Na Bahia, Lula arrasta multidões no cortejo da independência; Bolsonaro aposta em motociatas

A comemoração do tradicional feriado da Independência no estado foi também uma vitrine eleitoral

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Maior colégio eleitoral do Nordeste, a Bahia é essencial para quem quer conquistar o Palácio do Planalto em outubro deste ano. Pensando nisso, Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) marcaram presença no tradicional feriado de Independência da Bahia, comemorado neste sábado 2.

Enquanto o candidato petista encontra na capital baiana um cenário favorável, com 47% de intenções de voto no primeiro turno, segundo o Datafolha, Bolsonaro amarga 28. Salvador é a capital que pior avalia seu governo.

Durante o tradicional trajeto, Lula ganhou status de celebridade e arrastou uma multidão de apoiadores. Ao lado de seu companheiro de chapa, do governador da Bahia, Rui Costa (PT) e do candidato petista para o governo, Jerônimo Rodrigues, Lula falou sobre a data.

“A independência foi feita com sangue, com morte de indígenas, padres, freiras, do povo trabalhador. Não é um desfile militar, é um desfile do povo. Isso é independência”, disse.

Lula nas ruas de Salvador no 2 de Julho — Foto: Ricardo Stuckert/ Divulgação

Buscando reverter o quadro desfavorável de Bolsonaro no Nordeste, figuras da direção do PL baiano apostam que a motociata promovida neste sábado e a série de viagens pelo estado devem ajudar não apenas o presidente, mas também seu candidato a governador, o ex-ministro da Cidadania João Roma (PL).


A programação do ex-capitão na Bahia começou na sexta-feira (1º), quando foi em busca de palanque em Cruz das Almas, na região do Recôncavo baiano, em Feira de Santana, maior cidade do interior nordestino e no município de Maragogipe.

Durante a motociata, Bolsonaro levou o seu candidato João Roma na garupa, atacou governadores e fez promessas aos apoiadores. “Lamento que os nove governadores do Nordeste tenham entrado na Justiça contra a redução de impostos da gasolina. Precisamos acreditar que a Justiça não dará ganho de causa a essas pessoas e teremos um dos combustíveis mais baratos do mundo”, disse.

Já do lado petista, a maior preocupação nos bastidores não é com a conquista dos eleitores, mas sim com a segurança do ex-presidente.

O temor não é exagero. No último dia 21, dois homens invadiram o evento de lançamento das diretrizes do plano de governo e ofenderam Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa.  Antes disso, em maio, em uma agenda de Campinas, no interior de São Paulo, o carro em que estava o ex-presidente Lula foi cercado por bolsonaristas.

Esses casos levantaram um alerta para as lideranças da campanha de Lula, que está reavaliando a presença do petista em atos abertos ao público. Durante a semana, a direção do partido já havia batido o martelo de que o ex-presidente não participaria do ato público, se limitando ao comício fechado na Arena Fonte Nova.

Éden Valadares, presidente do PT da Bahia, já havia justificado a ausência de Lula, pois a figura “atrapalharia o cortejo”. “A gente sabe que tem uma mobilização, e não queremos atrapalhar o 2 de Julho. Não queremos inviabilizar o 2 de Julho”, disse.

Lula, entretanto, não ficou nada feliz com a determinação e decidiu participar do ato público mesmo com a preocupação de sua equipe. “Vou encontrar com minha baianidade”, disse na sexta-feira.

Após o cortejo, o petista foi para o evento fechado na Arena Fonte Nova, onde medidas de segurança adicional foram implementadas para evitar a possibilidade de algum incidente, como o credenciamento de todas as 25 mil pessoas para o evento, a proibição de entrada com mochilas e objetos de ferro ou alumínio.

A preocupação era tanta durante esta semana que o governo de Rui Costa pressionou a organização do ato pró-Bolsonaro, que antes teria a concentração no Dique do Tororó, localizado em frente a arena, para realizar o evento no Farol da Barra, a 6km de Lula.

A expectativa de lideranças petistas é que a vinda de Lula ajude a consolidar o candidato petista ao páreo estadual. Apesar da presença do candidato ao lado de Lula durante boa parte do dia, parte do partido considera o apoio “tímido” e insuficiente para ajudar o ex-secretário da educação do governo Rui Costa que ainda não decolou nas pesquisas.

A vereadora petista Maria Marighella celebrou a presença de Lula no ato. “Muito importante que o presidente Lula esteja aqui conosco, fazendo corpo com essa luta de ontem, memória de um povo, mas sobretudo com a luta do futuro que nos lembra que com tiranos não combinam brasileiros corações. Com a barbárie não se negocia”, disse.


“Nesse bicentenário da Independência rememorar a independência popular da Bahia é também reivindicar a participação das forças populares”, completou.

Vitrine eleitoral

Além de um momento de afirmação popular, o evento passou a ser um espaço de apresentação dos políticos, funcionando como um termômetro da popularidade de candidatos em ano eleitoral. As figuras políticas marcham junto com seus apoiadores do bairro da Lapinha até o Centro Histórico em um percurso de mais de 3 km.

Além de Lula, a 199ª edição do Cortejo Cívico, que busca enaltecer o protagonismo dos baianos na conquista da independência do Brasil, contou com a presença de outras figuras políticas, como Ciro Gomes (PDT), que ainda amarga menos de dois dígitos nas pesquisas.

A candidata emedebista para o Planalto, Simone Tebet, que tem 1% nas pesquisas, passou despercebida pelo eleitorado baiano. No estado, nem os próprios integrantes do partido têm apoiado a candidatura: Geraldo Jr. (MDB), que integra a chapa de Jerônimo, esteve no cortejo ao lado de Lula.

Outros políticos como ACM Neto (União), que está liderando a corrida eleitoral para o governo da Bahia, e João Leão (PP) também usaram a data para aparecer para o eleitorado.

Importância histórica

Na Bahia ocorreu uma independência paralela em relação ao movimento nacional. A luta começou antes, no dia 19 de fevereiro de 1822, e terminou depois da data comemorada nacionalmente, o 7 de setembro de 1822. Os baianos só se tornaram independentes em 2 de julho de 1823, 10 meses após o grito de independência de dom Pedro I.

Os poucos portugueses que ficaram no país após o 7 de setembro de 1822 se amontoaram na Bahia. A resistência organizada pelos defensores da independência fez as tropas fiéis a Portugal serem derrotadas em 2 de julho de 1823. O episódio, além de marcar as lutas de independência do Brasil, motivou a criação de um feriado onde se comemora a chamada Independência da Bahia.

 

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