Política

Morre Otavio Frias Filho, diretor de redação da ‘Folha de S.Paulo’

Herdeiro passou a comandar o jornal nos anos 1980 e encabeçou reforma editorial que criou o “manual de redação” do veículo

O jornalismo morreu nesta terça-feira 21 aos 61 anos
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Otavio Frias Filho, diretor de redação do jornal Folha de S.Paulo, morreu nesta terça-feira 21 aos 61 anos. Ele foi vítima de um câncer originado no pâncreas, doença diagnosticada em setembro de 2017.

Frias Filho herdou de seu pai, Octavio Frias de Oliveira, o comando do jornal, um dos principais em circulação do País. O jornalista foi o principal responsável pela consolidação do chamado “Projeto Folha”, um conjunto de diretrizes editoriais lançada em 1984, em meio aos protestos por Diretas Já.

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O jornal paulistano teve papel de destaque no apoio ao movimento democrático dos anos 1980, o que levou Frias Filho a defender uma reforma editorial que buscasse um maior distanciamento do jornalismo ao cobrir os fatos políticos.

O jornalista assumiu o comando da Folha em meio a uma postura crítica do veículo em relação à ditadura. Durante os anos de repressão, o jornal chegou a colaborar com os militares, ao emprestar carros para agentes do Doi-Codi. Apesar de ter mudado sua postura em relação aos governos militares no fim da ditadura, a Folha causou polêmica ao defender, em editorial de 2009, que o Brasil viveu na verdade uma “ditabranda”, como uma versão mais amena da repressão estatal.

Nascido em 1957, Frias Filho estudou direito antes de assumir o negócio familiar. Aos 18 anos, passou a contribuir com a produção dos editoriais da Folha, sob a supervisão do editor Cláudio Abramo, uma das principais referências do jornalismo nativo.

Quando era estudante, Frias Filhos chegou a ser preso, em 1978, ao fazer campanha para os candidatos a senador Fernando Henrique Cardoso e a deputado Eduardo Suplicy.  Enquanto assumiu o comando do jornal nos anos 1980, seu irmão passou a fazer a gestão financeira do Grupo Folha, que envolve outros ramos além do jornalismo.

Frias Filho impôs uma padronização do texto aos jornalistas da Folha, que possuíam grande liberdade durante os anos de Diretas Já. Em entrevista à revista Imprensa, em 1987, ele afirmou que via produção jornalística como uma indústria, ao defender a existência do manual de redação da publicação.

O herdeiro da Folha também era dramaturgo. Foi autor de seis peças de teatro, além de publicar o livro Queda Livre, que reúne sete reportagens ensaísticas sobre experiências de risco piscológico, como saltar de paraquedas e experimentar ayahuasca no Acre.     

Frias Filho não gostava de ser interpelado sobre temas como democratização e concentração da mídia. Em debate em Londres em que foi apontado o apoio da Folha ao impeachment de Dilma por uma correspondente britânica, ele se irritou com as críticas sobre o fato de poucas famílias controlarem grande parte da produção jornalística brasileira.

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