Política

Campinas vira peça-chave para Campos e Marina

O município de 785 mil eleitores e PIB estimado em R$ 36,7 bi é hoje o principal reduto do PSB em SP e servirá como vitrine para a legenda avançar no Sudeste

Campinas, a maior cidade do interior de SP
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A maior cidade do interior paulista é a principal arma da dupla Marina Silva/Eduardo Campos para ganhar musculatura no maior estado do País. Administrada pelo PSB desde o início do ano, Campinas, influente polo logístico, científico e de prestação de serviços de São Paulo, servirá em 2014 como vitrine e palanque da sigla no estado onde seus principais rivais, PT e o PSDB, foram fundados.

Em 5 de outubro, quando Eduardo Campos anunciou a filiação de Marina Silva, o único prefeito da legenda em seu palanque era o prefeito Jonas Donizette, que completará seu primeiro ano de gestão em Campinas e tem ampliado a presença ao lado do governador pernambucano.

Quando esteve no município em 2012, em apoio à candidatura de Donizette, Campos, um rosto ainda pouco conhecido no Sudeste, classificou a vitória em Campinas como “fundamental” para o crescimento nacional do partido. “Campinas é a maior cidade de São Paulo que nós governamos e ter ali um governo bem sucedido é claro que transfere para uma candidatura nacional”, diz o presidente do diretório estadual do PSB em São Paulo, Márcio França. “O tempo de gestão pode ter sido pequeno, mas já dá para criar uma marca, um modelo que pode ser referência.”

Essa situação exigirá do prefeito habilidade política para transformar Campinas em uma espécie de laboratório do PSB. A exemplo do que aconteceu em 2008, em Belo Horizonte, o prefeito foi eleito defendendo um bom relacionamento tanto com o PSDB quanto com o PT. Os tucanos têm a vice-prefeitura da cidade e petistas foram nomeados para dirigir secretarias municipais (depois foram expulsos da legenda pelo diretório municipal, que não reconhece o apoio a Donizette).

Para enfrentar situações como essa, Campos já deu aval aos gestores do partido para que participem de palanques múltiplos. Ou seja: não precisarão fazer campanha exclusiva ao PSB. Assim como ocorreu na eleição de Donizette, o discurso de Campos provavelmente será o de que não é “inimigo” nem do PSDB nem do PT, ainda que o embate provavelmente seja contra o candidato petista, caso tenha segundo turno.

“O processo de Campinas inspirou o processo nacional, porque na cidade ganhamos votos de uma faixa do eleitorado da periferia, que tradicionalmente votava no PT. Achamos que na projeção nacional deve acontecer a mesma coisa e, para ganhar do PT é preciso ter força no Nordeste sem deixar de crescer no Sudeste”, avalia França.

Malabarismo. Para evitar desgastes, o prefeito de Campinas terá de fazer um malabarismo político em 2014, avalia o cientista político da Unicamp Valeriano Costa. “Ele vai ter que ser o mais flexível que puder, mas com certeza seu maior papel será para ajudar Eduardo Campos”, diz.

O pesquisador lembra que Donizette venceu no segundo turno o candidato petista Marcio Pochmann, mas sempre divulgou que tinha bom relacionamento com o governo federal – de quem foi base na Câmara dos Deputados até 2012. O socialista, no entanto, também se reúne constantemente com o governador Geraldo Alckmin, que deve receber seu apoio caso tente a reeleição.

“Os dois candidatos que ele ‘namorava’ até agora serão oposição ao candidato do PSB, que precisa dele para crescer em São Paulo, onde a vitória em Campinas foi a mais importante para o partido no ano passado”, afirma Costa. “Agora, o prefeito fica em situação pouco confortável e, até por isso, ainda não pôde tomar medidas ousadas ou imprimir uma marca ao seu governo, esse é o paradoxo.”

Costa lembra também que essa é a primeira administração após a maior crise política da história da cidade, que em 2011 teve dois prefeitos cassados e passou parte de 2012 com uma administração interina. Isso porque, em seu segundo mandato, o então prefeito Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio (PDT), teve que responder a um processo da Câmara Municipal, que o acusou de omissão diante de um suposto esquema de corrupção que seria comandado por sua mulher, Rosely Nassim, denunciada pelo Ministério Público em ação ainda não julgada. Os vereadores cassaram o pedetista e depois também o petista Demétrio Vilagra, vice-prefeito na época do escândalo. Em seguida, assumiu o presidente da Câmara Pedro Serafim (PDT) para o mandato-tampão até o final de 2012.

Para o cientista político, até agora Donizette optou por ser mais discreto para evitar desgastes e ainda é cedo para avaliar sua popularidade. “Mesmo com os protestos de junho, em que quase todos os políticos tiveram queda de popularidade, em Campinas não dá para avaliar o efeito, já que as manifestações foram menores e o prefeito ficou invisível por antecipar a queda na passagem. Todo mundo ainda está na espera para ver o que ele [Donizette] vai oferecer em 2014”, afirma.

Em junho, após as manifestações populares, Donizette anunciou a redução na tarifa de ônibus municipal, de 3,30 para 3,00 reais. Segundo a Prefeitura de Campinas, a decisão foi tomada pelo prefeito por julgar que o momento exigia “resposta rápida ao clamor da população”. A redução exigiu compensação no subsídio pago às empresas de ônibus (um acréscimo de 18 milhões de reais ao valor anterior, de 36 milhões).

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