Política

Manifestação do dia 26: risco de fiasco e discórdia até dentro do PSL

Organizadores esperam levar uma multidão às ruas do Brasil. Difícil acreditar

A reconstrução democrática pode levar anos. Mas não há outro caminho senão pensar longe
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O texto à la Jânio divulgado por Jair Bolsonaro soou a alguns ouvidos como fraqueza. Mas, sob a ótica bolsonarista, pode ser interpretado como um clamor do presidente: com esse Congresso não posso governar, vão à rua me defender. Um claro exemplo da dog-whistle politics popularizada por Trump – que, como um apito para cachorros, soa quase inaudível para a maioria, mas atinge sua parcela específica com um significado bastante claro.

E é sob esse apito que está marcado para o dia 26, no domingo, um ato de pró-Bolsonaro e contra os parlamentares. O governo, oficialmente, não apoia. Mas Flavio, Carlos e Eduardo já convidaram seus admiradores a engrossar as fileiras.

Grupos como o MBL e o Vem Pra Rua, porém, anunciaram que não vão participar.

Os organizadores esperam levar mais gente às ruas que na greve estudantil da última quarta-feira. Difícil acreditar. Se é improvável que as ruas derrubem um presidente eleito há menos de seis meses, mais difícil ainda é tirar multidões de casa para defender um governo. Seja de esquerda, direita ou extrema direita.

Convocada pela UNE, a greve da semana passada aconteceu em mais de 60 cidades. A entidade estima que mais de 1 milhão de brasileiros tenham ido às ruas. Uma nova manifestação está marcada para o dia 30.

A ideia em favor de Bolsonaro divide opiniões até mesmo dentro do PSL. Uns acham que o fiasco de popularidade é certo. Outros temem que a guerra declarada ao Congresso prejudique a já azeda relação para a votação da reforma da Previdência e outros temas da agenda bolsonarista.

No último final de semana, as deputadas Carla Zambelli e Joice Hasselman trocaram farpas. A briga começou depois que Zambelli cobrou publicamente a colega (que lidera o PSL no Congresso) sobre a defesa da MP 870, que trata da reforma administrativa e que foi retalhada no Congresso. Joice subiu o tom na resposta:

Outra que titubeia é Janaína Paschoal. Artífice do impeachment de Dilma, a deputada estadual apontou, nas redes sociais, a incoerência de Zambelli e Eduardo Bolsonaro, cujo histórico recente de votações favoreceu o Congresso. Quando a casa aprovou a PEC que tirou do executivo o poder sobre o orçamento, em março, o líder do PSL Delegado Waldir cantou vitória.

Importante apoiador informal do PSL, o empresário Luciano Hang — aquele que exibe a careca em vídeos bizarros — também contemporizou. Embora apoie os protestos do dia 26, diz que a prioridade mesmo é aprovar logo a Previdência. Venha ou não o texto do Congresso, como querem alguns deputados do centrão.

Enquanto isso, a guerrilha virtual segue a todo vapor. A militância virtual tenta emplacar no Twitter hashtags como #OrePeloBrasil#BoldonaroNossoPresidente (assim, com D mesmo, um forte indício de ação automatizada), e grupos de WhatsApp dobraram a produção de conteúdo. Resta saber o frenesi virtual vai ofuscar as incertezas do mundo real.

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