Política

Lula oferece jantar a donos de empresas investigados na Zelotes e Lava Jato

Este título é uma mentira. Quem fez isso foi outro pré-candidato a presidente, o tucano Geraldo Alckmin. A troca de nomes faz diferença?

Nas eleições de 2018, o candidato tucano pode enfrentar o ex-presidente Lula, até o momento o único cotado pelo PT para a sucessão de Dilma
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Informa a colunista Mônica Bergamo que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, reuniu boa parte do PIB brasileiro na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes. Entre os convidados estavam Marcelo Odebrecht e Jorge Gerdau, dos grupos de mesmo nome. Não foi citado pela Folha de S.Paulo o fato de a construtora Odebrecht ser uma das peças centrais na investigação da Operação Lava Jato. Tampouco foi avisado que a Gerdau é um dos alvos maiores da Operação Zelotes, focada na apuração de atos de sonegação fiscal no montante de 19 bilhões de reais, valor superior ao apurado nos desvios da Lava Jato.

O que isso tudo significa? Nada. Rigorosamente nada.

O governador pode receber em sua residência quem bem entender. Não é justo acreditar em crime no fato de Alckmin ter oferecido uma refeição a donos de empresas. Segundo a colunista, tratou-se de uma aproximação com o alto empresariado nacional em mais um movimento para viabilizar-se candidato a presidente em 2018 – Alckmin disputa a preferência do PSDB com o senador Aécio Neves. Nesse cenário, nada mais legítimo do que promover tal convescote.

O candidato tucano, seja qual for, deverá enfrentar o ex-presidente Lula, até o momento o único cotado pelo PT para a sucessão de Dilma Rousseff. Imaginemos então a mesmíssima situação descrita na coluna, mas trocando-se apenas os protagonistas. Sai um pré-candidato (Alckmin), e entra o outro (Lula).

A notícia seria mais ou menos essa: Lula e dona Marisa abriram seu apartamento em São Bernardo do Campo e ofereceram um jantar para grandes empresários brasileiros, entre eles os donos das empresas Odebrecht e Gerdau. Lula buscava apoio para sua nova candidatura à Presidência.

Qual teria sido o problema? Novamente, nenhum.

Contudo, cabe uma reflexão: o assunto teria sido noticiado sem sequer uma breve menção às operações Lava Jato e Zelotes, da Polícia Federal? Os jornalistas (não apenas da Folha) julgariam o encontro legítimo ou ficariam atiçados, tentando descobrir detalhes picantes do que foi conversado, o que foi servido e quanto custou cada garrafa de vinho? Isso sem entrar em possíveis ilações sobre financiamento de campanha.

O comportamento dos jornalistas, contudo, também não vem ao caso.

Cada veículo noticia o que bem entender, da forma que quiser. É livre para omitir ou destacar a informação que desejar. É assim que funciona a imprensa numa democracia e é assim que deve continuar sendo. É inaceitável qualquer iniciativa em outra direção.

Ocorre que toda a imprensa nacional com maior alcance, sejam rádio, jornal, TV, revista ou portal de internet, tem as mesmas preferências políticas. E não é só a simpatia partidária que é a mesma. Tais veículos defendem as mesmas posições em uma série de temas vitais para o País, como a terceirização, a redução da maioridade penal, os direitos humanos em geral, a taxação de grandes fortunas, o direito ao aborto, os direitos LGBT etc.

Em resumo, a imprensa do Brasil não reflete a diversidade brasileira. Não reflete a multiplicidade de credos, cores, raças, tamanhos de conta bancária, de gêneros, orientações sexuais e, muito menos, a diversidade ideológica.

Nessa realidade de uma imprensa de pensamento único, o fato de Alckmin poder jantar com quem quiser – inclusive investigados pela Polícia Federal — e um político do PT não poder fazer o mesmo é apenas o menor dos problemas.

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