Política

Moralismo a serviço da imoralidade

A CPI do caso Cachoeira volta um velho problema da política nacional: por meses só falaremos disso, e não dos problemas estruturais que afligem o País

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Prometi, e cumprirei, discutir com meus pacientes leitores a questão estrutural brasileira. Neste momento explicaria melhor a idéia de que só prosperam as civilizações que a um só tempo reunissem três premissas desenvolvimentistas: alto nível de investimento doméstico, coordenação estratégica entre governo, empreendedores e academia e alto investimento em gente. Mas o noticiário da semana não permite omissão.

Desculpem, a conjuntura me chama.

Em nosso País, seja pela vigente cultura católica, seja porque nosso povo vive uma vida dura pela sobrevivência, há um sentimento moral muito forte. A tradução simples é que ninguém agüenta mais a contradição da vida dura que vivemos em média, e a notícia malcheirosa da roubalheira generalizada e impune que testemunhamos pela televisão ou pelos jornais e revistas no espaço público…

Últimos artigos de Ciro Gomes:

Pois bem, aproveitando-se disto, despudoradamente, o conflito maniqueísta entre PT e PSDB de São Paulo parece querer impor ao País um novo embate moral, com todo o potencial paralisante (e, pior, desmoralizante) dos costumes democráticos recém conquistados.

A policia federal parece ter descoberto uma relação incestuosa entre um dos chicotes morais da aliança PSDB-PFL, quero dizer, DEM, e o crime vulgar: um bicheiro teria relações comprometedoras com militantes do DEM-PSDB de Goiás com ramificações com sucursais de revistas nacionais. Veja, esta é a acusação preliminar a ser aprofundada pelo ministério público e o judiciário. O PT achou, a meu juízo, oportunisticamente, ocasião ótima para voltar à velha prática de chibata moral da nação da qual havia sido afastado pelas contradições de governar. E incrivelmente associou-se  à idéia de uma CPI no Congresso. Não lembro de ocasião anterior em meus 32 anos de vida pública em que forças governistas apóiam uma CPI, instrumento normalmente associado à agenda de oposição.

Foi o bastante para o dispositivo reacionário brasileiro se armar e partir para a, desculpem o pleonasmo, reação. Moralista também, é claro! A tese é que o PT  “inventou” este escândalo para fazer uma cortina de fumaça em relação ao assim chamado escândalo do mensalão prestes  ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal.

Tenho pra mim que os melhores costumes democráticos e a melhor cultura jurídica recomendavam absoluta autonomia entre as duas “notitia criminis” . Ninguém é anjo nem ninguém é demônio na vida pública. Todos são inocentes até prova em contrário, assegurado julgamento justo, ampla defesa e contraditório no devido processo legal….

Bobagem minha… O efeito político desta repetida prática politiqueira está ferindo de morte a premissa democrática. A crença do povo no sistema já não acha base em que se sustentar. Pior: os jovens estão induzidos a crer que todos são iguais na pilantragem quando se trata da militância política em nosso Brasil.

Explico: nas próximas semanas, possivelmente meses, o Pais será induzido, de novo, a não mais refletir sobre seus desafios centrais, sobre seu pacto reacionário, sobre a insustentável distribuição de renda, sobre o caos em sua saúde pública, sobre sua deprimente educação pública, sobre seus desafios internacionais complexos, sobre a condição de vida de  nossas maiorias cumprindo uma terceira jornada de trabalho dentro de ônibus em nossas cidades mal organizadas… Teremos todos que, a depender da mídia engajada de lado a lado, optar contra qual artificial lado depositaremos nossa repulsa moral.

Antecipo o fim desta novela já repetida: ou se acertam os pilantras de lado a lado, ou, lamentavelmente, acabaremos em mais um episódio demonstrativo de que todos são iguais na safadeza e descompromisso com o interesse do povo.

Este é um falso dilema! Não podemos permitir que a sociedade iguale na percepção de indigência moral TODOS os agentes políticos.

Sei que não será o discurso, mas sim o exemplo concreto, que poderá nos livrar desta conclusão trágica. Ou seja, diante desta falsa disjuntiva, o que nos cabe como fração politizada da sociedade brasileira é uma terceira posição. Em linha com a melhor experiência internacional e com a melhor doutrina.

Toda força à crença de que nossos tribunais, assim como naquela memorável ocasião em Berlim, existem!

Saiamos de  nossas simpatias para a convicção madura e politizada de que distorções morais não são monopólio de nenhuma pessoa ou organização. Vigiemos que este jogo de empate não se consume. Ou seja : cale-se com relação à  minha safadeza que calo-me com relação à sua ( os embaixadores do deixa disso já estão  em marcha).

Porém, mais importante que tudo já dito, vacinemo-nos da tentação justa, mas imprudente e destrutiva, de desacreditarmos na política, a linguagem única da democracia.

O poder não se compraz com o vácuo. A linguagem da luta pelo poder numa democracia é a política. Se aceitarmos a superficial, embora compreensível crença de que a política é um pardieiro de pilantras, os decentes, maioria do povo, mas especialmente dos jovens, não aceitarão mais participar. A quem, isto aproveitaria ?

Certamente não aos decentes, maioria de nosso povo.

