O descaso pelo ensino público está no cerne do racismo estrutural, afirma Macaé Evaristo, recém-eleita deputada estadual em Minas Gerais e uma das maiores referências na militância negra e na defesa da educação universal. Na entrevista a seguir, Evaristo analisa a pequena presença dos negros nos espaços de poder e diz que não basta criar pastas “segmentadas” para contemplar as minorias e os excluídos. “A gente quer estar no BNDES, quero a presença negra na Petrobras, no Ministério da Economia. Tem uma questão que é muito séria no racismo brasileiro. Quando a gente alcança algum espaço de poder, você pode olhar, o poder já não está muito ali. A nossa luta é desconstruir o racismo, fazer o poder estar onde nós estamos”.
“A GENTE QUER ESTAR NO BNDES, QUERO A PRESENÇA NEGRA NA PETROBRAS, NO MINISTÉRIO DA ECONOMIA, ONDE ESTÁ O PODER”
CartaCapital: Como pensar a escola, em especial a pública, na perspectiva dos direitos humanos?
Macaé Evaristo: Essa questão tem a ver com a minha própria história. A escola pública foi muito importante para mim, mas também foi um lugar onde convivi com o racismo, o preconceito, a desigualdade. Sei os desafios de ser pobre e lutar para estudar. A consciência do racismo me levou a participar de movimentos sociais, do movimento negro, a militar na educação. Fui trabalhar na periferia de Belo Horizonte, numa região com o menor IDH da cidade, com muita fome. Pensar política pública, política educacional, é olhar para os sujeitos, não adianta só pensar em um projeto, uma política. Falam muito dos conteúdos, das métricas, dos resultados, mas pouco das condicionalidades, de estabelecer condições objetivas para as crianças terem uma trajetória de sucesso. É preciso combater o racismo na escola, olhar para essas famílias imersas num racismo institucional, segregadas em bairro sem nenhuma qualidade de vida. As crianças chegam na escola e precisam ser alimentadas, pois não têm condição física devido à fome. E isso marca profundamente o jeito de o educador pensar a política. O empobrecimento no Brasil é uma construção social e política. Não se é pobre por natureza, mas pela desigualdade social. O racismo e o patrimonialismo institucional estão na raiz da estruturação do capitalismo no Brasil.
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