Economia
Missão do Senado nos EUA não deve barrar o tarifaço, mas busca canal direto com o Congresso dos EUA
O petista Jaques Wagner diz ser improvável adiar nova tarifa de 50%; Nelsinho Trad, do PSD, defende reconstrução de confiança


A missão oficial do Senado nos Estados Unidos começou oficialmente nesta segunda-feira 28 com a constatação de que será difícil reverter ou adiar a entrada em vigor da tarifa de 50% imposta sobre produtos brasileiros. O alerta foi feito pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT‑BA), durante o primeiro encontro da delegação brasileira com autoridades diplomáticas e especialistas em comércio internacional.
“Eu acho que não [é possível adiar a entrada em vigor]. O que a gente está fazendo é diplomacia parlamentar. É preciso que os governos se entendam. A gente está aqui para contribuir”, afirmou o senador, em reunião realizada na residência oficial da embaixadora Maria Luiza Viotti, em Washington. O encontro teve a presença de sete senadores, representantes do Itamaraty, ministros da embaixada e do ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, Roberto Azevêdo.
A missão, articulada pela Comissão de Relações Exteriores do Senado, é liderada por seu presidente, o senador Nelsinho Trad (PSD‑MS). O grupo busca reabrir canais diretos com o Congresso americano e “distensionar” o ambiente político diante da medida unilateral anunciada por Donald Trump.
“O Brasil quer construir, não confrontar. Estamos aqui para preservar uma relação de 200 anos que é sólida e mutuamente vantajosa”, afirmou Trad. Para ele, o papel dos senadores é abrir espaço à escuta política e diplomática. “A partir do momento em que a gente conquistar isso, eu penso que a missão já terá cumprido seu primeiro objetivo: criar o ambiente necessário para que o governo federal possa negociar.”
A embaixadora Viotti detalhou que o diálogo entre os governos já havia sido iniciado em março, com uma videoconferência entre o vice-presidente brasileiro e o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer. Esse encontro resultou na formação de um grupo técnico bilateral e na apresentação, por parte do Brasil, de dados que contestam a imagem de protecionismo difundida em Washington. Segundo ela, a tarifa média efetiva brasileira é de apenas 2,7%, inferior à média global.
“Foi com grande surpresa que recebemos a carta [de anúncio das tarifas adicionais]. O diálogo vinha fluindo, nossas considerações estavam sendo levadas em conta. Ainda assim, seguimos à disposição para dialogar”, afirmou Viotti. A diplomata também relatou que há ações judiciais em curso nos EUA. Uma delas, movida pela Johana Foods, que importa suco de laranja brasileiro, solicita suspensão imediata da tarifa antes de 1º de agosto. Outra ação, mais ampla, tem apoio de empresas e parlamentares norte-americanos e pode abrir um precedente jurídico relevante.
Roberto Azevêdo, que comandou a OMC de 2013 a 2020, defende que o atual impasse deve ser tratado como uma oportunidade. “O que está acontecendo agora está forçando o governo, o empresariado e a sociedade brasileira a repensarem como fazer negócios e como se aproximar mais dos Estados Unidos. Não podemos desperdiçar essa mobilização”, disse. Ele também alertou para os riscos de distorções políticas: “Noventa por cento das crises das quais participei eram isso: percepção equivocada. Não podemos embarcar nisso de novo.”
A delegação brasileira é composta ainda pelos senadores Tereza Cristina (PP‑MS), Fernando Farias (MDB‑AL), Marcos Pontes (PL‑SP), Esperidião Amin (PP‑SC), Rogério Carvalho (PT‑SE) e Carlos Viana (Podemos‑MG). Eles são acompanhados por assessores, diplomatas brasileiros e representantes da ApexBrasil. A programação desta segunda-feira inclui encontro com lideranças empresariais na Câmara de Comércio dos EUA.
Até quarta-feira 30, a missão segue com reuniões com senadores norte-americanos, democratas e republicanos, e visitas institucionais ao Brazil–U.S. Business Council e à Americas Society/Council of the Americas, em Nova York. O grupo também trabalha na construção de um grupo interparlamentar permanente Brasil–Estados Unidos, para fortalecer a diplomacia legislativa e ampliar a cooperação em temas como infraestrutura, bioenergia e sustentabilidade.
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