Por isto um cuidado sempre, mas especialmente nos próximos momentos da vida pública publicada do Brasil: o moralismo não pode ser posto a serviço da imoralidade!

Prometi, e cumprirei, discutir com meus pacientes leitores a questão estrutural brasileira. Neste momento explicaria melhor a idéia de que só prosperam as civilizações que a um só tempo reunissem três premissas desenvolvimentistas: alto nível de investimento doméstico, coordenação estratégica entre governo, empreendedores e academia e alto investimento em gente. Mas o noticiário da semana não permite omissão.

Desculpem, a conjuntura me chama.

Em nosso País, seja pela vigente cultura católica, seja porque nosso povo vive uma vida dura pela sobrevivência, há um sentimento moral muito forte. A tradução simples é que ninguém agüenta mais a contradição da vida dura que vivemos em média, e a notícia malcheirosa da roubalheira generalizada e impune que testemunhamos pela televisão ou pelos jornais e revistas no espaço público…

Últimos artigos de Ciro Gomes:

Pois bem, aproveitando-se disto, despudoradamente, o conflito maniqueísta entre PT e PSDB de São Paulo parece querer impor ao País um novo embate moral, com todo o potencial paralisante (e, pior, desmoralizante) dos costumes democráticos recém conquistados.

A policia federal parece ter descoberto uma relação incestuosa entre um dos chicotes morais da aliança PSDB-PFL, quero dizer, DEM, e o crime vulgar: um bicheiro teria relações comprometedoras com militantes do DEM-PSDB de Goiás com ramificações com sucursais de revistas nacionais. Veja, esta é a acusação preliminar a ser aprofundada pelo ministério público e o judiciário. O PT achou, a meu juízo, oportunisticamente, ocasião ótima para voltar à velha prática de chibata moral da nação da qual havia sido afastado pelas contradições de governar. E incrivelmente associou-se  à idéia de uma CPI no Congresso. Não lembro de ocasião anterior em meus 32 anos de vida pública em que forças governistas apóiam uma CPI, instrumento normalmente associado à agenda de oposição.

Foi o bastante para o dispositivo reacionário brasileiro se armar e partir para a, desculpem o pleonasmo, reação. Moralista também, é claro! A tese é que o PT  “inventou” este escândalo para fazer uma cortina de fumaça em relação ao assim chamado escândalo do mensalão prestes  ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal.

Tenho pra mim que os melhores costumes democráticos e a melhor cultura jurídica recomendavam absoluta autonomia entre as duas “notitia criminis” . Ninguém é anjo nem ninguém é demônio na vida pública. Todos são inocentes até prova em contrário, assegurado julgamento justo, ampla defesa e contraditório no devido processo legal….

Bobagem minha… O efeito político desta repetida prática politiqueira está ferindo de morte a premissa democrática. A crença do povo no sistema já não acha base em que se sustentar. Pior: os jovens estão induzidos a crer que todos são iguais na pilantragem quando se trata da militância política em nosso Brasil.

Explico: nas próximas semanas, possivelmente meses, o Pais será induzido, de novo, a não mais refletir sobre seus desafios centrais, sobre seu pacto reacionário, sobre a insustentável distribuição de renda, sobre o caos em sua saúde pública, sobre sua deprimente educação pública, sobre seus desafios internacionais complexos, sobre a condição de vida de  nossas maiorias cumprindo uma terceira jornada de trabalho dentro de ônibus em nossas cidades mal organizadas… Teremos todos que, a depender da mídia engajada de lado a lado, optar contra qual artificial lado depositaremos nossa repulsa moral.

Antecipo o fim desta novela já repetida: ou se acertam os pilantras de lado a lado, ou, lamentavelmente, acabaremos em mais um episódio demonstrativo de que todos são iguais na safadeza e descompromisso com o interesse do povo.

Este é um falso dilema! Não podemos permitir que a sociedade iguale na percepção de indigência moral TODOS os agentes políticos.

Sei que não será o discurso, mas sim o exemplo concreto, que poderá nos livrar desta conclusão trágica. Ou seja, diante desta falsa disjuntiva, o que nos cabe como fração politizada da sociedade brasileira é uma terceira posição. Em linha com a melhor experiência internacional e com a melhor doutrina.

Toda força à crença de que nossos tribunais, assim como naquela memorável ocasião em Berlim, existem!

Saiamos de  nossas simpatias para a convicção madura e politizada de que distorções morais não são monopólio de nenhuma pessoa ou organização. Vigiemos que este jogo de empate não se consume. Ou seja : cale-se com relação à  minha safadeza que calo-me com relação à sua ( os embaixadores do deixa disso já estão  em marcha).

Porém, mais importante que tudo já dito, vacinemo-nos da tentação justa, mas imprudente e destrutiva, de desacreditarmos na política, a linguagem única da democracia.

O poder não se compraz com o vácuo. A linguagem da luta pelo poder numa democracia é a política. Se aceitarmos a superficial, embora compreensível crença de que a política é um pardieiro de pilantras, os decentes, maioria do povo, mas especialmente dos jovens, não aceitarão mais participar. A quem, isto aproveitaria ?

Certamente não aos decentes, maioria de nosso povo.

Por isto um cuidado sempre, mas especialmente nos próximos momentos da vida pública publicada do Brasil: o moralismo não pode ser posto a serviço da imoralidade!

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