de apoio porque se supõem legítimos porta-vozes de uma causa nobre. Ingênuos, imaginam que boas intenções bastam para garantir o sucesso de uma candidatura.

A esta gente maluca – e definitivamente, corajosa – que sonha em chegar lá, só resta dizer a verdade. Não há milagres no mundo da política e, menos ainda, no universo das campanhas eleitorais. Em bom português: para ser vitorioso em uma eleição, o cidadão tem que se preparar muito bem (sob os pontos de vista psicológico, técnico, familiar e financeiro), ser altamente profissional e respeitar pelo menos as regras básicas da democracia e do ABC eleitoral.

Isto não quer dizer que os cidadãos que não respeitam estas regras não podem ser candidatos e nem são capazes de conquistar uma cadeira no Legislativo. Podem e devem, se assim o desejam. Afinal, na democracia política plena em que vivemos, há espaço até para aventuras eleitorais exóticas.

A recomendação acima cumpre apenas o despretensioso papel de dizer a quem quer ser ungido pelas urnas que o descumprimento deste cardápio de normas (ou pelo menos da maioria dele) deverá, no mínimo, dificultar bastante sua vitória, levando-o a três caminhos sem volta: derrota, frustração, brigas em casa e, muito provavelmente, prejuízos financeiros. Não se anime com as exceções. Elas são apenas isso mesmo: exceções. Por isso, é crucial pensar bem antes de se definir por uma candidatura.

Exatamente por não levar isto em conta, pouca gente se revela realmente preparada para a maratona das urnas e um número ínfimo reúne condições mínimas de passar sequer perto da linha de chegada eleitoral, com o perdão da sinceridade.

Para quem tem dúvidas, aventuramo-nos a sugerir algumas pistas confiáveis a seguir, que podem ajudar na tomada de decisão sobre o dilema existencial de ser ou não candidato.

Uma primeira básica a se considerar é de uma simplicidade franciscana: ter um considerável patrimônio de conhecidos não significa ter votos. Logo, não importa se você tem mil amigos, 2 mil rostos familiares no seu bairro ou 4 mil contatos no Facebook. Provavelmente, você não vai conseguir se eleger apenas por causa desta multidão.

A razão é cruelmente simples: é muito difícil garantir o voto da grande maioria destas pessoas, até porque você possivelmente não conhece tanta gente assim a ponto de poder se dar ao luxo de descartar os votos de boa parte dos seus conhecidos. O processo de conquista de um voto é muito mais complexo do que se imagina e, muitas vezes, passa longe da amizade ou do contato pessoal.

Portanto, não se iluda com sua popularidade. Não são só os maus políticos que fazem falsas promessas. O eleitor também engana os candidatos, quando quer.

Uma segunda dica: boas intenções em torno de uma causa nobre não bastam para garantir um mandato. Uma candidatura vinculada a um ideal só é vitoriosa se resulta de um consistente projeto coletivo, fruto de uma complexa obra de arquitetura política. Para erigi-la, é preciso, necessariamente, costurar alianças com grupos que tenham representatividade social. E só se faz isto com paciência e tempo, já que a confiança (e o desejo do voto) resultam da convivência. Mais: grupelhos sem expressão não garantem a quantidade de votos de que você precisa para se eleger.

Outra recomendação é fundamental, mas raramente é levada a sério. É essencial se organizar financeira e estruturalmente para garantir a base de que uma candidatura precisa para ser vitoriosa. Uma campanha exige profissionalismo e recursos porque é cara e disputada por muita gente altamente preparada. Não se iluda com o falso brilhante das redes sociais, com o pedido de votos aleatório nas ruas ou com a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. Tudo isto ajuda, mas não é suficiente para garantir todos os votos de um candidato vitorioso.

A última dica não exige muitas explicações: seja ético, honesto, correto. Não prometa o que não pode cumprir. E, elegendo-se, não coloque seu projeto individual acima do coletivo. Não subestime o eleitor e nem aposte na impunidade. O Brasil está cada vez menos tolerante com os maus políticos. E com os maus candidatos. Não seja um deles.

Facebook – https://www.facebook.com/aureliomunhoz

Twitterhttp://twitter.com/aureliomunhoz

Por Aurélio Munhoz*

 

Porque navego no mar revolto da política há quase duas décadas – no início como repórter, depois como assessor parlamentar e, agora, como observador de camarote da arena partidária -, virei uma espécie de curandeiro de vários candidatos a candidatos.

É difícil o ano eleitoral em que passo incólume às consultas informais de cidadãos que sonham dormir candidatos e acordar donos de uma das cadeiras nas Câmaras de Vereadores, nas Assembléias Legislativas ou no Congresso Nacional.

