Política

Milhares vão às ruas pelo impeachment de Bolsonaro e pela vacina

Com palavras de ordem, faixas e gritos de ‘fora, Bolsonaro’, os protestos criticam a condução do governo na pandemia

Manifestações contra Bolsonaro acusaram governo de genocídio. Foto: Rener Pinheiro
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Após semanas agitadas por suspeitas de corrupção no governo federal, manifestantes voltam às ruas do País neste sábado 3 em atos em defesa do impeachment do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo e pelo menos outras 13 capitais. De acordo com os organizadores, ao menos 261 cidades no Brasil e no exterior devem registrar protestos contra o presidente. Os atos deste sábado receberam o nome de “3JForaBolsonaro”.

Nos últimos dois meses, esta é a terceira manifestação organizada por opositores do governo com atos programados em centenas de cidades do País; o primeiro foi em 29 de maio e o segundo, em 19 de junho. Além do impeachment, os manifestantes pedem a retomada do auxílio emergencial de 600 reais e a vacinação em massa da população. Este é o primeiro ato após o pedido unificado de impeachment, protocolado na Câmara dos Deputados na quarta-feira 30.

Os atos deste sábado são organizados por movimentos sociais como MST, MTST, frente Povo Sem Medo, Brasil Popular, Coalizão Negra por Direitos, União Nacional dos Estudantes (UNE), Central de Movimentos Populares (CMP) e Uneafro Brasil. Partidos como PT, PSOL e PCdoB apoiam as manifestações.

Em São Paulo, a Avenida Paulista recebe centenas de pessoas para o protesto marcado às 15 horas. A maioria dos manifestantes se concentra, como de costume, na quadra em frente ao Masp, mas com distanciamento, a manifestação já se estende até a altura da Alameda Campinas. Dezenas de militantes de partidos como o PT, PCdoB e PSOL, além de entidades como UNE e UBES, distribuem panfletos e adesivos a quem passe pela calçada. Com a chegada dos carros de som, apenas o sentido Consolação da avenida foi bloqueado.

Próximo à avenida Consolação, apoiadores do PSDB, partido que aderiu às manifestações pela primeira vez neste sábado, estão reunidos. A Secretaria de Segurança Pública do Estado vai reforçar o esquema de policiamento na manifestação, com cerca de 600 policiais.

A mensagem que começa a ecoar pela Paulista por meio das caixas de som é de que, independentemente de qual o partido, o País precisa se unir em prol da vida, diante das mais de 522 mil mortes pela covid-19.

Boa parte dos presentes usa máscara de proteção contra o novo coronavírus. A medida é reforçada constantemente pelas pessoas que discursam em um dos toldos da concentração. “Não tire a máscara, tire o Bolsonaro”, disse um dos militantes no microfone.

No caso do PSDB, a expectativa é de que o partido atraia hoje para a manifestação de 150 a 220 militantes, segundo Saulo Lima, apoiador do PSDB, com bandeira de apoio a Bruno Covas, prefeito de São Paulo que faleceu em maio em decorrência de um câncer. “Chegou a hora de fazer política sem ódio. Agora esse é o nosso mote”, comenta. Segundo ele, a ideia é de que os tucanos se reuniam ao restante da manifestação. “É preciso tomar um lado e esse lado é do Brasil. Esse presidente precisa sair agora”, diz.

Com bandeiras e faixas das cores verde e amarelo, uma delas escrito “impeachment já”, um grupo de jovens, muitos universitários ligados à União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes), querem aproveitar o momento para mostrar que as cores da bandeira brasileira historicamente foram estampadas em movimentos de apoio à democracia.

“Não se pode usar a bandeira brasileira para esconder a corrupção”, comenta Kauê Ferreira, estudante de educação física na USP, em referência ao uso das cores da bandeira pelos apoiadores de Bolsonaro. Segundo ele, depois das denúncias ao longo da semana em torno da compra da vacina inidana Covaxin, o lema agora é unir todos brasileiros que são contra o presidente, para depois voltar a se discutir divergência entre políticas econômicas, por exemplo.

Rio de Janeiro

O protesto no Rio de Janeiro foi encerrado por volta das 13h50 deste sábado, em frente à igreja da Candelária, na região central da cidade.

Durante o ato na Candelária, líderes de movimentos sociais e estudantis, sindicatos e partidos discursaram. Milhares de manifestantes gritaram palavras de ordem, como “impeachment, já” e “fora, Bolsonaro”. Discursaram diversos parlamentares, de vereadores a deputados federais, ligados a partidos de esquerda.

