Política

Muito grito, pouca ação: como atuam os deputados da ‘nova política’

Joice Hasselmann, Kim Kataguiri, Alexandre Frota, Tabata Amaral: eleitos com promessa de renovação, seus mandatos deixam a desejar

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“Ninguém explicou ainda o que é a ‘nova política.” A provocadora afirmação dita em abril pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, levantou dúvida sobre a onda de novatos eleitos como “representantes da nova política”. 

Isto porque nomes como Tabata Amaral (PDT-SP), Kim Kataguiri (DEM-SP), Joice Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP) ganharam destaque a partir da insatisfação coletiva das redes sociais. Nelas, ainda batem ponto diariamente, mesmo estando em falta com suas ações legislativas no Congresso.

Aliás, quando finalmente botaram a mão na massa, muitos destes parlamentares dedicaram seu tempo para projetos distantes dos reais problemas do país, provando que o combate à corrupção e aos privilégios são mais debatidos no Twitter do que no plenário do Congresso.

Kim Kataguiri

Mesmo tendo apenas 23 anos, Kim Kataguiri já é vice-líder de seu partido, o DEM. (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

Reconhecido como um dos símbolos da juventude na política, o paulista de apenas 23 anos foi uma das principais lideranças do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que participou ativamente da promoção do impeachment da presidente Dilma Rousseff e se consagrou como ‘a nova direita brasileira’. Em seu mandato, tenta transformar as críticas que pautava contra o sistema político e eleitoral vigente em pautas concretas.

O combate aos privilégios dos poderosos é uma dessas tentativas. Em um de seus primeiros projetos de lei (PL 40/2019), o jovem deputado sonhou alto: propôs a extinção do Fundo Partidário, Fundo Eleitoral e da propaganda eleitoral gratuita de rádio e TV. Em outro projeto, sugeriu o fim da ajuda de custo para mudança e transporte no início e no final de cada mandato, já que, para ele, o Estado não deve ter gastos com o sistema que elege seus representantes. As duas tentativas não vingaram.

Apostando na tese de que a corrupção é o maior problema de ordem econômica do país, Kim realizou uma série de requisições para que figuras envolvidas na Operação Lava Jato nos últimos anos fossem à Câmara para prestar esclarecimentos. Entre elas, a ex-presidente Dilma Rousseff e ex-diretores do BNDES, Petrobras, JBS e Odebrecht. 

Kataguiri, Joice, Frota e outros 20 parlamentares assinaram o projeto que regulamenta o “Escola Sem Partido”

O parlamentar também atendeu pautas de menor repercussão, como a exigência da Lei da Gorjeta para todos os funcionários, a permissão de bombas de autosserviço em postos de combustíveis, o fim da taxa de conveniência para vendas online de ingressos e a extinção de obrigatoriedade de transmissão do programa “A Voz do Brasil”.

Entre os projetos de maior abrangência do deputado, estão o que aumenta a pena prevista para o crime de maus-tratos, o que retira da Justiça Eleitoral a competência para julgar e processar crimes comuns e o que estabelece ações para estimular entre os alunos a limpeza, a manutenção e a conservação do ambiente escolar.

Alexandre Frota

Foto: Cleia Viana/Agência Câmara

Filmes pornô, novelas da Globo e reality shows. O passado de Alexandre Frota sempre esteve distante da política. Nos últimos anos, no entanto, ao apoiar o impeachment de Dilma, o MBL e a onda bolsonarista, conseguiu se destacar e acabou eleito como um dos principais nomes do PSL. 

A lua de mel, no entanto, durou pouco. Em menos de um ano como deputado federal, abandonou o partido do presidente Jair Bolsonaro após conflitos com seus filhos e migrou para o PSDB.

A agitação da carreira política do ex-ator, aliás, rendeu pouco para o seu mandato, já que a maior parte dos projetos que apresentou não foi de autoria individual. Por outro lado, não abriu mão de pedir a palavra para falar no Câmara dos Deputados e proferiu 188 discursos no Congresso, o equivalente a, às vezes, mais de um discurso por dia.

