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Milei segue Bolsonaro e alega, sem provas, haver fraude em votação na Argentina

O ultradireitista também decidiu flertar com a possibilidade de o governo de Alberto Fernández terminar antes do esperado

O ultradireitista Javier Milei, candidato à Presidência da Argentina. Foto: Alejandro Pagni/AFP
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O ultradireitista Javier Milei, o grande vencedor das primárias que definiram os candidatos à Presidência da Argentina, reeditou uma prática comum na extrema-direita latino-americana e internacional: a alegação de fraudes no sistema de votação.

Milei obteve 30% dos votos no último domingo, mas disse ter faltado fiscalização em diversas regioões do país. Isso, segundo ele, resultou em um suposto “roubo” de cinco pontos percentuais dos resultados de seu partido, La Libertad Avanza.

“Se não tivesse havido fraude, eu estaria falando de 35 pontos. Temos os estudos para provar. Estaríamos na iminência de ganhar no primeiro turno”, disse o economista em entrevista ao canal La Nación+ na noite da terça-feira 15.

Questionado sobre os supostos “estudos”, disse que os detalhes estariam com sua equipe e não informou, por exemplo, as regiões em que o pretenso “roubo” teria ocorrido. Foi o suficiente, porém, para incendiar ainda mais sua militância nas redes sociais e criar um factoide. O primeiro turno na Argentina está marcado para 23 de outubro.

O segundo candidato mais votado nas primárias foi o ministro da Economia, Sergio Massa, representante do peronismo, com 21%. Patricia Bullrich, o nome ungido pelo campo aliado ao ex-presidente neoliberal Mauricio Macri, registrou 17%.

Com as acusações de fraude no sistema eleitoral, Javier Milei segue pari passu a cartilha de extremistas de direita que ascenderam recentemente ao poder, a exemplo de Jair Bolsonaro, no Brasil, e Donald Trump, nos Estados Unidos. As bravatas, porém, já custaram caro aos dois.

Em julho de 2022, Bolsonaro decidiu ser uma boa ideia reunir embaixadores estrangeiros no Palácio do Planalto para repetir “denúncias” infundadas sobre as urnas eletrônicas e a Justiça Eleitoral. Menos de um ano depois, o Tribunal Superior Eleitoral apontou abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação e tornou o ex-capitão inelegível por oito anos.

Na sessão em que o TSE sacramentou a decisão, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que “presidente que ataca a lisura do sistema eleitoral que o elege há 40 anos não está no exercício de liberdade de expressão”, mas em “conduta vedada e abuso de poder”.

Trump, por sua vez, ainda enfrenta as consequências de seu golpismo. A Justiça da Geórgia indiciou na última segunda-feira 14 o ex-presidente e outras 18 pessoas por tentarem mudar o resultado da eleição de 2020 no estado.

A investigação nasceu de um telefonema, em janeiro de 2021, no qual Trump pediu a um funcionário local, Brad Raffensperger, que “encontrasse” cerca de 12 mil cédulas em seu nome, o número de que ele precisava para reverter a vitória de Joe Biden. O julgamento sobre o caso da Geórgia tende a ser transmitido ao vivo pela televisão norte-americana, enquanto Trump tenta fortalecer sua pré-candidatura à Casa Branca em 2024.

De volta à Argentina: na entrevista ao La Nación+, Milei também repetiu a promessa de extinguir o Ministério da Ciência e privatizar o Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas, o prestigiado Conicet. Sua ideia é criar o Ministério do Capital Humano e deixar sob seu guarda-chuva as pastas de Desenvolvimento Social, Saúde, Educação e Trabalho.

Chamou a atenção no programa, ainda, o fato de o “libertário” flertar com a chance de o governo de Alberto Fernández se encerrar antes da data prevista, ou seja, em 10 de dezembro. Instado pelos apresentadores a comentar como se fosse um tema banal, Milei não descartou a possibilidade e emendou: “Estou preparado para assumir agora”.

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