Economia

Lula será pragmático, mas deve bater de frente com Trump em alguns temas, diz ex-chanceler

Aloysio Nunes relembra a boa relação entre Lula e George W. Bush. A diferença entre os republicanos, contudo, é notável

Lula será pragmático, mas deve bater de frente com Trump em alguns temas, diz ex-chanceler
Lula será pragmático, mas deve bater de frente com Trump em alguns temas, diz ex-chanceler
Posse de Donald Trump em 20 de janeiro de 2025. Foto: Morry Gash/AFP
Apoie Siga-nos no

Donald Trump está de volta à Casa Branca para um segundo mandato, o que impõe ao mundo uma gama de novos desafios. Em relação ao Brasil, contudo, o pragmatismo deve seguir ditando o tom. É no que aposta o ex-chanceler Aloysio Nunes, ouvido nesta segunda 20 por CartaCapital. Lula (PT), pragmático como é, buscará pontos de contato com o líder norte-americano. Porém, em temas como mudanças climáticas, o diálogo promete ser truncado, marcando um contraste com a parceria aberta que Lula havia estabelecido com Joe Biden neste tema.

“O presidente Lula é um pragmático, já teve boas relações com o presidente Bush. O Brasil vai buscar pontos de convergência possíveis a partir da compatibilidade de interesses entre os dois países”, disse.

Nunes reforça que a diplomacia brasileira tem um caráter universalista e não impõe restrições ideológicas em suas relações internacionais — mantém vínculos formais com Estados Unidos, União Europeia, China e Coreia do Norte, por exemplo. Não há, no entanto, como negar o impacto de Trump 2.0 sobre uma agenda na qual Lula e Joe Biden conversavam na mesma língua: a pauta ambiental. 

“Ele [Trump]  tem uma posição radicalmente diferente da posição brasileira”, sintetiza Nunes. “É um tema em que tínhamos um contato muito livre e positivo com o presidente Biden. Esse clima não vai se reproduzir no governo Trump, mas temos de encontrar outras formas de compatibilidade de interesses.”

As incertezas vão além do clima. Desde novembro, ao derrotar Kamala Harris, Trump insiste em ameaçar com tarifas países que, segundo ele, prejudicam os interesses americanos. Em dezembro, mencionou o Brasil.

Para Aloysio, Trump não usa as tarifas como regulação comercial, mas como arma de guerra econômica, impondo os interesses de Washington pela força. China, Dinamarca e México são alvos frequentes de sua retórica.

“No primeiro mandato, ele já elevou tarifas sobre nossos produtos siderúrgicos, alegando proteger o mercado americano. Agora, parece disposto a ressuscitar essa ameaça”, alerta Nunes. Se Trump seguirá adiante ou usará isso como blefe, só o tempo dirá. Os 200 anos de relações Brasil-EUA, celebrados em maio de 2024, aguardam seu próximo capítulo.

O ex-chanceler prevê um Trump ainda mais radical, liderando um governo que rejeita o pós-guerra e o fortalecimento de instituições multilaterais focadas no comércio, nos direitos humanos e no clima.

“Ele não acredita na igualdade entre os Estados, princípio dessas organizações. Para Trump, os Estados Unidos são mais poderosos e devem impor sua vontade com base em sua força econômica e militar.”

Na esfera militar, Trump flerta com polêmicas: ameaça retomar o controle do Canal do Panamá — construído pelos EUA, entregue ao Panamá em 1999 — caso não haja redução nos pedágios para navios americanos. Também aventou publicamente a anexação do Canadá e da Groenlândia.

E a extrema-direita brasileira? Tiraria proveito do novo mandato de Trump? Jair Bolsonaro (PL) nutre uma esperança difusa de que o presidente americano o ajude a reverter sua inelegibilidade. “Bobagem”, resume Aloysio. “[Bolsonaro] é um bobalhão.”

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo