Política

Mensagens mostram interferência de Moro em negociações de delação premiada

Vazamentos de mensagens expõem influência do ex-juiz nos acordos de delação de executivos da Camargo Corrêa

Mensagens mostram interferência de Moro em negociações de delação premiada
Mensagens mostram interferência de Moro em negociações de delação premiada
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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O ex-juiz Sergio Moro interferiu diretamente nas negociações de delação premiada de executivos da construtora Camargo Corrêa, apontam mensagens de novo vazamento do funcionamento da Lava Jato. Além de apontar a pena que desejava para os investigados, Moro também protagoniza uma cultura de adulteração das funções judiciárias no cerne da Operação. As novas mensagens foram reveladas pela Folha de S. Paulo e pelo site The Intercept Brasil.

Liderando a relação dos demais procuradores com o ex-juiz federal, Deltan Dallagnol escreveu, no dia 25 de fevereiro de 2015, que era recomendável que Carlos Fernandes dos Santos Lima, que conduzia as negociações com a construtora, marcasse uma reunião com Sergio Moro. “A título de sugestão, seria bom sondar Moro quanto aos patamares estabelecidos”, disse Dallagnol.

Com o incômodo do procurador – que apontou um “caos” no processo de delação, comparando-o a uma “barganha onde se quer jogar para a plateia” -, Deltan expressou sua preocupação com a aprovação do juiz, que já parecia consolidado como uma peça chave do sistema acusatório, o que destoa de suas reais funções.

Vc quer fazer os acordos da Camargo mesmo com pena de que o Moro discorde?”, perguntou Dallagnol a Carlos Fernando. “Acho perigoso pro relacionamento fazer sem ir falar com ele, o que não significa que seguiremos”.

O processo de delação premiada foi regulamentado pela  Lei das Organizações Criminosas (Lei 12.850/2013), que define, além de procedimentos de pena a ser aplicada, os papeis de cada órgão público na apresentação de provas e determinação da redução de pena.

“O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor”, diz o texto da lei.

No entanto, a influência de Sergio Moro no processo surtiu efeitos: os executivos Dalton Avancini e Eduardo Leite, que estavam presos de forma preventiva em Curitiba, sairiam da cadeia e cumpririam um ano de prisão domiciliar – tempo desejado e sugerido por Moro.

Em nota, o atual ministro da Justiça e Segurança Pública não reconheceu a autenticidade das mensagens, assim como a força-tarefa da Lava Jato – uma resposta padrão das partes desde os primeiros vazamentos, que ocorreram no início de junho. Os ex-diretores da Camargo Correa não quiseram se manifestar à reportagem.

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