Mundo
Lula é recebido por Xi Jinping ao som de música que marcou o prenúncio do fim da ditadura
Além de buscar a representação do novo modelo de relação entre os países, a escolha da canção expõe crítica aos ataques da gestão Bolsonaro ao governo chinês


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi recebido pelo líder chinês Xi Jinping, na sede do governo em Pequim, nesta sexta-feira 14, ao som da canção brasileira “Novo Tempo“, de autoria do cantor e compositor carioca Ivan Lins.
A canção, gravada em 1980, marcou a fase de abertura política diante o fim da Ditadura Militar, com a Lei da Anistia, que permitiu o retorno ao País de diversos exilados políticos.
A sugestão do repertório foi feita pela chancelaria brasileira, com o objetivo de representar o marco de uma nova era nas relações bilaterais entre os países.
Na recepção, tocada pela banda militar, havia crianças com flores balançando bandeiras chinesas e brasileiras.
“No novo tempo/ Apesar dos castigos/ Estamos crescidos/ Estamos atentos/ Estamos mais vivos/ Pra nos socorrer”, diz parte da letra.
A relação Brasil-China, apesar de ter tido fortes relações comerciais nos últimos anos, sofreu com crises diplomáticas diante os ataques do ex-presidente Jair Bolsonaro, bem como do então chanceler Ernesto Araújo, que chegaram a acusar o país de se beneficiar com a pandemia do coronavírus, relatado como ‘o perigo do comunismo chinês’.
Para o compositor Ivan Lins, o significado da esperança e busca por liberdade exposta na letra da música, se repete no contexto atual.
“Nós lutamos, damos o nosso melhor e ficamos indignados porque amamos. O nosso amor é o mais verdadeiro, poderoso, intenso e eterno que existe! É a hora da esperança mais poderosa que temos”, comentou Lins sobre a recepção.
Amigos,
Estou muito emocionado! Vocês não imaginam o quanto isso significa para mim e para o Vitor. A letra de #NovoTempo, já em 1980, tentava levantar o ânimo de nosso tão amado povo. Fortalecendo e enchendo todos de esperança pela liberdade que conquistaríamos (continua) pic.twitter.com/8sxTkpNJZH— Ivan Lins (@ivanlinsoficial) April 14, 2023
A primeira-dama Rosângela Lula da Silva comentou em seu Twitter que conversou com a primeira-dama chinesa, Peng Liyuan, e falou sobre o significado da música.
“No fim da conversa, contei pra ela sobre como foi simbólico tocarem a música “Um novo tempo”, do Ivan Lins, na recepção de hoje. Vivemos, mesmo, um novo tempo. O Brasil voltou!”, escreveu.
No fim da conversa, contei pra ela
sobre como foi simbólico tocarem a música “Um novo tempo”, do Ivan Lins, na recepção de hoje. Vivemos, mesmo, um novo tempo. O Brasil voltou! 🇧🇷🇨🇳 pic.twitter.com/pFstdOFmTQ— Janja Lula Silva (@JanjaLula) April 14, 2023
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, também comentou sobre o evento e escreveu: “Esperança e ironia: presidente Xi Jinping e crianças chinesas recebem Lula ao som da música “Um novo tempo” de Ivan Lins.”
Questionado sobre o uso da palavra “ironia” no tweet, Teixeira respondeu: “Ironia com o governo Bolsonaro que tanto agrediu a China.”
Esperança e ironia: presidente Xi Jinping e crianças chinesas recebem Lula ao som da música “Um novo tempo” de Ivan Lins. pic.twitter.com/mJqFuCmg4O
— Paulo Teixeira (@pauloteixeira13) April 14, 2023
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Brasil e China criticam países desenvolvidos por baixo financiamento de ações climáticas
Por Victor Ohana
Ideia de usar moedas locais no comércio internacional deve ser aprofundada, diz Haddad na China
Por André Lucena
‘Ninguém vai proibir que Brasil aprimore relação com a China’, diz Lula a Xi Jinping
Por André Lucena