Política

Lula busca atrair votos de religiosos e classe média; veja os próximos passos da campanha

Em São Paulo, Fernando Haddad segue em busca de apoios, enquanto Tarcísio de Freitas planeja evento com ‘massa de prefeitos’

Lula se reuniu com políticos, intelectuais e representantes de movimentos sociais organizados, em São Paulo. Foto: Ricardo Stuckert
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O ex-presidente Lula (PT) intensificará nesta semana a busca por apoio dos evangélicos já que, segundo a pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira 10, o adversário Jair Bolsonaro (PL) saltou de 51% para 63% nas intenções de voto no segmento.

Uma agenda considerada importante para Lula ocorre nesta terça-feira 11, em Belford Roxo, no Rio de Janeiro. O petista caminha ao lado do prefeito da cidade, Waguinho, que é evangélico e ocupa o cargo de presidente do União Brasil fluminense.

Também está prevista a realização de um ato em São Paulo, com representantes de diferentes denominações evangélicas. No entanto, o evento pode não contar com a participação do ex-presidente, porque estará em agenda fora do estado.

A campanha avalia, ainda, divulgar uma “carta aos cristãos”. Um aliado de Lula disse à reportagem que analisou o documento e o aprovou. A ideia é pregar a liberdade religiosa e a parceria com as igrejas.

A articulação é da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA). Apesar de Lula já ter demonstrado incômodo com a divulgação de cartas, um aliado do petista disse que o documento deve sair. A situação seria diferente em relação a um texto destinado ao agronegócio, cuja versão já escrita ficou na geladeira.

Na quarta-feira 12, o vice na chapa, Geraldo Alckmin (PSB), deve aproveitar o feriado do Dia de Nossa Senhora Aparecida para visitar o município de Aparecida, no interior de São Paulo, junto com a esposa de Lula, Rosângela da Silva, a Janja.

A agenda dialoga com católicos, público no qual Lula tem 60% dos votos segundo o Ipec. Conversa, também, com moradores do interior paulista, onde o ex-presidente encontra menor popularidade. Os adversários Bolsonaro e Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato a governador, também devem estar em Aparecida na mesma data.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foto: Ricardo Stuckert

Enquanto cede à pauta religiosa, Lula ainda tenta puxar o debate público para a economia.

No fim de semana, a campanha decidiu elevar a faixa de isenção para o Imposto de Renda e incluiu aqueles que ganham até 5 mil reais. O QG também quer aproveitar um levantamento de segunda-feira que apontou recorde no endividamento em setembro. De acordo com a a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, 80% das famílias estão com contas em atraso. Os dados devem contribuir para críticas a Bolsonaro.

Um aliado de Lula projeta um diálogo maior com a classe média. Segundo sua avaliação, propostas de políticas tributárias estão entre as principais formas de atrair esse público.

Outros focos devem recair sobre políticas educacionais, que permitam que as pessoas evitem pagar instituições de ensino privadas sem perder a qualidade, e sobre políticas de saúde pública, que principalmente reduzam a fila de exames. A proposta desse aliado é de, também, mexer nas mensalidades de planos de saúde.

Alguns desses temas, sobretudo a educação, estiveram na pauta de um encontro de Lula com representantes da sociedade civil num hotel em São Paulo. Chamaram a atenção as participações de Paulo Marinho, empresário que financiou a campanha de Bolsonaro em 2018 e agora apoia Lula, de três ex-presidentes do PSDB e de líderes de associações, como a Todos pela Educação.

Além da tarefa de disputar o debate público, Lula calcula de forma estratégica onde deve marcar presença durante o pouco tempo de campanha do 2º turno. Depois de Belford Roxo na terça e Complexo Alemão na quarta, o petista deixa o Rio de Janeiro para uma caminhada em Salvador, na Bahia, na quarta-feira 12. Lá, ele levanta as mãos do petista Jerônimo Rodrigues, que disputa o governo do estado contra ACM Neto (União Brasil).

Na quinta 13, Lula vai a Aracaju, em Sergipe, onde Rogério Carvalho (PT) enfrenta Fábio Mitidieri (PSD). No mesmo dia, caminha em Maceió (AL). Na sexta-feira 14, participa de evento ao lado de Marília Arraes (Solidariedade) em Pernambuco.

