Política

Lista de Fachin acende sinal amarelo na base de Temer no Congresso

Tsunami político dificulta mobilização do governo para aprovar reformas

Lista de Fachin acende sinal amarelo na base de Temer no Congresso
Lista de Fachin acende sinal amarelo na base de Temer no Congresso
Plenário da Câmara dos Deputados esvaziado na quarta-feira 12. Painel eletrônico, porém, acusou 374 presenças
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O tsunami político que atingiu ex-presidentes, ministros, governadores, prefeitos, senadores e deputados com a divulgação da chamada “lista de Fachin”, com pedidos de abertura de inquérito e com a quebra de sigilo dos depoimentos do núcleo executivo da Odebrecht, alvejou também a base de Michel Temer no Congresso e mostra potencial de imobilizar reformas caras ao governo federal, como a previdenciária e a trabalhista. 

Poucas horas após a primeira publicação da lista, feita pelo jornal O Estado de S. Paulo na terça 11, o Congresso esvaziou-se, inviabilizando, pela terceira semana seguida, a votação do projeto de renegociação de dívidas dos estados. Um dos pontos de maior tensão são as contrapartidas (em especial o “ajuste fiscal”) exigidas dos entes federativos pelo governo federal em troca do alongamento da dívida e da carência nas parcelas iniciais.

Em meio à turbulência, o discurso do presidente Michel Temer continua na linha de que o país “não pode parar” por conta dos desdobramentos da Operação Lava Jato. 

“Aqui no Brasil, se não tomarmos cuidado, daqui a pouco achamos que o Executivo não opera, o Legislativo não opera, o Judiciário não opera. E não é assim. Quando nós criamos a repartição dos órgãos do governo foi precisamente para dar agilidade a toda a atividade pública. Cada um cumpre o seu papel”, disse ele. 

Temer acrescentou que seu governo tem “apoio especialíssimo” do Congresso Nacional. “Quero muito ressaltar sempre que o Executivo só funciona porque tem apoio do Congresso. Evidentemente nas eventuais divergências ou interpretações equivocadas, quem vai dar a palavra é o Judiciário. É isso que temos que prestigiar cada vez mais”, afirmou.

“Portanto, não podemos jamais paralisar o governo. Temos que dar sequência ao governo, dar sequência à atividade legislativa, dar sequência à atividade judiciária”, declarou na quarta-feira 12. 

Em fevereiro, porém, o peemedebista estabeleceu uma “nota de corte” para degolar ministros sob suspeita de envolvimento nos casos investigados pela Lava Jato. 

“Se houver denúncia, o que significa um conjunto de provas que eventualmente possam conduzir ao seu acolhimento, o ministro que estiver denunciado será afastado provisoriamente. Logo depois, se acolhida a denúncia, aí sim a pessoa se transforma em réu na Lava Jato e o afastamento é definitivo. Se alguém se converter em réu, será afastado independentemente do julgamento final”, declarou. Após o fim do sigilo das delações, descobriu-se que quase um terço do primeiro escalão do governo está citado.

Para os ministros, a sinalização é para que façam suas defesas pessoais. Ao mesmo tempo, afirmou que não demitirá nenhum deles no primeiro momento.

Reformas

Poucas horas após a divulgação da lista, que trazia pedidos de abertura de inquérito contra nove dos 28 ministros, Temer reuniu-se com o núcleo duro do governo no Palácio do Planalto e afirmou que centralizará as articulações com o Congresso, segundo apurou a Folha de S.Paulo, na tentativa de estancar a sangria da reforma da previdência no parlamento.

O governo Temer tem corrido contra o tempo para aprovar, ainda neste primeiro semestre, as reformas trabalhista e previdenciária. A tendência é que a articulação no Congresso, que já estava complicada, torne-se ainda mais grave. 

No encontro, Michel Temer, porém, insistiu no cronograma de aprovação das reformas ainda no primeiro semestre.

Relator do projeto sobre a dívida dos estados, o deputado Pedro Paulo mostrou incômodo com mais um adiamento e culpou o próprio governo pelo fiasco.

“Se [o governo] não consegue vencer numa votação dessas, um simples projeto de lei complementar, imagina numa reforma trabalhista ou da Previdência”, afirmou. Segundo O Estado de S. Paulo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), surpreendeu-se com a resistência dos políticos com relação ao projeto da dívida dos estados e mostrou pessimismo sobre a possibilidade de aprovação na próxima semana.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, procurou acalmar os interessados nas reformas. Ao jornal O Globo, afirmou que a expectativa governamental é que os parlamentares continuem “trabalhando normalmente” e que os inquéritos não devem nublar as expectativas do governo sobre as aprovações. 

“Não há razão para que os parlamentares deixem de trabalhar. A agenda continua”, afirmou. “Se a aprovação não ocorrer no primeiro semestre deste ano, e ficar para o segundo semestre, por mim, isso não altera o curso da agenda”, disse, ressaltando que, quando mais rápido andar, “melhor vai ser para o País”.  

Calendário 

O presidente da comissão especial que analisa a reforma trabalhista, deputado Daniel Vilela (PMDB-GO), disse que a votação da proposta poderá acontecer já na semana que vem, caso seja aprovado um requerimento de urgência em Plenário. Assim, os prazos de vistas (duas sessões) e emendas ao substitutivo (cinco sessões) poderiam ser dispensados.

O texto atualmente tramita em caráter conclusivo e, caso aprovado na comissão, segue direto para o Senado Federal.

Vilela descartou, porém, a votação pelo Plenário da Câmara também na semana que vem. “Como quinta-feira não tem havido quórum suficiente para uma votação tão importante como essa, acho difícil no Plenário”, afirmou.

Segundo o deputado, se for votada a urgência, a primeira reunião deliberativa sobre o relatório deve ser na próxima terça-feira e o texto já poderia ser votado na comissão neste mesmo dia ou na quarta-feira 19. Sem a urgência, a comissão deve esperar o prazo de cinco sessões para se reunir, o que deve acontecer em, pelo menos, duas semanas.

Na reforma da Previdência, a expectativa é que o relatório do deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA) apresente o relatório sobre a PEC 287/16 na terça-feira 16. 

 (Com informações da Agência Brasil e Agência Câmara)

 

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