Diversidade

Mais mulheres, mais negros, menos avanço

Quantidade recorde de mulheres e pessoas negras eleitas para o Congresso Nacional traz maioria de direita e não reflete luta por direitos de gênero e raça

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O aumento foi tímido e os avanços (se houver avanços) também devem ser. Nas Eleições 2022, houve um crescimento de 18% na quantidade de mulheres e de 8% no número de pessoas negras na Câmara dos Deputados. Elas serão 18% entre o total de parlamentares da Casa; deputados negros serão 26%. Além de fraco numericamente (mulheres e pessoas negras são 52% e 56% a população brasileira, respectivamente), o resultado também não é promissor na luta por direitos de gênero e raça.

“Em primeiro lugar, é um resultado quantitativo aquém do esperado. Em segundo lugar, é importante destacar que mais da metade dessas mulheres estão à direita do espectro político (de acordo com seus partidos). Então, em termos gerais não é possível afirmar que teremos um avanço dos direitos das mulheres, principalmente em relação aos direitos sexuais e reprodutivos, que são pautas mais limitadas pelo conservadorismo”, avalia Hannah Maruci, doutoranda em Ciência Política na USP e co-diretora d’A Tenda das Candidatas, projeto que capacita mulheres para campanhas eleitorais.

Entre mulheres negras, o aumento foi de mais de 100%. Em 2018, foram eleitas 13 deputadas negras; este ano, foram 29. No entanto, a maioria está à direita, embora as duas mulheres negras mais votadas sejam de partidos de esquerda: Erika Hilton (PSOL/SP) e Marina Silva (REDE/SP). Elas tiveram 256 mil e 237 mil votos, respectivamente.

“Foram menos lideranças negras progressivas eleitas do que os movimentos projetavam, mas as que conquistaram cadeiras são lideranças de perfil nacional, com muita legitimidade e contarão com uma base de apoio muito mais organizada e preparada para os desafios do próximo governo”, avalia Tainah Pereira, coordenadora política do Mulheres Negras Decidem e Co-coordenadora Geral do Estamos Prontas, iniciativa que lançou 27 candidatas negras ao Legislativo este ano.

Apesar do crescimento numérico, mulheres negras ainda estão muito longe da proporcionalidade em relação à população, já que são o maior grupo demográfico do país: 28% dos brasileiros. “Temos ainda 4% de mulheres indígenas (sendo apenas uma de um partido de direita) e duas mulheres trans — as primeiras eleitas para o Congresso Federal. É na diversidade dentro do grupo de mulheres que encontramos mais esperança no avanço, ou ao menos para barrar retrocessos sobre os direitos das mulheres”, completa.

Damares rumo à presidência do Senado

No Senado, o cenário foi de estagnação e retrocesso. Duas das senadoras eleitas são ex-ministras de Bolsonaro: Damares Alves (REP/DF) e Tereza Cristina (UNIÃO/MS). Damares já anunciou que quer ser a primeira presidenta da Casa e é a cara do projeto de poder explícito de setores conservadores ligados a algumas denominações evangélicas.

“A presença da ex-ministra Damares sustenta a agenda da extrema-direita no Brasil e coloca mais impedimentos no trâmite de proposições legislativas. Na última legislatura, o campo progressista foi pouco propositivo, porque precisava resistir a ataques”, avalia Joluzia Batista, membro Cfemea, Centro Feminista de Estudos e Assessoria, ONG feminista e antirracista que faz avaliações do atuação das parlamentares.

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