Política

Na festa de 1º de Maio, Aécio ganha palanque

Melindrado com o Planalto, Paulinho da Força preparou o terreno para tucano atacar a inflação

O palco da festa de 1º de Maio, que serviu de palanque para Aécio Neves. Foto: Ricardo Rosseto
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Durante as comemorações da festa “1º de Maio Unificado”, na Praça Campo de Bagatelle, zona norte de São Paulo, o deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, defendeu, como principal bandeira a volta do “gatilho salarial”, um mecanismo pelo qual os reajustes dos trabalhadores se tornam trimestrais. De acordo com ele, “essa medida permite recuperar o poder de compra do trabalhador, em um momento em que o governo não consegue segurar a inflação”.

No palanque, diante de mais de um milhão de pessoas, Paulinho da Força, junto com dirigentes sindicais e políticos da oposição, criticou duramente a gestão “desacertada” da presidente Dilma Rousseff (PT), ao considerar que ela não estabelece diálogo com os movimentos sindicais. “Em 2010, a Dilma veio aqui pedir voto durante a campanha presidencial, e nós entregamos uma pauta de reivindicações para ela. Depois disso, ela não teve mais coragem de voltar porque só atende empresário”, criticou o deputado.

Paulinho provocou a plateia ao perguntar se a inflação realmente está sob controle, como diz governo federal, para lançar uma campanha por um reajuste automático de salários. “Vem o governo, com uma conversa fiada, de que os preços estão seguros. Não estão não, estamos sentindo na pele. Nós, da Força, vamos começar essa campanha: toda vez que a inflação chegar a 3% e o empresário não der aumento, vamos parar a fábrica”, ameaçou.

Foi como forrar, no palanque, o discurso da oposição. Não à toa senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato à Presidência, foi levado ao evento de mãos dadas e recebeu a deixa para cobrar “responsabilidade” do governo. “Não podemos permitir que o fantasma da inflação volte a rondar a mesa do trabalhador brasileiro”, afirmou. Para o senador, a qualificação da mão-de-obra é fundamental para o país não ficar refém das importações, o que, segundo ele, encarece o preço dos produtos e inibe o desenvolvimento. “Nós estaremos vigilantes”.

No mesmo dia, a presidenta disse, em cadeia nacional de tevê, que é “mais que óbvio” que o governo tem o controle da inflação.

A proposta da Força, entretanto, divide as opiniões das outras centrais sindicais que ajudaram a realizar o evento, como a União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e a Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST). Para o presidente da CTB, Wagner Gomes, a proposta do Paulinho da Força está “deslocada da realidade”. “Se tiver aumento trimestral, aí vai alavancar de vez. Não achamos que a inflação chegou em patamar que justifique isso”, ponderou.

Presente na festa, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também se colocou contrário à proposta da criação de um gatilho salarial. Segundo ele, o trabalhador está obtendo um ganho “real”, com o aumento do salário acima da inflação. “Isso é um conforto, porque o trabalhador está aumentando o poder de compra continuamente. A gente viveu um momento em que a inflação dos alimentos teve um aumento, mas agora ela tende a cair com todo o trabalho que está sendo feito no governo, como a desoneração da cesta básica”, afirmou.

Representando a presidente Dilma, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, subiu ao palanque e minimizou o suposto afastamento do governo em relação aos sindicatos.. “Ela está sempre ao lado dos trabalhadores, para discutir as necessidades de cada um”, garantiu. “Além disso, não é verdade que a inflação vai subir. Ela teve, sim, um pico nos últimos meses, mas agora ela começou a cair. A presidente Dilma zela como uma leoa em defesa dos trabalhadores para que a inflação não coma os nossos salários.”

De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, Carvalho e Paulinho chegaram a bater boca durante o showmício. Antes de subir ao palanque, segundo o diário, o ministro disse ao pedetista que a proposta de reajuste trimestral era “inconseqüente”. “Indexação é um erro”, disse. Haddad contemporizou e pediu para Paulinho deixar de ser “intransigente”.

Ainda de acordo com o relato, a origem da bronca entre o líder da Força Sindical e o Planalto era outra: o fato de, na véspera, Carvalho ter chamado o presidente da CUT, Vagner Freitas, a Brasília para apresentar a proposta de mesa de negociações permanente sobre a pauta trabalhista.

Pauta. Em 2013, o evento comemorou os 70 anos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e defendeu uma “pauta trabalhista”, com a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem diminuir os salários, o fim do fator previdenciário (que desestimula aposentadorias precoces), a reforma agrária e a correção da tabela do imposto de renda, entre outras propostas.

De acordo com os dirigentes das sindicais organizadoras da festa, a septuagenária CLT tem o desafio de se modernizar, de forma a se tornar mais flexível e garantir negociação entre patrão e empregado em situações específicas, não previstas em lei, mas a mudança não pode suprimir direitos e proteções dos trabalhadores.

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