Política
Moro divulgou delação de Palocci para atingir o PT, sugerem mensagens
Ex-juiz teria justificado liberação de delação, feita dias antes das eleições, por supostamente romper com narrativa petista
Mensagens da Lava Jato obtidas de vazamento mostram que a divulgação do conteúdo da delação premiada de Antonio Palocci, ex-ministro petista, teve inclinação política por parte do ex-juiz Sérgio Moro. De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, os procuradores da força-tarefa – incluindo Deltan Dallagnol – tinham descrença das provas apresentadas por Palocci para os atos ilícitos cometidos pelo PT, mas Moro teria orientado o contrário: “Russo [apelido de Sérgio Moro entre os procuradores] comentou que embora seja difícil provar ele é o único que quebrou a omertà petista”.
A mensagem acima, enviada pelo procurador Paulo Roberto Galvão, diz respeito ao ‘código de honra’ de mafiosos italianos, analogia supostamente utilizada por Moro para justificar a divulgação da delação seis dias antes do primeiro turno das eleições de 2018. Nos depoimentos, Palocci apontara supostas propinas pagas aos ex-presidentes Dilma Rousseff e Lula, além de outras irregularidades envolvendo a Odebrecht e pagamentos ao PT.
O acordo dele, diferentemente dos outros, foi firmado com a Polícia Federal e não com o Ministério Público Federal – que havia, primeiramente, apontado inconsistência de provas para aceitar medidas de redução de pena consequentes de uma delação. Os procuradores da Lava Jato criticaram a utilização das falas de Palocci em um grupo no aplicativo Telegram.
“Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele”, disse Laura Tessler, que depois acrescenta que as falas são piores ‘que anexos Google’. Antonio Carlos Welter ironiza: “o melhor é que fala até daquilo que ele acha que pode ser que talvez seja.”
A reportagem da Folha de S.Paulo explicita que, no dia da liberação das mensagens, o assunto tomou cerca de nove minutos do Jornal Nacional. Nos dias seguintes, fora amplamente noticiada em destaques nos principais jornais do País, e chegou a ser incorporada na campanha eleitoral de adversários do candidato Fernando Haddad, justificando a necessidade de impedir que o PT voltasse ao poder – como sugerido por campanha de Geraldo Alckmin (PSDB).
A ‘Vaza Jato’, como ficou conhecida a liberação dos diálogos do Telegram obtidos pelo site The Intercept Brasil, teve início em junho de 2019 e explicitou relações escusas do Judiciário brasileiro.
Leia também
O vazamento das conversas da Lava Jato e a opinião pública
Por Blog do AssinanteVaza Jato: Dallagnol e Fux foram a reuniões secretas com empresários
Por CartaCapitalDefesa de Walter Delgatti confirma cópias de conversas hackeadas
Por CartaCapitalAção de Sérgio Moro contra Glenn via PF é lawfare, diz advogada
Por André BarrocalLivro-reportagem investiga a fortuna repentina de FHC após Presidência
Por Mino CartaIntercept: Moro sugeriu poupar FHC de investigação na Lava Jato
Por CartaCapitalBolsonaro fala em “cana” para Greenwald e diz que jornalista é “malandro”
Por CartaCapitalUm minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.