O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, voltou a criticar o presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, neste domingo 07, Moro diz que as recentes declarações do capitão não têm sido felizes e o chamou de autoritário. “Sempre apoiei a democracia e o Estado de Direito. Vejo esses manifestos com naturalidade, como reação às declarações que não têm sido felizes por parte do presidente, esses arroubos autoritários”, afirma.
O ex-juiz, no entanto, acredita que não há espaço nas Forças Armadas para um golpe. “Quando o presidente invoca as Forças Armadas, a minha percepção é que não existe nenhum espaço nelas para um movimento de exceção, um golpe, algo dessa espécie. Quando o presidente fica invocando, de maneira imprópria para defender posições políticas, isso gera nas pessoas receio, temor. Isso é um blefe? Ou é alguma coisa real? Deveria ser evitado”.
O ex-integrante da pasta da Justiça faz pela primeira vez um aceno aos movimentos em defesa da democracia, que estão reunindo nomes de diferentes ideologias contra Bolsonaro. “Essa é uma questão em aberto. Minhas posições sempre foram muito favoráveis à democracia e ao Estado de Direito, e assim tenho me manifestado publicamente”, diz.
Para Moro, não há constrangimento dele integrar manifestos que possam ter membros críticos a seu trabalho como juiz da Lava Jato, apesar das resistências de alguns setores a seu nome. “Na democracia temos muito mais pontos em comum do que divergências. As questões pessoais devem ser deixadas de lado”, disse. “Não fui algoz de ninguém”.
na entrevista, Moro compara Bolsonaro ao Partido dos Trabalhadores. “É a estratégia que eles adotam, negando os crimes que foram praticados durante a presidência do PT, durante o período que o partido tinha o controle sobre a Petrobras, junto a seus aliados, é mais ou menos o equivalente à postura do presidente da República, que nega a existência de uma pandemia no momento atual. É um erro isso”, diz.
Moro deixou o governo de Jair Bolsonaro em abril deste ano. Ao sair, o ex-ministro acusou o presidente de interferir politicamente na Polícia Federal, o que fez a PGR abrir um inquérito para investigar as acusações. “Quando prestei as declarações, nunca foi meu interesse prejudicar o governo. Eu quis explicar por que estava saindo e minha intenção era proteger a PF da interferência política”, justifica.
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