Acredite: muito mais gente do que se imagina faria qualquer negócio para ser vereador ou deputado, apesar de a classe – boa parte dela com todo o mérito – ser a Maria Madalena do setor público. Ótimo que seja assim. É o que garante a sobrevivência do regime democrático, em que pese um coro numeroso de vozes berrarem o contrário. Mas isto é assunto para outro artigo, que deixarei para o calor das eleições de 7 outubro deste ano.

Neste rol de candidatos, há os que buscam dicas eficazes e rápidas de como chegar lá. Inexperientes, pensam que a conquista de uma cadeira no Parlamento é uma receita de bolo pronto, que se compra em supermercado e se confecciona dentro de casa, com a frieza mecânica das batedeiras.

Há também os que querem uma palavra de encorajamento. Inseguros, supõem que meia dúzia de bordões motivacionais possa reduzir seu temor ao já previsível tratamento irascível dos eleitores aos candidatos, cada vez mais refratários à fauna política.

Há ainda os que resumem sua conversa a um pedido de apoio porque se supõem legítimos porta-vozes de uma causa nobre. Ingênuos, imaginam que boas intenções bastam para garantir o sucesso de uma candidatura.

A esta gente maluca – e definitivamente, corajosa – que sonha em chegar lá, só resta dizer a verdade. Não há milagres no mundo da política e, menos ainda, no universo das campanhas eleitorais. Em bom português: para ser vitorioso em uma eleição, o cidadão tem que se preparar muito bem (sob os pontos de vista psicológico, técnico, familiar e financeiro), ser altamente profissional e respeitar pelo menos as regras básicas da democracia e do ABC eleitoral.

Isto não quer dizer que os cidadãos que não respeitam estas regras não podem ser candidatos e nem são capazes de conquistar uma cadeira no Legislativo. Podem e devem, se assim o desejam. Afinal, na democracia política plena em que vivemos, há espaço até para aventuras eleitorais exóticas.

A recomendação acima cumpre apenas o despretensioso papel de dizer a quem quer ser ungido pelas urnas que o descumprimento deste cardápio de normas (ou pelo menos da maioria dele) deverá, no mínimo, dificultar bastante sua vitória, levando-o a três caminhos sem volta: derrota, frustração, brigas em casa e, muito provavelmente, prejuízos financeiros. Não se anime com as exceções. Elas são apenas isso mesmo: exceções. Por isso, é crucial pensar bem antes de se definir por uma candidatura.

Exatamente por não levar isto em conta, pouca gente se revela realmente preparada para a maratona das urnas e um número ínfimo reúne condições mínimas de passar sequer perto da linha de chegada eleitoral, com o perdão da sinceridade.

Para quem tem dúvidas, aventuramo-nos a sugerir algumas pistas confiáveis a seguir, que podem ajudar na tomada de decisão sobre o dilema existencial de ser ou não candidato.

Uma primeira básica a se considerar é de uma simplicidade franciscana: ter um considerável patrimônio de conhecidos não significa ter votos. Logo, não importa se você tem mil amigos, 2 mil rostos familiares no seu bairro ou 4 mil contatos no Facebook. Provavelmente, você não vai conseguir se eleger apenas por causa desta multidão.

A razão é cruelmente simples: é muito difícil garantir o voto da grande maioria destas pessoas, até porque você possivelmente não conhece tanta gente assim a ponto de poder se dar ao luxo de descartar os votos de boa parte dos seus conhecidos. O processo de conquista de um voto é muito mais complexo do que se imagina e, muitas vezes, passa longe da amizade ou do contato pessoal.

Portanto, não se iluda com sua popularidade. Não são só os maus políticos que fazem falsas promessas. O eleitor também engana os candidatos, quando quer.

Uma segunda dica: boas intenções em torno de uma causa nobre não bastam para garantir um mandato. Uma candidatura vinculada a um ideal só é vitoriosa se resulta de um consistente projeto coletivo, fruto de uma complexa obra de arquitetura política. Para erigi-la, é preciso, necessariamente, costurar alianças com grupos que tenham representatividade social. E só se faz isto com paciência e tempo, já que a confiança (e o desejo do voto) resultam da convivência. Mais: grupelhos sem expressão não garantem a quantidade de votos de que você precisa para se eleger.

Outra recomendação é fundamental, mas raramente é levada a sério. É essencial se organizar financeira e estruturalmente para garantir a base de que uma candidatura precisa para ser vitoriosa. Uma campanha exige profissionalismo e recursos porque é cara e disputada por muita gente altamente preparada. Não se iluda com o falso brilhante das redes sociais, com o pedido de votos aleatório nas ruas ou com a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. Tudo isto ajuda, mas não é suficiente para garantir todos os votos de um candidato vitorioso.

A última dica não exige muitas explicações: seja ético, honesto, correto. Não prometa o que não pode cumprir. E, elegendo-se, não coloque seu projeto individual acima do coletivo. Não subestime o eleitor e nem aposte na impunidade. O Brasil está cada vez menos tolerante com os maus políticos. E com os maus candidatos. Não seja um deles.

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