Política
Líderes comunitários apresentam suas prioridades a candidatos progressistas no Rio
O evento foi um oásis de proposições de políticas públicas em meio ao deserto de ideias criado por ‘especialistas’ e marqueteiros


Uma série de encontros entre candidatos no Rio de Janeiro e lideranças comunitárias proporcionou alguns dos debates mais ricos desta campanha eleitoral. Juliete Pantoja, da Unidade Popular, Marcelo Freixo, do PSB, e Rodrigo Neves, do PDT participaram, separadamente, das rodas de conversa organizadas pelas entidades Casa Fluminense, Instituto Marielle Franco e Ação Cidadania, que levaram aos candidatos temas da “Agenda Rio 2030 – Propostas por Justiça Econômica, Racial, de Gênero e Climática”, um oásis de proposições de políticas públicas em meio ao deserto de ideias criado por “especialistas” e marqueteiros nas propagandas do rádio e da televisão.
Os três candidatos firmaram compromissos relativos à geração de empregos, segurança pública, habitação, transporte, saneamento básico e ampliação de programas de transferência de renda: “A geração de empregos a partir da construção civil em infraestrutura urbana, articulando recursos do governo federal para abrir frentes de obra, é fundamental para combater a fome e a extrema pobreza no estado. É uma medida que tem de ser prioridade logo no primeiro ano de governo”, diz Henrique Silveira, coordenador-geral da Casa Fluminense. Outro ponto muito discutido foi a violência de Estado, traduzida nas recentes operações policiais nas favelas, que deixaram dezenas de mortos: “Foi discutida uma política de segurança pública que reduza as operações policiais violentas e traga uma lógica de mais inteligência na atuação do setor”.
Durante o breve governo de Cláudio Castro, candidato à reeleição pelo PL, aconteceram três das quatro operações policiais mais letais da história do Rio. Até julho, segundo a contagem de ONGs de direitos humanos, pelo menos 40 operações resultaram em 197 mortes nas comunidades e bairros periféricos: “O que a gente vê ao longo dos anos é uma ausência seletiva do poder público, que só se faz presente com o braço armado e com a brutalidade policial a partir de operações como a Chacina do Jacarezinho”, diz Thiago Nascimento, morador da comunidade e fundador do LabJaca, um laboratório de dados e narrativas sobre favelas e periferias.
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Marcelo Freixo prometeu pôr fim às operações letais nas favelas: “O que a gente tem que garantir, independente da autonomia administrativa e financeira que as polícias precisam, é que haja uma superintendência sobre todas elas que determine qual é a nossa política pública de segurança. Esses objetivos são: redução de homicídios e letalidade, controle da polícia, formação adequada e convênio com as universidades”, disse.
O candidato do PSB afirmou também que, se eleito, irá ampliar os canais de diálogo entre a polícia e as comunidades: “Precisamos recriar as ouvidorias independentes de polícia, com ampla participação da sociedade civil, e ter conselhos de segurança nos bairros.”
Rodrigo Neves afirmou que a segurança pública é “o campo de maior desafio” na reconstrução do estado: “Nosso plano passa necessariamente por um investimento em inteligência, qualificação das polícias e uma forte agenda de prevenção, com foco na juventude das comunidades”, disse o candidato do PDT, que prometeu também uma Secretaria Estadual de Segurança com centros integrados com as guardas municipais e as prefeituras.
Juliete Pantoja apresentou uma proposta de reestruturação das polícias com mudança nos critérios de seleção e treinamento de novos policiais: “Uma polícia antirracista e feminista, com enfoque nos direitos humanos e não na letalidade,” prometeu. Outro ponto levantado pela candidata da UP é o aumento da participação comunitária para integrar a população das comunidades no planejamento da segurança pública: “A política de guerra aos pobres que é feita no Rio está longe de resolver o problema da segurança. Por isso, nosso plano de governo inclui a proposta de desmilitarização da Polícia Militar”.
Além da violência policial, outro grande problema apontado pelas lideranças comunitárias do Rio é a falta de empregos e oportunidades de formação, sobretudo para os mais jovens. Fundadora do curso pré-vestibular Gente Formando Gente na favela do Caramujo, em Niterói, Amanda Almeida cobrou dos candidatos mais oportunidades para os jovens oriundos dos cursos comunitários.
Neves, Pantoja e Freixo se comprometeram com a melhora da infraestrutura urbana das periferias e a geração de empregos na área da cultura: “Eu acredito, no entanto, que o Estado pode fazer ainda mais, começando o investimento nos jovens hipossuficientes um pouco antes, criando um programa de capacitação localizado – principalmente nas periferias e comunidades – com apoio de organizações das localidades e cursos de pré-vestibulares de forma a contribuir de fato para a orientação vocacional e projeto de vida da juventude”, diz a jovem.
Essas medidas, acrescenta Almeida, teriam endereço certo: “Beneficiariam principalmente os jovens pretos, pardos, pobres e periféricos, que são os que mais têm dificuldade de inserção no mercado de trabalho e acesso às universidades”. A mobilidade urbana é quesito fundamental para a integração dos jovens ao mercado: “É preciso aumentar o tempo de integração no bilhete único e até mesmo incluir mais um transporte na integração, já que muitos jovens precisam pegar mais de duas conduções para chegar aos locais de trabalho. O aumento da oferta de transporte público é fundamental para que a juventude consiga se locomover na cidade, o que pode aumentar as chances de conseguir emprego em mais locais”.
Neves propôs a criação de frentes de trabalho: “O Rio tem as maiores taxas de informalidade do país e boa parte desses trabalhadores são jovens da periferia. Nosso objetivo é criar em uma espécie de ‘new deal ecológico’ com o objetivo recuperar escolas e hospitais abandonados. Outra frente é reestruturar a companhia estadual de habitação para construir casas populares. Esse programa vai gerar 150 mil novos postos de trabalho”, disse o candidato do PDT. Pantoja prometeu gerar mais vagas em creches comunitárias: “Nossa ideia é ter um programa específico que consiga atuar diretamente com mulheres que são vítimas de violência ou que estão passando por alguma situação de insegurança, para que elas possam ser direcionadas ao mercado de trabalho com amparo”.
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