Lula: ‘As Forças Armadas têm compromisso constitucional’

Em visita a Portugal, o presidente eleito minimiza manifestações golpistas de militares e diz que o Brasil voltará à normalidade também nesta área

O presidente eleito Lula e o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, em Lisboa. Foto: Carlos Costa/AFP

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Lisboa | Em viagem a Portugal, Lula afirmou ignorar as manifestações golpistas de generais e disse não ter receio em relação ao comportamento dos militares. “Não me deixo basear por futricas ou tuítes. As Forças Armadas têm um dever constitucional e irão cumpri-lo, como cumpriram no meu primeiro mandato”, afirmou o presidente eleito durante entrevista coletiva em companhia do primeiro-ministro António Costa.

“O comando militar está tranquilo, me conhece. No momento certo, vou indicar quem será o comandante da Marinha, quem será o comandante da Aeronáutica, quem será o comandante do Exército. E aí o Brasil também vai voltar à normalidade nas relações entre as Forças Armadas e o governo.”

Parcela dos militares, incluídos oficiais da ativa, continua a incentivar as manifestações antidemocráticas, a colocar em dúvida o resultado das eleições e a demonstrar insatisfação com decisões dos juízes do Supremo Tribunal Federal.

Nesta semana, Alexandre de Moraes, do STF, enviou à Procuradoria-Geral um pedido feito pelo deputado federal Marcelo Calero de afastamento do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, por condutas consideradas ilegais durante o processo eleitoral, a começar pelo questionamento da lisura das urnas eletrônicas. A decisão teria incomodado o oficialato. O general Eduardo Villas Bôas acusou, por sua vez, a mídia de esconder os atos “patrióticos” que clamam por intervenção militar, enquanto o comando das Forças Armadas emitiu uma nota para desmentir uma Fake News bolsonarista de que cinco generais teriam impedido o golpe por apoiarem Lula. O mais surpreendente da nota é o fato de os comandantes se sentirem atacados em sua honra por supostamente defenderam a legalidade, ou seja, a garantia de que o vencedor nas urnas tomará posse em 1° de janeiro.

Lula afirmou ter vivido um momento excepcional com as Forças Armadas e lembrou que o seu governo foi o que mais investiu na recuperação das necessidades da área militar. “Quando eu tomei posse em janeiro de 2003, as Forças Armadas liberavam os soldados às 11 horas da manhã porque não tinha dinheiro para comprar o almoço. Nós investimos e reequipamos as Forças Armadas. Nunca tive nenhum problema com os militares durante os meus oito anos de governo. Não me preocupo com o que está falando o general Braga Netto.”

O petista foi recebido em Portugal com honras de chefe de Estado. Antes de se reunir com Costa, Lula visitou o presidente do país, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, mas saiu sem falar com os jornalistas. O contato aconteceu pouco antes do jantar com o primeiro-ministro. Na entrevista coletiva, Costa não escondeu a alegria: “Portugal tinha muitas saudades do Brasil, o mundo tinha muitas saudades do Brasil e eu tinha muitas saudades do presidente Lula. Vamos recuperar o tempo que perdemos. Temos muita coisa para fazer juntos”.


O brasileiro retribuiu. “Estou muito feliz de estar aqui e vim aqui para aprender”, disse. “O Brasil voltou ao mundo político, voltou a discutir os assuntos de interesse da humanidade. Fazia anos que o Brasil estava isolado. Não foi o mundo que isolou o Brasil, foi o Brasil que se isolou.”

Lula e Costa prometeram retomar as negociações bilaterais e a cúpula dos países de língua portuguesa, além de cooperar em prol do avanço do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Não só: o presidente eleito assegurou o pagamento de uma “dívida”.

“Finalmente vou assinar o Prêmio Camões para o Chico Buarque que o atual governo não quis assinar. E faço questão de estar em Lisboa com o Chico para a entrega do prêmio.”

Sobre as reações do mercado financeiro e a crítica de economistas tucanos a um suposto descontrole das contas públicas com a liberação de 175 bilhões de reais para o pagamento do Bolsa Família e de outras promessas de campanha, o futuro presidente foi taxativo: “Ninguém tem autoridade para falar de política fiscal comigo. No meu governo, fomos o único país do G20 a fazer superávit primário por oito anos consecutivos. Fui eleito para cuidar de 220 milhões de brasileiros, não só dos interesses do mercado. Não há nenhuma razão para esse medo”.

Apesar da chuva fina e do frio, apoiadores de Lula e defensores de Bolsonaro travaram uma guerra de slogans tanto na frente do Palácio de Belém quanto nas cercanias da residência oficial do primeiro-ministro. Um lado gritava “Lula, guerreiro do povo brasileiro” e outro “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”. Embora sobrasse entusiasmo das claques, que resistiram às intempéries, não houve registro de agressões físicas.

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