“O Rio de Janeiro é o berço do Bolsonaro, mas o Rio de Janeiro é muito maior do que a milícia, muito maior do que o Bolsonaro representa. Se Bolsonaro saiu do Rio para ser presidente, do Rio de Janeiro também vai sair a sua derrota”, disse o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), que usava camisa verde-amarela. “O verde-amarelo pertence ao povo brasileiro, não pertence à nenhuma ditadura.”

Benedita da Silva, deputada federal pelo PT do Rio, também criticou o presidente.

“Não queremos mais o Bolsonaro. O que estamos fazendo hoje e vamos fazer mais ainda é proteção, comida no prato, vacina no braço. Vamos representar cada família que perdeu seu ente querido, porque ele (Bolsonaro) precisava ganhar US$ 1 por cada vacina” discursou.

O protesto contra Bolsonaro começou por volta das 10h no Monumento Zumbi dos Palmares, na Avenida Presidente Vargas, região central do Rio de Janeiro. Os manifestantes iniciaram às 11h uma caminhada por quase dois quilômetros até a igreja da Candelária, na altura da Avenida Rio Branco.

Guardas municipais e policiais militares acompanham o protesto e orientam o trânsito na região. A duas pistas centrais da avenida Presidente Vargas foram fechadas, além de uma pista lateral. O ato na Candelária provocou ainda o fechamento da Avenida Rio Branco, também uma das principais vias do centro da cidade, dificultando o trânsito na região.

Durante a caminhada, manifestantes carregaram bandeiras e cartazes culpando o presidente pelas mais de 522 mil mortes durante a pandemia. Placas faziam referência a acusação de que o governo Bolsonaro cobrou uma propina de US$ 1 por dose de vacina da AstraZeneca. “Quem perdeu alguém por US$ 1”, mostrava uma das placas dos manifestantes.

O ato teve ainda demandas diversas, como cultura, educação e fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Um grande boneco inflável do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi montado no início da manifestação, com uma faixa com as palavras “Lula livre” e uma máscara de proteção. A grande maioria dos manifestantes usava máscara, mas havia pontos de aglomeração.

Nos trios elétricos dos organizadores, oradores se revezaram durante a caminhada com críticas ao presidente. Uma das vozes ouvidas foi a da cantora de samba Teresa Cristina.

“É uma pena que a gente esteja passando por isso. Esse presidente é sujo, é muito corrupto”, gritou a cantora. Ela cantou o samba enredo da Mangueira de 2019 “Pra ninar gente grande”, que ataca narrativas históricas oficiais.

Uma das manifestantes era a publicitária Malu Ibarra, 56, moradora da zona sul do Rio. Ela afirma que participou de todas as grandes manifestações na cidade desde as Diretas Já, que mobilizou cerca de um milhão de pessoas em comício na Avenida Presidente Vargas, em 1984. Para ela, o governo Bolsonaro é o pior desde o golpe militar.

“Estou aqui, em primeiro lugar, para fortalecer a democracia. Estou aqui também a pedindo a saída do Bolsonaro ou tentando esvaziá-lo para que não se mantenha no poder na próxima eleição”, disse a publicitária. Ela revelou que anulou seu voto na eleição presidencial passada.

As manifestações são convocadas e apoiadas por movimentos sociais, partidos políticos, centrais sindicais, entidades estudantis, entre outros grupos organizados.

Fotos: Rener Pinheiro

Recife

No Recife, centenas de pessoas participam do ato deste sábado. Movimentos sociais e militâncias de partidos de esquerda marcam presença expressiva, mas, diferentemente do protesto do dia 19 de junho na capital pernambucana, muitos idosos, famílias e crianças participam do ato.

Poucos carros de som conduzem a multidão, que, em sua maioria, caminha sob gritos de “fora, Bolsonaro” e “genocida”, bem como o som de batucadas de percussão. A maior parte das pessoas veste vermelho, preto (com alguma referência ao luto pelos mais de 522 mil mortos pela covid-19 no País) ou as cores da bandeira do Brasil.

Em comparação aos dois protestos anteriores na capital pernambucana, há um registro maior no número de cartazes que pedem explicitamente o impeachment do presidente. Há também outros que citam crime de prevaricação, corrupção e a CPI da Covid.

Políticos de oposição ao governo Bolsonaro, como o senador Humberto Costa (PT) — membro da CPI — marcam presença no ato. Em alguns momentos, manifestantes puxam o canto “olê-olê-olá, Lula, Lula”, em referência ao ex-presidente petista.

Maceió

Em Maceió, devido às fortes chuvas que caíram na cidade nos últimos dias, o número de manifestantes foi muito menor do que o registrado no ato do dia 19 de junho. A Polícia Militar não divulgou estimativa quanto ao número de participantes do ato.

