Política

Lula montou um governo de centro-direita, não de esquerda, diz Dirceu

Em evento com empresários, o ex-ministro negou que o presidente incentive a polarização, atribuindo a radicalização ao ‘fundamentalismo religioso’

O ex-ministro José Dirceu em evento do grupo Esfera Brasil, em São Paulo, em 22 de abril de 2024. Foto: Ciete Silverio/Esfera
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O ex-ministro José Dirceu afirmou nesta segunda-feira 22 que o presidente Lula (PT) não montou um governo de esquerda, mas de centro-direita, com o ingresso de partidos como PP e Republicanos. Segundo ele, trata-se de uma “exigência do momento histórico que vivemos”.

“Eu falo isso e todo mundo fica indignado, às vezes, dentro do PT. Porque realmente parte do PL, o PP e o PR [Republicanos], de certa forma, estão na base do governo.”

No seminário Brasil Hoje, promovido pelo grupo Esfera Brasil em São Paulo, Dirceu propôs uma ‘revolução social’, enfatizando a necessidade de reformas na educação e o retorno à industrialização para combater a pobreza. Ele destacou, contudo, que essas medidas não são revolucionárias, mas sim uma adaptação do modelo europeu do século XIX. “Estamos atrasados quase 200  anos.”

Antes de seu discurso, Dirceu foi questionado sobre a suposta tentativa de Lula de manter acesa a polarização política no País. O ministro discordou dessa avaliação, atribuindo a radicalização nacional a eventos como o ato promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Rio de Janeiro. Dirceu descreveu o evento como marcado por um ‘fundamentalismo religioso’ e ataques à democracia, além de chamar atenção para o apoio da direita internacional e norte-americana.

“Polarização existe, radicalização existe porque estão querendo atacar a democracia”, prosseguiu. “Já passamos pelo governo Bolsonaro, estamos em nosso quinto governo e todos conhecemos nossos erros e nossos acertos. O Brasil merece uma oportunidade de buscar um pacto social e político para enfrentar esse momento no mundo, um momento de guerra, em que cada país está cuidando de seus interesses.”

Horas depois do seminário, a assessora de imprensa de Dirceu divulgou uma nota para dizer que ele, na verdade, define o governo Lula como “de centro-esquerda, apoiado por partidos de direita, e não um governo de centro-direita, como acabou afirmando”.

As eleições municipais em meio à polarização

O painel do qual Dirceu participou contou, ainda, com a presença do secretário de Relações Internacionais da prefeitura de São Paulo, Aldo Rebelo (MDB); do ex-presidente do PSOL Juliano Medeiros; e do deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE).

Rebelo e Medeiros estão em lados opostos na eleição municipal de São Paulo e apoiam, respectivamente, Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Carreras, embora não seja do estado, defendeu a candidatura da deputada federal Tabata Amaral (PSB).

Rebelo não mencionou o apoio de Bolsonaro e de outras lideranças da extrema-direita a Nunes e alegou que o governo do emedebista não é de direita, mas de “forças heterogêneas”, inclusive com partidos que compõem a base de apoio do governo Lula – o próprio MDB tem representantes na Esplanada dos Ministérios.

O ex-ministro da Defesa também negou a projeção de que a eleição em São Paulo será nacionalizada.

“Querem impor em São Paulo um terceiro turno de eleição presidencial. A eleição é municipal, entre candidatos que querem administrar a cidade”, argumentou. “Querem dividir o Brasil ideologicamente. Essa divisão nunca explicou o Brasil, que sempre foi um país da união de forças heterogêneas.”

Medeiros, por sua vez, sustentou ser inevitável que as disputas em grandes cidades reflita as divisões nacionais. Em São Paulo, segundo ele, a extensão dessa polarização tomará a forma de uma oposição entre progressistas e conservadores.

“No palco com Boulos teremos Marina Silva, Fernando Haddad e Lula. No palco de Nunes, teremos Jair Bolsonaro, Fábio Wajngarten e Ricardo Salles. É impossível negar que em alguma medida as eleições municipais de São Paulo expressarão uma divisão política que está se consolidando no País”, afirmou o ex-presidente do PSOL. “Essa divisão opõe projetos de País, de relação com as instituições e de modelo econômico.”

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