Um aliado de Lula avalia que há espaço para ampliação de votos ao petista nos estados do Nordeste, até mesmo para compensar as dificuldades no Sudeste. As condições pioraram para Bolsonaro entre os nordestinos após o presidente associar os eleitores de Lula a analfabetos. O ex-capitão tem investido para reparar o erro na região e chegou a dedicar o seu primeiro programa eleitoral do 2º turno a esse público.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante votação em São Bernardo do Campo (SP). Foto: Ricardo Stuckert

Lula deve seguir o plano de evitar o Centro-Oeste. Depois dos estados nordestinos, o petista ainda quer passar no Sul, mas a sua tarefa principal deve ser visitar os estados do Sudeste.

Ainda se discute como aproveitar a aliança com Simone Tebet (MDB). Ela chegou a dizer publicamente que executaria a missão na qual fosse útil, no entanto, já demonstrou limitações, como a recusa em subir no palanque com Fernando Haddad (PT) em São Paulo, por conta do apoio do MDB ao candidato de Bolsonaro.

Um integrante da campanha diz que Tebet deveria sinalizar como deseja colaborar. Em São Paulo, a campanha tenta encontrar uma forma de aproveitar o apoio da senadora diante da condição de não estar com Haddad. Dos 4,9 milhões de votos que ela obteve nacionalmente, um terço está no território paulista.

Alckmin também deve ajudar Lula e Haddad permanecendo em São Paulo, em vez de seguir na agenda do Nordeste.

Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas. Foto: Renato Pizzutto/Band

Com Haddad, porém, o cenário é mais adverso. Um aliado disse à reportagem que a tendência é de desistência da ideia do ex-governador em tentar reunir uma foto com prefeitos do estado de São Paulo.

O objetivo é evitar a criação de um placar de prefeitos em que Tarcísio de Freitas saia com mais apoiadores em uma foto. A projeção, então, é divulgar os apoios de forma regionalizada. Nesta semana, Haddad planeja ter um encontro com o prefeito de Santos, Rogério Santos (PSDB). Ainda não se sabe se o petista obterá o apoio do tucano.

Já Tarcísio disse à reportagem que planeja realizar uma reunião de todos os prefeitos que apoiam a sua candidatura. O candidato bolsonarista fala em “massa de prefeitos” e diz ter “maioria absoluta” no estado. Além disso, espera ter o apoio do PSDB de São Paulo.

A sua preocupação está na capital, onde perdeu para Haddad por 44% a 32%. O ex-ministro da Infraestrutura afirmou que prevê um foco maior na zona leste e na zona sul da capital paulista.

O ex-ministro Tarcísio de Freitas. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A campanha de Haddad ainda tenta atrair o engajamento da ex-prefeita Marta Suplicy (sem partido). Ela já declarou voto a Lula, mas não se dedicou à eleição estadual. A ex-prefeita é vista como uma voz importante para as periferias.

A expectativa é de que Marta declare voto em Haddad, mas ainda não se sabe se ela poderá, por exemplo, gravar propaganda eleitoral. Espera-se que o tema seja resolvido até a semana que vem.

Haddad e Tarcísio se enfrentaram na segunda-feira 11 pela 1ª vez em um debate eleitoral de 2º turno, na TV Bandeirantes. O confronto ficou marcado pelo espaço dado a temas de âmbito nacional.

Na visão de um aliado de Tarcísio, a nacionalização do debate partiu mais de uma estratégia do candidato do PT, que precisa ajudar a votação de Lula no estado. Além disso, Haddad dependeria mais da associação da disputa aos padrinhos políticos Lula e Bolsonaro, para se recuperar de sua posição desfavorável no panorama local.

A campanha de Haddad nega que tenha ocorrido algum erro no 1º turno, apesar de algumas observações nos bastidores de que fazer Rodrigo Garcia (PSDB) de alvo possa ter colaborado com Bolsonaro e prejudicado Lula. A avaliação no entorno do ex-ministro da Educação é de que a campanha foi “redonda”.

No domingo 16, será a vez de Lula e Bolsonaro se confrontarem no estúdio da Band. O petista deve voltar para São Paulo na sexta-feira 14 e usar o sábado para se preparar. Já o ex-capitão ainda deve passar por Teresina (PI) na véspera do debate.

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