Apesar dos ataques constantes à esquerda, Frota foi expulso do PSL por criticar a família Bolsonaro. Ele se abrigou no PSDB de Dória

Entre os poucos projetos autorais de Frota estão o abono de falta de empregados que comparecerem a reuniões escolares dos filhos, a permissão para comercialização de videogames de ação e a isenção do IPI para automóveis adquiridos por deficientes físicos ou de utilização para transporte de passageiros. O deputado também fez questão de solicitar a realização de sessão solene em homenagem aos 124 anos do Flamengo, seu time do coração.

Embarcando na pauta de combate aos privilégios do setor público, Frota também apresentou um projeto para estabelecer um teto para remuneração do funcionalismo público e outro que prevê aumento de pena para crimes de invasão de dispositivo eletrônico de ministros, membros do Judiciário, Ministério Público e policiais.

Joice Hasselmann

Antes de ser deputada federal, Joice Hasselmann fez carreira na mídia paranaense, onde trabalhou como jornalista – ainda que, mais de uma vez, tenha sido acusada de plagiar reportagens de colegas. Já no programa “Os Pingos Nos Is”, da rádio Jovem Pan, passou a atuar como comentarista política e a criticar fortemente a esquerda. Levou sua língua afiada para o Youtube e dobrou fama na internet, a ponto de, sem modéstia, se intitular como “a maior youtuber de política do Brasil”.

Dali até estabelecer uma relação de confiança com Bolsonaro foi um pulo. Assumiu a liderança do governo no Congresso logo no início do mandato e só foi destituída da função na última quinta-feira 17, após divergências com os filhos do presidente. Joice não esconde o desejo de disputar a Prefeitura de São Paulo em 2020, e para isso, pode seguir o mesmo caminho de Frota e deixar o PSL. 

A líder do governo brigou com o governo. As apostas são de que Joice irá deixar o PSL para se abrigar no DEM ou no PSDB

A missão de ser o escudo de Bolsonaro na Câmara fez com que Joice esquecesse a função primordial de um parlamentar: elaborar leis. Em nove meses de mandato, a deputada apresentou apenas nove projetos, oito deles entre fevereiro e março, os primeiros meses da legislatura. Pior: dos oito PLs, sete foram apresentados na mesma data, dia 4 de fevereiro, o 2º dia útil de mandato. 

Sua aptidão pelo protagonismo, aliás, a levou a propor um projeto (PL 13/2019) para instituir uma espécie de programa de incentivo à divulgação de informações de interesse público como medida para combater a corrupção e a impunidade. O projeto, que teria que alterar diversas leis e até o Código Penal para ser viável, não passou da apreciação em plenário.

No entanto, essa não foi a única vez que esteve sob os holofotes parlamentares. Quando líder do Governo, Joice teve papel fundamental na articulação para a aprovação da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. 

Tabata Amaral

Foto: Luis Macedo/Agência Câmara

“Eu não uso mais esse termo.” Assim respondeu Tabata Amaral recentemente ao ser questionada sobre o termo “nova política”. No entanto, diferentemente dos outros parlamentares que se elegeram com essa promessa, a paulistana de 25 anos se tornou alvo constante dos dois lados do espectro político, por apresentar tanto pautas alinhadas à direita quanto à esquerda. 

Quando votou a favor da Reforma da Previdência, Tabata desagradou seu partido, o PDT, e todo o campo progressista, mas agradou aos setores mais liberais. Por outro lado, quando apresentou propostas para suavizar a Reforma, foi chamada de ‘esquerdista’. Dentre as suas sugestões, estavam propostas que garantiam os direitos de mulheres, aposentados e desempregados em situação de vulnerabilidade social. 

No entanto, esse não foi o único movimento de Tabata a desagradar a direita. Nascida na periferia paulistana e graduada em Harvard, a jovem parlamentar acredita na educação como meio de transformação social e por isso dedica grande parte de seu mandato a essa pauta. 

Ao todo, Tabata está presente em 10 comissões relacionadas ao tema e fez cobranças firmes ao Poder Executivo sobre temas sensíveis como o Plano Nacional de Educação, o Fundeb e o financiamento do ensino superior. Além disso, Tabata também questionou outros ministérios a respeito de seus planejamentos estratégicos. “Eu vou falar agora de boa política com práticas diferentes”, argumentou, descartando o termo ‘nova política’.

*CartaCapital entrou em contato com todos os parlamentares citados nesta reportagem. Nenhum deles teve interesse em participar.

*Todos os dados referentes à atuação dos parlamentares em questão foram coletados até o fechamento do mês de setembro de 2019

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