Política
Motta enfrenta desgaste com PEC da Blindagem e leva Centrão a ameaçar o governo
Bloco articula entrar na briga de cabeça pela urgência da anistia do 8 de Janeiro e pode se tornar um obstáculo para aprovação de projetos de interesse do Planalto na Câmara
A aprovação da PEC da Blindagem na Câmara dos Deputados, com mais de 340 votos, deu uma vitória numérica ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), mas também lhe trouxe alto custo político. Motta chamou para si a defesa da proposta diante da oposição do Planalto, de ministros do Supremo Tribunal Federal e até de parte do próprio Congresso.
O texto devolve aos congressistas o poder de autorizar investigações contra si próprios e amplia o foro privilegiado a presidentes de partidos. O presidente Lula (PT) havia avisado pessoalmente a Motta que não apoiaria a medida, priorizando agendas econômicas como a isenção do Imposto de Renda até 5 mil reais. Ainda assim, o deputado atendeu ao apelo do Centrão e da direita, garantindo a aprovação, mas concentrando em si o desgaste.
Esse embate abriu uma crise política que já produz efeitos colaterais. Em reação ao voto contrário da maior parte da bancada do PT, o Centrão – do qual Motta faz parte – ameaça agora retaliar o governo apoiando a tramitação, em caráter de urgência, do projeto de anistia aos golpistas de 8 de Janeiro de 2023. A medida pode beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Além disso, os líderes do bloco também ameaçam travar votações de interesse direto do governo, como a Medida Provisória da Tarifa Social de Energia, que vence nesta quarta-feira 17. O projeto beneficia cerca de 60 milhões de brasileiros.
Nos bastidores, a avaliação é de que a declarada posição governista contra a PEC da Blindagem teria empurrado o instável Centrão para o lado do bolsonarismo.
O governo minimiza, em partes, os efeitos da ameaça. A aposta é de que, mesmo que a urgência da anistia avance na Câmara, a proposta será barrada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Caso avance aos empurrões na Casa Alta, a medida será vetada por Lula e contestada no STF.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.



