Política

Militares da ativa redigiram carta para pressionar Exército a aderir ao golpe, diz jornal

Informação publicada nesta sexta-feira pela Folha de S. Paulo tem como base um relatório da Polícia Federal

Foto: Exército Brasileiro/Reprodução
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Ao menos dois militares da ativa participaram da redação de uma carta de oficiais que tinha como objetivo pressionar o Exército a aderir ao golpe de Estado articulado nas entranhas do governo de Jair Bolsonaro (PL). A informação consta em um trecho do relatório da Polícia Federal usado para deflagrar a operação Tempus Veritatis.

O trecho do documento com a conclusão foi revelado pelo jornal Folha de S. Paulo desta sexta-feira 23.

De acordo com a publicação, a carta golpista foi escrita por coronel Giovani Pasini e, posteriormente editada pelo coronel Alexandre Castilho Bitencourt da Silva. O texto foi encontrado nos arquivos de Mauro Cid e data de 28 de novembro de 2022. A identificação dos autores foi feita pela PF usando os metadados do arquivo.

O texto produzido pela dupla tinha como alvo o general Marco Antônio Freire Gomes, que comandava o Exército naquele momento. A ideia era que o documento fosse assinado por um grande número de oficiais. Assim que começou a circular, o próprio Exército teria alertado aos fardados sobre os riscos de adesão ao movimento.

“Srs bom dia Alertem aos seus subordinados que a adesão a esse tipo de iniciativa é inconcebível. Eventuais adesões de militares da ativa serão tratadas, no âmbito do CMS (Comando Militar do Sul), na forma da lei, sem contemporizações”, dizia uma mensagem assinada pelo general Fernando Soares para chefes de organizações militares, obtida e revelada pelo jornal.

O que dizia a carta

A carta golpista produzida pela dupla de coronéis pedia, entre outras coisas, que o Exército atuasse em uma ação de Garantia da Lei e da Ordem, defendendo que o mecanismo seria papel constitucional da Força para garantir a preservação dos Poderes naquele momento. A GLO era vista por bolsonaristas como ponto fundamental para o golpe planejado.

Os oficiais alegavam no texto que estavam “sempre prontos para cumprir suas missões” e citavam ‘objetivos nacionais’ acima dos ‘interesses pessoais’. Em outro trecho, pediam ‘coragem’ aos soldados naquele momento.

“Covardia, injustiça e fraqueza são os atributos mais abominados para um Soldado. Nossa nação, aquela que entrega os maiores índices de confiança às Forças Armadas, sabe que seus militares não a abandonarão”, mostra um trecho citado pela Folha.

O texto ainda pedia que os comandantes tomassem iniciativas para o “imediato restabelecimento da lei e da ordem, preservando qualquer cidadão brasileiro a liberdade individual de expressar ideias e opiniões”. O contexto do pedido era ofertar uma proteção aos golpistas acampados em frente ao quartel do Exército.

Não é possível, ainda, saber quantos militares assinaram o texto, uma vez que o mecanismo de coleta de assinaturas não era transparente. Oficiais, no entanto, confirmaram ao jornal terem sido procurados no local de trabalho para aderirem aos pedidos do documento.

Quem são os autores

O coronel Giovani Pasini é oficial de artilharia da Academia Militar das Agulhas Negras, formado em 1997. É professor de colégios militares e autor de livros. Em 2022 foi candidato a deputado estadual do Rio Grande do Sul pelo partido Patriota, mas não conseguiu se eleger. Optou por ir então para a reserva em fevereiro de 2023.

Já o coronel Alexandre Bitencourt é oficial da arma de infantaria, também formado em 1997. Atualmente o oficial ocupa um cargo no Departamento-Geral de Pessoal do Exército.

Procurado, Pasini disse ao jornal que não iria comentar o assunto. Bitencourt sequer foi atendeu aos contatos da publicação. O Exército por sua vez alegou ‘segredo de Justiça’ para não comentar o assunto e alegou que prestará esclarecimentos aos investigadores, se acionados.

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