Economia
Líderes veem reforma administrativa ‘sem rumo’ e dizem que só articulação de Lira pode salvá-la
A avaliação é de que, se a Câmara não for votar a reforma até o fim deste ano, as chances de aprovação em 2026 são praticamente nulas


A retomada do debate sobre a reforma administrativa na Câmara dos Deputados tem sido recebida com ceticismo por líderes partidários. Nos bastidores, a avaliação é de que apenas uma articulação direta do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), poderá dar fôlego real ao tema. Sem o envolvimento do alagoano, dizem congressistas, a proposta dificilmente sairá do papel, dada a fragilidade política de Hugo Motta (Republicanos-PB).
A , que muda regras de contratação e estabilidade no serviço público, foi uma das bandeiras centrais de Lira enquanto presidiu a Câmara. O ex-presidente chegou a defender publicamente a aprovação da reforma como um passo essencial para o controle das despesas públicas e chegou a cobrar “coragem” do governo federal para enfrentar resistências. Apesar do empenho, Lira não conseguiu levar o texto ao plenário antes de deixar o cargo.
A PEC 32/2020, que altera regras de contratação e estabilidade no serviço público, foi uma das principais bandeiras de Lira durante sua gestão. À época, o ex-presidente chegou a cobrar “coragem” do governo federal para enfrentar resistências corporativas. O texto, contudo, nunca chegou ao plenário.
Agora, instado por Lira e por parlamentares de diferentes legendas, Hugo Motta tenta ressuscitar o debate, enxergando na reforma uma chance de construir um marco político próprio. Ele designou Pedro Paulo (PSD-RJ) como relator e afirmou que pretende abrir uma rodada de discussões sobre os principais pontos do texto. A expectativa é que, a partir dessas conversas, seja possível medir o clima para uma eventual votação ainda em 2025.
Mas, segundo líderes ouvidos por CartaCapital, o cenário político é adverso. A leitura é de que o tema perdeu o timing e que o clima para a aprovação de uma reforma desse porte se deteriorou nos últimos meses. Parte dessa demora é atribuída ao próprio ritmo da Câmara, que nos primeiros meses de 2025 concentrou esforços em pautas como o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, aprovado por unanimidade, e o debate em torno da anistia aos golpistas de 8 de Janeiro.
Interlocutores de Motta também reconhecem que a base do governo ainda está dividida em relação ao tema, especialmente por se tratar de uma proposta originalmente apresentada durante o governo Jair Bolsonaro (PL). O Planalto evita se comprometer abertamente, receoso de perder apoio entre servidores e sindicatos, o que torna a articulação ainda mais delicada.
A avaliação entre líderes é de que, se a reforma não for votada até o fim deste ano, as chances de aprovação em 2026 são praticamente nulas, já que o ano que vem será dominado pelas eleições.
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