Política

Nacionalização de empresas gerará efeito dominó?

No Rio o setor de transportes está nas mãos da iniciativa privada. Está funcionando às mil maravilhas? Longe disso

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O ato do presidente boliviano Evo Morales de nacionalização da empresa espanhola Transportadora de Energia S.A., reacende o debate em torno da reestatização da petrolífera YPF promovida pela presidente argentina Cristina Kirchner, talvez a primeira peça de um possível efeito dominó na América Latina.

O movimento continua provocando narizes torcidos no Brasil. Afinal, a cartilha do “mundo civilizado” impõe o cumprimento dos contratos a qualquer preço, e nós somos civilizados. Pagamos nossas dívidas, pelo menos as decorrentes de contratos.

E não se está aqui a justificar a adoção dessa medida específica do governo argentino. Apesar de gostar, não pretendo dançar uma música que me é pouco familiar, no caso, o tango. Mas precisamos extrair lições a partir disso tudo. Movimento idêntico de desestatização ocorreu no Brasil e nem todos os resultados podem ser comemorados.

No Rio de Janeiro, como na maior parte do Brasil, o setor de transportes está todo nas mãos da iniciativa privada. Também migraram para mãos supostamente mais eficientes algumas estradas, serviços de telecomunicações, distribuição de gás encanado na capital e, mais recentemente, alguns serviços de saúde, entregues para organizações ditas sociais. E está tudo funcionando às mil maravilhas? Muito longe disso.

No Rio, antes da onda de privatizações, havia um movimento chamado “Eu odeio a Telerj”. Os serviços da estatal de telefonia eram tão ruins que quando houve a privatização a população suspirou aliviada. Mais convicta no início. E os serviços, de fato, melhoraram. Mas a que preço! Pagamos a maior tarifa de telefone do planeta. E se o Estado, a antiga Telerj, estivesse praticando essas mesmas tarifas, não poderia estar fazendo melhor? Ninguém pode responder, nem que sim nem que não.

Quem escolhe qualquer meio de transporte público no Rio pode afirmar sem medo de errar: são vergonhosos e caríssimos. Os trens da Supervia, geridos pela iniciativa privada, andam sem maquinista, param a todo instante e levam os seus usuários a um desespero diário. Em 2009, o maior ato falho: empregados da Supervia empurraram e chicotearam passageiros para que entrassem logo nos trens. O que é isso?!

Portanto, é preciso relativizar bastante o discurso quando se fala em possíveis medidas de retomada de serviços públicos. Nossa constituição reserva ao Estado posição coadjuvante na atividade econômica, mas não subtrai sua condição de fiscal atento e garantidor do interesse público, que ainda prepondera sobre o interesse privado.

Desconheço as reais motivações de argentinos e bolivianos. O “q” da questão dos nossos hermanos estaria ligado à falta de investimentos da empresa Repsol na YPF e ao decréscimo da produção de petróleo naquele país – mesmo argumento utilizado por Evo Morales para o que fez na Bolívia.

E por que não podemos acreditar nisso? O crédito só pode ser dado às duas empresas espanholas? Aliás, talvez seja esse o “q” ou o “k” (para Kirchner) da questão: credibilidade, de todas as partes.

O ato do presidente boliviano Evo Morales de nacionalização da empresa espanhola Transportadora de Energia S.A., reacende o debate em torno da reestatização da petrolífera YPF promovida pela presidente argentina Cristina Kirchner, talvez a primeira peça de um possível efeito dominó na América Latina.

O movimento continua provocando narizes torcidos no Brasil. Afinal, a cartilha do “mundo civilizado” impõe o cumprimento dos contratos a qualquer preço, e nós somos civilizados. Pagamos nossas dívidas, pelo menos as decorrentes de contratos.

E não se está aqui a justificar a adoção dessa medida específica do governo argentino. Apesar de gostar, não pretendo dançar uma música que me é pouco familiar, no caso, o tango. Mas precisamos extrair lições a partir disso tudo. Movimento idêntico de desestatização ocorreu no Brasil e nem todos os resultados podem ser comemorados.

No Rio de Janeiro, como na maior parte do Brasil, o setor de transportes está todo nas mãos da iniciativa privada. Também migraram para mãos supostamente mais eficientes algumas estradas, serviços de telecomunicações, distribuição de gás encanado na capital e, mais recentemente, alguns serviços de saúde, entregues para organizações ditas sociais. E está tudo funcionando às mil maravilhas? Muito longe disso.

No Rio, antes da onda de privatizações, havia um movimento chamado “Eu odeio a Telerj”. Os serviços da estatal de telefonia eram tão ruins que quando houve a privatização a população suspirou aliviada. Mais convicta no início. E os serviços, de fato, melhoraram. Mas a que preço! Pagamos a maior tarifa de telefone do planeta. E se o Estado, a antiga Telerj, estivesse praticando essas mesmas tarifas, não poderia estar fazendo melhor? Ninguém pode responder, nem que sim nem que não.

Quem escolhe qualquer meio de transporte público no Rio pode afirmar sem medo de errar: são vergonhosos e caríssimos. Os trens da Supervia, geridos pela iniciativa privada, andam sem maquinista, param a todo instante e levam os seus usuários a um desespero diário. Em 2009, o maior ato falho: empregados da Supervia empurraram e chicotearam passageiros para que entrassem logo nos trens. O que é isso?!

Portanto, é preciso relativizar bastante o discurso quando se fala em possíveis medidas de retomada de serviços públicos. Nossa constituição reserva ao Estado posição coadjuvante na atividade econômica, mas não subtrai sua condição de fiscal atento e garantidor do interesse público, que ainda prepondera sobre o interesse privado.

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