Morde e assopra

A ambiguidade na manifestação na Avenida Paulista soou como uma estratégia premeditada dos bolsonaristas

Canarinhos. Enquanto Bolsonaro implorava por uma anistia ampla, geral e irrestrita, o pastor Malafaia praguejava contra os “infiéis” – Imagem: Nelson Almeida/AFP

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A manifestação bolsonarista na Avenida Paulista, no domingo 25, revelou também sua estratégia. Tanto o resultado do ato quanto o que ele revelou mostraram um jogo de ambiguidades. Por um lado, o evento foi defensivo, veio imantado pelo medo das investigações conduzidas pela Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado. Medo também dos julgamentos do Supremo Tribunal Federal acerca dos atos e iniciativas ligados a essa tentativa. O risco de prisão da cúpula cívico-militar dessa conspirata e do próprio Jair Bolsonaro é real. Por outro lado, a magnitude da manifestação, independentemente das controvérsias sobre o número de participantes, indica a força política e mobilizadora mantida pelo bolsonarismo. Trata-se de um ato que quer manter a iniciativa da disputa política nas mãos da extrema-direita. Nisso, foi exitoso.

A estratégia da ambiguidade parece ter sido uma escolha deliberada dos promotores do evento. Essa estratégia defensiva/ofensiva revelou-se também nos discursos. Bolsonaro encarnou a defensiva: pouco atacou, assumiu o figurino do “pacificador” e propôs a anistia aos participantes dos atos golpistas. Coube ao pastor Silas Malafaia partir para o ataque. O ministro Alexandre de Moraes e o STF foram os alvos preferidos. Sobrou também para o governo Lula.

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3 comentários

José Carlos Gama 2 de março de 2024 19h29
Temos que ter sempre em mente que, o aspecto comunicacional da extrema direita, hoje representado pelos bolnaristas, mistura relegião com politica, Deus com STF/PT embaralhando ao bel prazer e dessiminando pseudos valores. Já a esquerda só tem o campo politico para se comunicar.
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 4 de março de 2024 00h49
Exatamente isso, as esquerdas e os movimentos sociais não podem e não devem se apoiar unicamente nas decisões judiciais do STF para combater o bolsonarismo e o extremismo de direita. Se faz necessário que as lideranças de todos os partidos de esquerda, progressistas, sindicais e independentes de cunho progressista , deixem um pouco somente o campo das redes sociais e mobilizem as massas para pressionar as instituições e o Poder Judiciário no caso o STF para a prisão imediata de Bolsonaro e todos os seus colaboradores de modo a passar a limpo todos os crimes que vivenciamos todos esses anos e assistimos quase que passivamente. Enquanto isso, Bolsonaro, General Heleno, Braga Neto, Malafaia desfilam livres, leves e soltos e articulam sorrateiramente o golpismo haja visto que têm o seu eleitorado fiel com alguns setores evangélicos, empresariais, e até de agentes de Estado fieis ao seu ideário golpista e extremista. Paralelamente às reivindicações por melhorias de trabalho, de vida e de revogações de retrocessos, tem que colocar como bandeira principal a prisão imediata de Bolsonaro e todos os que tentaram o golpe tabajara, como bem disse o ministro Alexandre de Moraes.
CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 6 de março de 2024 11h59
Enquanto essa ação for tratada depreciativamente com “golpe tabajara”, não será possível provar junto à população o quanto foi prejudicial à nossa jovem democracia.

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

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