Política

Mulheres pedem justiça para Mayara, mais uma vítima de feminicídio

Repúdio ao caso brutal, tipificado pela polícia como “latrocínio”, leva brasileiras às ruas e enseja debate sobre a violência machista contra mulheres

A violonista Mayara Amaral foi atraída para um motel, onde foi morta com marteladas na cabeça
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Mulheres de diversas capitais brasileiras sairão às ruas, mais uma vez, para protestar contra um feminicídio. Desta vez, a vítima foi Mayara Amaral, cujos 27 anos foram interrompidos pela ação brutal de três homens na quarta-feira 27. 

O caso, publicizado entre as feministas principalmente por meio de um post do Facebook feito pela irmã da vítima, gerou revolta no País que é o quinto no raking mundial de feminicídios, isto é, o assassinato de mulheres pela sua condição de mulher. 

Denominados “Nós por nós”, os atos de mulheres iniciaram-se na quarta-feira 2 durante o congresso 13º Mundo de Mulheres e Fazendo Gênero 11, em Florianópolis, quando cerca de 10 mil mulheres saíram às ruas em protesto. 

As próximas mobilizações estão previstas para acontecer no Rio de Janeiro, em São Paulo, Campo Grande, Natal, Curitiba e Goiânia. Nesta sexta-feira 4, o ato em memória da musicista ocorrerá na capital paulista, com concentração no Museu de Arte de São Paulo (MASP) às 16h.

Amaral era violonista com mestrado pela Universidade Federal de Goias, onde dissertou sobre mulheres compositoras para violão. Estava prestes a começar o doutorado. Ela atuava como professora de música e tinha uma banda, com quem iria ensaiar na noite que foi assassinada.

Nas redes sociais, Pauliane Amaral lamenta a morte da irmã e o tratamento da mídia em relação a sua imagem

Morta em um motel com marteladas na cabeça, o violonista foi encontrada carbonizada em um matagal em Campo Grande (MT), onde vivia com a família.

Os suspeitos do assassinato são o músico Luiz Alberto Barros, de 29 anos, com quem a vítima mantinha relacionamento, e Ronaldo Olmedo, 33, já com passagens na polícia. Ainda um terceiro envolvido, Anderson Pereira, 31, foi preso por colaborar na ocultação do cadáver.

A narrativa dos delegados responsáveis pelo caso tipifica o crime como latrocínio, quando o roubo é seguido de morte. A jovem dirigia um carro Gol de 1992, e levava consigo um notebook, um celular e um violão. A polícia afirma que os comparsas a mataram para roubar, e dividiram seus pertences antes de queimar o corpo da vítima.

A reivindicação central das manifestações é justamente contra esta narrativa: as organizadoras do ato, juntamente com coletivos feministas, pedem que o crime ocorrido contra a violonista seja reconhecido como um feminicídio, por conter características que evidenciam que Mayara Amaral foi assassinada pela condição de ser mulher.

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A divulgação dos atos feita pela redes sociais usa a hashtag #NiUnaMenos, que tornou popular os atos contra o feminicídio em setembro de 2016, quando a argentina Lucía Perez de 16 anos foi vítima do crime. A adolescente foi drogada, estuprada e empalada na cidade costeira de Mar Del Plata.

A brutalidade com que Pérez foi morta, mobilizou diversas manifestações de repúdio, que tomaram as ruas da Argentina sob o lema “Ni una menos” (Nem uma a menos).

No Brasil, também houveram manifestações em memória da adolescente e contra o feminicídio. O Brasil que mata aproximadamente 13 mulheres por dia segundo o Atlas da Violência de 2017.

De acordo com dados do Atlas, a taxa de homicídios de mulheres cresceu 7,3% de 2005 a 2015. Por outro lado, quando as vítimas eram mulheres brancas, os índices caíram em 7,4% no mesmo período, enquanto o homicídio de mulheres negras aumentou de 22%, chegando à taxa de 5,2 mortes por 100 mil habitantes, acima da média nacional.

Os dados deste levantamento não tipificam o crime de feminicídio, pois, segundo o Atlas, os números levantados não fornecem as informações necessárias para que o assassinato de mulheres, mesmo quando vítimas de violência, sejam classificados como feminicídio.

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