Política

Liberátion sobre Bolsonaro: “Racista, homofóbico, misógino e pró-ditadura”

Ainda assim, registra o diário francês, o candidato seduz o Brasil

Bolsonaro na capa do jornal francês
Apoie Siga-nos no

Jair Bolsonaro está na capa do jornal Libération desta sexta-feira 5. “Racista, homofóbico, misógino e pró-ditadura. E, mesmo assim, ele seduz o Brasil” é a manchete do diário que estampa, em página inteira, uma foto do candidato da extrema-direita à presidência na escuridão.

Libé dedica seis páginas à reportagem especial assinada pela correspondente do diário no Brasil, Chantal Rayes. Ela aborda vários assuntos relacionados aos últimos dias de campanha, como o aumento da popularidade de Bolsonaro, bem como o movimento contra o candidato do PSL, #EleNão, que tomou as ruas das principais cidades brasileiras no sábado 29.

Libération reproduz uma das polêmicas declarações de Bolsonaro, durante o programa Roda Viva, na TV Cultura, em 30 de julho: “O português nem pisava na África. Foram os próprios negros que entregavam os escravos”.

Leia também:
A luta de classes de cima para baixo no duelo Bolsonaro-PT

“O homem que disse isso será talvez o próximo presidente de um país de mais de 200 milhões de habitantes”, escreve a repórter. “Essa enormidade negacionista e racista é apenas uma das numerosas provocações de um personagem que vimos aparecer no cenário político brasileiro sem levar muito a sério, antes de assistirmos assustados à sua ascensão”, reitera a matéria.

O jornal explica que no desenrolar de suas “aparições públicas desastrosas”, esse nostálgico da ditadura – que Bolsonaro rebatizou de Revolução de 1964 -, seduziu uma grande parte do eleitorado. Libération lembra que a campanha teve diversos episódios – como a prisão e a impossibilidade de Lula de participar das eleições, o ataque contra o candidato do PSL – que, diz o jornal, parecem fruto de “um roteirista diabolicamente criativo”. Mas a conclusão de tudo isso não é ficção, ressalta: algumas análises não excluem a possibilidade de Bolsonaro se eleger no primeiro turno.  

Mesmo sem participar dos últimos debates, Libé ressalta que o ultrarradical continua a avançar nas pesquisas de intenção de voto. Seu violento discurso, “que dá carta branca à polícia e ao Exército para dispararem contra supostos delinquentes”, convence as classes médias ou pobres exaustas da insegurança vivida no cotidiano. E as classes mais ricas têm sede de vingança do PT”, publica o jornal.

A repórter do Libération viajou a Ribeirão Preto, que apresenta como “a capital do agrobusiness”, onde Bolsonaro tem forte apoio. O jornal lembra que, na terça-feira (2), a poderosa bancada ruralista se manifestou à favor do líder ultrarradical. 

Para conquistar esses conservadores parlamentares, diz Libé, Bolsonaro prometeu dar ainda mais poder a eles, de forma que os povos indígenas e os quilombolas não tenham, segundo palavras do próprio presidenciável, “mais nenhum centímetro a mais de terra”. Já para resolver o conflito agrário com o MST, que o candidato da extrema-direita classifica de “bandidos” e “braço armado do PT”, o jornal destaca que Bolsonaro pretende “dar fuzis aos produtores rurais”, que serão, segundo ele, “o cartão de visita aos invasores”. 

O combate das brasileiras

Chantal Rayes também assina uma reportagem sobre o #EleNão, que classifica como “o combate das brasileiras, salientando que, “além de atacar negros e homossexuais, Bolsonaro “multiplica há décadas declarações contra as mulheres”.

A repórter explica que o movimento nasceu nas redes sociais e ultrapassou as fronteiras do Brasil, ganhando apoio até mesmo da cantora americana Madonna. Maioria do eleitorado, “a metade das brasileiras afirmam que não votarão, sob nenhum pretexto no ex-militar, que pena para se livrar da imagem de machista”, publica Libération.

No entanto, diz o jornal, de acordo com uma pesquisa de intenção de voto publicada no dia 2 de outubro, Bolsonaro ganhou seis pontos de apoio do eleitorado feminino, após as manifestações do #EleNão. Para Libération, as mulheres brasileiras conservadoras são “herméticas às declarações misóginas” do ultrarradical. Ao contrário das feministas, essas consideram que o candidato do PSL vai protegê-las, colocando em prática, por exemplo, a promessa da castração química dos delinquentes sexuais, e defendendo os valores da família tradicional. 

Leia mais na RFI:
Favorito, Bolsonaro foca no Nordeste de Lula e Haddad aposta no 2° turno
Eleições 2018: iniciativas cidadãs incentivam o voto em candidatos negros

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo