Política

Moro levanta sigilo de colaboração de Palocci que atinge Lula

Ex-ministro narrou duas reuniões com o ex-presidente para tratar de negócios ilícitos. Defesa diz que ele mente

O ex-ministro narrou duas reuniões em que Lula teria demonstrado conhecimento de irregularidades
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A uma semana da eleição, o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato em Curitiba, decidiu levantar o sigilo de parte da colaboração premiada do ex-ministro Antonio Palocci que atinge o ex-presidente Lula. No trecho tornado público, Palocci narra um suposto loteamento de cargos do PT na Petrobras para captar recursos para campanhas eleitorais.

Segundo o ex-ministro, as duas últimas campanhas presidenciais do PT custaram mais do que foi declarado à Justiça Eleitoral. Em 2010, o ex-ministro diz que o total foi de 600 milhões de reais, e a de 2014, 800 milhões. Os gastos declarados foram de 153 milhões e 350 milhões, respectivamente.

O ministro narra ainda supostas reuniões com Lula para tratar de valores ilícitos e afirma que o partido recebeu propina por contratos de publicidade da Petrobras e por medidas provisórias propostas pelos governos petistas.

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No trecho cujo sigilo foi retirado, Palocci reafirma que o ex-presidente Lula teria conhecimento de esquemas de corrupção na estatal. A defesa do petista lembra que a colaboração não foi aceita pelo Ministério Público Federal. Segundo Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula, o ex-ministro “mentiu mais uma vez”.

Segundo o ex-ministro, ele foi convocado por Lula em 2007, após a reeleição do petista. Palocci afirma que Lula estaria bastante irritado ao tomar conhecimento que os diretores da Petrobras Renato Duque e Paulo Roberto Costa estavam envolvidos em crimes. Segundo Palocci, Lula teria questionado seu ex-ministro se “aceitaria sua versão de que não sabia das práticas ilícitas que eram cometidas em ambas as diretorias”. De acordo com o ex-ministro, seria uma espécie de “teste de versão, de defesa”.

Palocci também narra que participou em 2010 de uma reunião com José Sérgio Gabrielli, atual coordenador de campanha de Fernando Haddad, Lula e Dilma Rousseff, na qual o ex-presidente teria solicitado ao então presidente da Petrobras que “encomendasse a construção de 40 sondas para garantir o futuro político do País e do PT”.

A ideia, diz o ex-ministro, é que se produzisse navios para exploração do pré-sal e “recursos para a campanha que se aproximava”. Segundo o ex-ministro, Lula teria afirmado que caberia a Palocci “gerenciar os recursos ilícitos que seriam gerados e seu devido emprego na campanha de Dilma”. De acordo com delator, coube a Gabrielli desenvolver o projeto das sondas.

Segundo Palocci, Lula teria indicado Paulo Roberto Costa para a Diretoria do Abastecimento para favorecer o PP e “garantir espaço para ilicitudes, como atos de corrupção”. Ainda de acordo com a delação do ministro, o grupo do PMDB capitaneado por Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, e o atual presidente Michel Temer conseguiram fazer Lula nomear Jorge Zelada para a diretoria internacional da estatal. O partido teria acertado uma propina de 5% sobre um contrato na área internacional da Petrobras com a Odebrecht. O valor original a ser pago seria de 40 milhões de reais.

A colaboração de Palocci foi anexada ao processo que investiga supostas propinas de 12,5 milhões de reais da Odebrecht a Lula por meio da aquisição de um terreno em São Bernardo do Campo de uma propriedade onde seria sediado o instituto Lula. Palocci confessou crimes no âmbito dessa ação penal, em que atribuiu também a Lula um “pacto de sangue” de 300 milhões de reais entre o petista e a Odebrecht.

Leia a íntegra da nota da defesa de Lula

A conduta adotada hoje pelo juiz Sérgio Moro na Ação Penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000 apenas reforça o caráter político dos processos e da condenação injusta imposta ao ex-presidente Lula.

Moro juntou ao processo, por iniciativa própria (“de ofício”), depoimento prestado pelo Sr. Antônio Palocci na condição de delator com o nítido objetivo de tentar causar efeitos políticos para Lula e seus aliados, até porque o próprio juiz reconhece que não poderá levar tal depoimento em consideração no julgamento da ação penal. Soma-se a isso o fato de que a delação foi recusada pelo Ministério Público. Além disso, a hipótese acusatória foi destruída pelas provas constituídas nos autos, inclusive por laudos periciais.

Palocci, por seu turno, mentiu mais uma vez, sem apresentar nenhuma prova, sobre Lula para obter generosos benefícios que vão da redução substancial de sua pena – 2/3 com a possibilidade de “perdão judicial” – e da manutenção de parte substancial dos valores encontrados em suas contas bancárias.

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