Política

Marcelo Freixo tem o desafio de liderar uma frente progressista em 2020

‘Sem uma frente ampla, a esquerda não tem chance no ano que vem’, defende o deputado do PSOL

Lula e Freixo
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Sem uma frente ampla, a esquerda não tem chance no ano que vem”, resumiu o deputado federal Marcelo Freixo, do PSOL, enquanto se dirigia com pressa para uma convenção do PCdoB no Rio de Janeiro. O parlamentar, que acabara de chegar de um evento em São Paulo no qual tratou de milícias, não tinha tempo a perder ao seguir direto para o congresso e dar mais um passo no projeto em que trabalha há meses e que se intensificou após a liberdade de Lula: convencer os partidos progressistas a apoiar sua candidatura em 2020 na disputa contra o atual prefeito Marcelo Crivella e o anterior, Eduardo Paes. “Estou buscando o comum e não o idêntico”, resumiu o parlamentar, que mais tarde postaria uma foto na qual aparece na bancada do evento. “Nós que acreditamos na democracia precisamos caminhar para derrotar o extremismo”, dizia a legenda em tom de parceria.

Com pouco mais de 40% dos votos no segundo turno das eleições municipais de 2016, Freixo tem apostado todas as fichas na composição de uma frente ampla para a prefeitura no Rio de Janeiro encabeçada por ele mesmo. Esbarra, porém, na reticência de setores e lideranças que poderiam tornar possível a aliança. Presente no comício de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos, no dia seguinte à libertação do ex-presidente, o deputado foi citado seis vezes pelo petista, que também tinha ao seu lado no palanque a correligionária, ex-governadora e atual deputada federal Benedita da Silva.

Se, na ocasião, com base nas palavras do ex-presidente, uma eventual aliança que colocasse Freixo à frente e Benedita na vice foi dada como certa, o mesmo Lula tratou de embaralhar o cenário em declarações posteriores, o que fez pensar que o apoio petista poderia acontecer apenas no segundo turno. Contribui para as candidaturas próprias dos partidos o fim da coligação proporcional para vereador em 2020. Sem esse arranjo, que vigorou até as disputas do ano passado, os postulantes dependem da visibilidade e do desempenho das próprias legendas. Será cada um por si, ao menos no primeiro turno. “Estamos muito avançados com o PT e o PV, há uma grande chance com a Rede e quero muito que venham também o PDT e o PCdoB”, afirma Freixo.

Será? “Lula quer que o PT apareça e mostre que ainda tem força depois do que sofreu, o suficiente para disputar as capitais de igual para igual”, afirma o ex-senador Lindbergh Farias. “Mas no caso do Rio de Janeiro é completamente plausível uma parceria no primeiro turno.” Washington Quaquá, ex-presidente regional da sigla, acrescenta: “Não podemos ignorar o legado que o PT tem no Rio e, se o Freixo é o candidato mais bem posicionado no campo progressista, também temos de lembrar da Benedita como alguém muito importante, que reúne a militância. Creio que a parceria vai acontecer, mas devemos montar um comando e consultar a população, além de pensar em um programa conjunto, sem hegemonias”. Caso parecido, em que uma chapa conjunta não é só possível, mas provável, ocorre em Porto Alegre, onde o PT e o PCdoB parecem unidos em torno de Manuela D’Ávila.

A definição de uma aliança que expresse posições sem um “contrato de adesão” ou uma “parceria pela parceria” é o que parece afastar potenciais aliados de Freixo em uma frente ampla. Cotada como pré-candidata, a deputada estadual Martha Rocha, do PDT, para quem o fim da coligação proporcional terá o efeito imediato de “pulverizar” e “colocar os partidos para considerar seriamente uma candidatura própria”, sem, contudo, ser um empecilho para eventuais alianças, também leva em conta um viés crítico ao avaliar as chances de uma aliança: “Para construir uma frente, não podemos querer nos apresentar como protagonistas, por mais que o intuito seja nobre”. Uma chapa PSOL-PT, garante, não influencia obrigatoriamente a posição de outras legendas: “A existência dessa coligação não será suficiente para mobilizar por si só uma frente, que só se constrói com um programa”. Martha Rocha afirma ainda não se sentir inclinada a aceitar, no momento, um eventual convite para ser vice de Freixo.

Não será fácil costurar uma aliança que atenda aos diversos interesses, do PSOL ao PDT

A mesma incerteza parece rondar os militantes do PSB. Um parlamentar do partido, que prefere o anonimato, define a situação: “Não adianta uma frente ampla ao redor de uma candidatura estreita. No nosso entendimento é preciso atrair mais setores do centro, ou não tem sentido. Se você me chama para participar, fico tentado a ver a esquerda ganhar, mas, se me chamam para apoiar uma chapa PSOL-PT e eu vejo que ela é radical demais para atrair setores do centro, a ponto de sacrificar as chances de vitória, aí é melhor não apoiar”.

Freixo garante que a ideia é, justamente, elaborar um projeto comum e sem protagonismos na construção de uma frente ampla que seja “muito mais que uma proposta de tempo de tevê” e funcione como uma união dos partidos não só contra Crivella ou Paes, mas ao redor de uma aliança construtiva. O deputado cita a última eleição municipal, na qual a esquerda teve vários candidatos à prefeitura e, mesmo assim, não conseguiu eleger muitos vereadores, como um argumento contra a ideia de que o fim da coligação proporcional possa ser um empecilho a um acordo. Prefere apostar na influência que pode ter ao se aproximar dos partidos: “Estou conversando com todos os setores por aqui, tratando com lideranças e estando presente desde agora”. Sobre o que falta para que uma frente ampla saia do papel, o deputado filosofa: “Tempo de amadurecimento”.

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