As centenas de manifestantes presentes gritavam palavras de ordem como “Bolsonaro genocida” e “fora, Bolsonaro”, os manifestantes percorreram as ruas da capital empunhando faixas e cartazes. O ato também fez referência às suspeitas de corrupção na compra de vacinas, alvo de investigação por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da CPI da Covid.

São Luís

Na capital maranhense, os manifestantes ocuparam a Praça Deodoro, região central de São Luís, na manhã deste sábado. Eles pediam o impeachment do presidente Bolsonaro, e a manutenção do auxílio emergencial no valor de R$ 600,00.

“Mais uma vez, viemos pedir a manutenção do auxílio emergencial até o fim da pandemia. Estamos em defesa da vida e contra a má distribuição das vacinas. Somos contra esse governo genocida e o impeachment é a melhor saída”, diz Eduardo Correa, estudante de Economia da Universidade Federal do Maranhão.

O ato teve uma pequena discussão entre manifestantes e um jovem, identificado como Eduardo Andrade, apoiador do presidente que proferiu palavras de apoio a Bolsonaro no meio da manifestação. Na mesma hora, a situação foi tranquilizada pela turma do “deixa disso”.

Com um número maior de participantes do que a manifestação de 19 de junho, o ato contou com a presença de movimentos partidários e entidades, como Psol, PSTU, PDT, PCdoB, PSB, PT, PCB, PCO, UJS, UJC, CUT, Sinproessema, UNE, UBES, CTB e APLUMA. O ato terminou na Ponte José Sarney.

Porto Velho

Na capital de Rondônia, centenas de pessoas se reuniram para pedir o impeachment do presidente Bolsonaro e melhor gestão das políticas públicas durante a pandemia. O ato iniciou por volta das 8h30 (horário local), na Praça das 3 Caixas D’Água.

Em passeata, com máscaras e pedindo distanciamento mínimo entre os manifestantes, e em dezenas de carros, o ato percorreu as principais vias da região central da cidade. Empunhando cruzes, o grupo que puxava o ato encenou as milhares de mortes no país pela covid-19.

Durante o ato, manifestantes lembraram o escândalo envolvendo a compra de vacinas pelo governo federal e cobraram ampliação da imunização no Estado, que tem o segundo pior índice de vacinação no País.

O ato reuniu movimentos sindicais, estudantis e representações de grupos indígenas, que aproveitaram para protestar também contra a agenda de ações governamentais que quer aprovar o marco temporal nos processos para demarcação de territórios e liberar exploração econômica, como a mineração, nas terras indígenas.
Este foi o terceiro ato registrado na capital de Rondônia contra o governo federal este ano.

Goiânia

A concentração para o protesto contra o preseidente Bolsonaro em Goiânia começou às 9h na Praça Civica, centro administrativo do governo estadual, região central da cidade. Os manifestantes saíram em caminhada às 10h50 na direção da Praça do Trabalhador.

Dois carros de som participaram da manifestação, que foi organizada por dezenas de entidades, sindicatos e partidos. Os manifestantes usaram de alegorias e humor para criticar a gestão da pandemia pelo presidente Bolsonaro. Um manifestante levou um simulacro de uma seringa com a inscrição “impeachment”. Já um bloco musical com instrumentos de sucata entoou a palavra de ordem: “O Bolsonaro é um bandido, vale menos que um pequi roído.”

Houve um princípio de confusão no momento que a manifestação passou pelo cruzamento da avenida Goiás com a rua 61. Um manifestante foi detido pela polícia durante alguns minutos, por suspeita de pichação. Outros participantes do protesto pediram para que ele fosse libertado, o que acabou acontecendo e a caminhada prosseguiu.

Na parte final do ato, já na praça do Trabalhador, um policial da cavalaria caiu do cavalo e se feriu. Ele foi atendido inicialmente por outros militares dentro de uma viatura. Em seguida, foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado em uma ambulância. O ato foi encerrado após ao meio-dia.

João Pessoa

Em João Pessoa, a concentração começou pela manhã, no centro da cidade. Vários manifestantes portavam fotos de vítimas da covid-19. Algumas foram espalhadas pelas ruas durante a caminhada.

Em São Paulo, o ato está previsto para ter início às 15h. A concentração será em frente ao Masp, na Avenida Paulista. A Secretaria de Segurança Pública do Estado vai reforçar o esquema de policiamento, com cerca de 600 policiais.

Em Brasília, a manifestação está prevista para ter início às 16h, em frente ao Museu Nacional.

Os atos deste sábado são organizados por movimentos sociais como MST, MTST, frente Povo Sem Medo, Brasil Popular, Coalizão Negra por Direitos, União Nacional dos Estudantes (UNE), Central de Movimentos Populares (CMP) e Uneafro Brasil. Partidos como PT, PSOL e PCdoB apoiam as manifestações.

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