Política

Método barra-pesada bolsonarista alimenta guerra “Hasselmann x Zambelli”

Alegado roubo de informação, tentativa de aliciamento e a suspeita de ação do serviço particular de inteligência de Bolsonaro

Método barra-pesada bolsonarista alimenta guerra “Hasselmann x Zambelli”
Método barra-pesada bolsonarista alimenta guerra “Hasselmann x Zambelli”
As deputadas federais Joice Hasselmann e Carla Zambelli, do PSL de São Paulo. Foto: Reprodução/YouTube
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As deputadas Joice Hasselmann e Carla Zambelli, do PSL paulista, estão em guerra, a ponto de a primeira acusar a segunda ao Supremo Tribunal Federal (STF) de três crimes. Jair Bolsonaro diverte-se com o enrosco em fake news por parte de Joice, sua ex-líder no Congresso, e pede ao STF que a ponha na lista de investigados do inquérito que mira as milícias digitais presidenciais.

A batalha é reveladora dos métodos barra-pesada do bolsonarismo, a incluir alegado roubo de informações e, talvez, aquele serviço particular de inteligência que o presidente diz ter. Métodos que, nesse caso, estão a serviço não só da luta política, mas também da tentativa de salvar a pele de um filho do ex-capitão, o deputado federal Eduardo.

No início do ano, Joice demitiu dois assessores. Estava insatisfeita com a defesa feita dela nas redes sociais. Era atacada pelas milícias digitais bolsonaristas desde sua ida à CPI das Fake News em 4 de dezembro. Com base em seu depoimento, a CPI acionou o Facebook e recebeu, em fevereiro, uma informação a ligar um assessor de Eduardo Bolsonaro, Dudu Guimaraẽs, à criação de um perfil de fake news, o Bolsofeios. Uma prova por ora anulada pelo STF, a pedido da defesa de Guimarães.

Segundo advogados de Joice, os dois assessores demitidos tinham “acesso irrestrito” aos celulares da deputada. Após perderem o emprego, prosseguem os advogados, os dois “invadiram conversas privadas, copiaram mensagens, áudios e preparam um criminoso ‘dossiê’”.

A quem teria sido entregue o tal “dossiê”?

Em 28 de abril, Jair Bolsonaro fez comentários enigmáticos, na porta da residência presidencial, sobre fake news. “Se eu tivesse um áudio, de uma deputada muito conhecida aí, e ela passando para uma pessoa dizendo o seguinte: ‘Olha, cria mais uns perfis falsos aí pra atacar fulano de tal’. Você acha que ia pegar mal para essa deputada?”.

Quem seria ela? Bolsonaro riu e não contou. Mas deu pistas. “Tá muito ativa na CPMI (das Fake News). Acusando os outros do que ela faz. Ela não é de esquerda, não tá? É uma falsa direita” disse. E completou: “Tô evitando há mais de um mês que esse áudio chegue a conhecimento público, vai pegar muito mal pra ela. Ela é de São Paulo”.

O ex-capitão queria algo em troca para continuar “evitando”?

Naquele dia, o site R7, da Record, canal com quem o presidente se dá bem, divulgou um áudio de Joice. A bolsonarista arrependida encaixa-se na descrição feita pelo ex-capitão. “Podia falar com a turma aí para fazer vários perfis e entrar de sola no Twitter especialmente, Instagram, porque eles estão botando todas as milícias lá e os robôs em cima de mim”, afirma Joice no áudio.

Na noite de 5 de junho, o Jornal da Record divulgou áudios e mensagens de celular de Joice e da assessora de imprensa dela, Caroline Marcelino. Já a CNN Brasil levava ao ar entrevistas com dois ex-assessores da deputada, cujas identidades foram preservadas mas provavelmente são os demitidos do início do ano, em que eles relatam que Joice seria chegada a fake news.

Após as duas reportagens, Carla Zambelli ligou para Caroline, que gravou a conversa. Dizia que Joice jogaria a culpa na assessora. Em um dos áudios divulgados pela Record, Joice conversa com uma “Carol”. Em uma mensagem por escrito também divulgada, Caroline fala de um site onde é possível obter CPFs falsos. Estes eram necessários para criar mais perfis nas redes sociais.

No telefonema, Carla dizia ainda que denunciaria Joice na Procuradoria-Geral da República (PGR), que “vai ter coisas da Polícia Federal, vai ter mandado de busca e apreensão” e que Caroline talvez fosse “pega daqui a três ou quatro semanas em uma operação da Polícia Federal”.

Depois de fazer as insinuações, a deputada disse que seria melhor Caroline abandonar o gabinete de Joice. E que a ajudaria a arrumar um outro emprego: na liderança do PSL na Câmara. Ajudaria de graça? “Se você se dispor (sic) a pedir demissão, se dispor a contribuir e etc., fica melhor pra você, entendeu?”, afirmou Carla.

Para os advogados de Joice, o telefonema mostra três crimes de Carla, por trás da oferta de cargo público em troca de Caroline “contribuir”. Advocacia administrativa, tráfico de influência e constrangimento ilegal. Eles pediram ao Supremo a apreensão do telefone de Carla, para descobrir-se se ela falou com alguém da PF sobre operação a caminho. E que a corte mande o caso à PGR, para esta acusar Carla criminalmente.

O caso está no STF com Luís Roberto Barroso. Até a conclusão desta reportagem, o juiz não tinha tomado decisão quanto aos pedidos dos advogados de Joice.

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