Política

Lewandowski diz que Valério foi a Portugal como ’empresário’ de Daniel Dantas

Citando relatório final da CPMI dos Correios, revisor sustenta que Valério buscava devolver poder sob fundos de pensão ao banqueiro

O ministro Ricardo Lewandowski. Foto: José Cruz/ABr
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Em seu voto pela absolvição de José Dirceu por corrupção ativa no julgamento do “mensalão”, nesta quinta-feira 4 no Supremo Tribunal Federal, o revisor Ricardo Lewandowski voltou a citar o episódio conhecido como “Conexão Lisboa”. Segundo o ministro, a viagem de Marcos Valério a Portugal para se encontrar com dirigentes da Portugal Telecom não tinha “nenhuma” relação com o ex-ministro da Casa Civil, mas com interesses do banqueiro Daniel Dantas “muito anteriores à posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência”.

Citando o relatório final da CPMI dos Correios, o ministro disse que em 1997, “em meio à controvérsia”, Daniel Dantas e o Grupo Opportunity “foram agraciados com fundos de pensão de empresas do setor público entregues pela administração (federal)”. Em 2003, após a descoberta de irregularidades nas empresas controladas pelo banqueiro, ele e seu grupo foram removidos da administração dos recursos. Com isso, seu poder na Brasil Telecom, Telemig e Amazônia Celular, entre outras empresas, estava abalado.

Então, prosseguiu Lewandowski, para manter-se à frente do controle dos recursos e “no afã de voltar ao poder”, canalizou recursos das companhias que controlava por meio de seu grupo para Marcos Valério. O publicitário os distribuiria aos interlocutores de Dantas, a fim de restabelê-lo. “Ele quase conseguiu, se não fosse a revelação do mensalão.”

Para a acusação, a viagem ocorreu a mando de Dirceu, apontado pelo Ministério Público Federal como o chefe do suposto esquema de compra de votos no Congresso. Valério negociaria com a empresa portuguesa o recebimento de 8 milhões de euros, um valor que seria repassado pelo PT ao PTB em troca do seu apoio. Também foram ao encontro em Lisboa Rogério Tolentino e Emerson Palmieri (PTB).

Valério alega ter ido a Portugal resolver negócios de suas agências de publicidade, pois a Portugal Telecom teria interesse em comprar a Telemig, que era sua cliente no Brasil. O publicitário alega ter tido a intenção de manter essa conta e obter parte dos trabalhos da Vivo, controlada pela empresa portuguesa.

Segundo o revisor, a Brasil Telecom, a Telemig e a Amazônia Celular possuíam contratos milionários com a DNA Propaganda e a SMP&B. Isso ocorreu porque Dantas via em Valério uma ponte no meio político que poderia ajudá-lo em sua empreitada para manter o controle das empresas. “Ele entregou contas a Valério com contratos milionários, com indícios de superfaturamento desde 2000 até a exposição do escândalo.”

Para manter as irregularidades, necessitava de “uma alta dosagem de influência política”. “Para isso, mantinha um time de investigadores e advogados caros a violar o direito de quem ousava passar em seu caminho”, disse.

Ainda sobre a “Conexão Lisboa”, destacou que o relatório da CPMI apontou “de forma cristalina a relação [de Valério] com o grupo Opportunity” e que a viagem para Portugal se deu para intermediar a venda da Telemig. “Valério fez a intermediação, mesmo que sem êxito. Era contratado por Dantas e atuou como verdadeiro empresário dele.”

O ministro buscou ainda refutar que nos encontros com altos executivos em Lisboa Valério tenha se identificado como representante do PT ou do governo brasileiro. Citou depoimentos de António Luis Guerra Nunes Mexia, ministro de Comunicação de Portugal, Miguel Horta, presidente da Portugal Telecom, e Ricardo Espírito Santo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo, com os quais o publicitário se reuniu, negando intenção política dos encontros. “O vi na vida por uma vez, em 15 minutos”, disse Meixa em carta rogatória. “Os objetivos desta reunião eram para falar sobre a Portugal Telecom e sua participação no mercado brasileiro”, completou.

Segundo o depoimento de Meixa, Valério foi apresentado como alguém com conhecimentos empresariais da Telemig, que se pretendia comprar pela Portugal Telecom.

Conexão Lisboa

A revelação dos contatos de Marcos Valério com a Portugal Telecom deixou clara, conforme relevou CartaCapital em 2005, a participação do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, na gênese da crise. Dantas tinha interesse em vender a Telemig Celular aos portugueses para, com isso, fazer caixa e comprar a parte do Citi no controle da Brasil Telecom.

O Opportunity e a Portugal Telecom chegaram a assinar uma carta de intenção, após meses de exaustiva negociação, mas a venda não foi concluída.

Soube-se em 2005 que Valério intermediou contatos de integrantes da cúpula do PT com executivos do Opportunity. Há registros de encontros de Delúbio Soares, tesoureiro do partido, com Carlos Rodenburg, sócio de Dantas, intermediado pelo publicitário.

Em janeiro daquele ano, o Opportunity ainda não havia desistido de vender a Telemig Celular. As divergências com o Citi aumentavam. E foi nesse ambiente que Valério viaja a Lisboa.

Relembre os detalhes deste caso na reportagem publicada originalmente em agosto de 2005, edição 354, de CartaCapital: .

Os personagens do mensalão

Em seu voto pela absolvição de José Dirceu por corrupção ativa no julgamento do “mensalão”, nesta quinta-feira 4 no Supremo Tribunal Federal, o revisor Ricardo Lewandowski voltou a citar o episódio conhecido como “Conexão Lisboa”. Segundo o ministro, a viagem de Marcos Valério a Portugal para se encontrar com dirigentes da Portugal Telecom não tinha “nenhuma” relação com o ex-ministro da Casa Civil, mas com interesses do banqueiro Daniel Dantas “muito anteriores à posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência”.

Citando o relatório final da CPMI dos Correios, o ministro disse que em 1997, “em meio à controvérsia”, Daniel Dantas e o Grupo Opportunity “foram agraciados com fundos de pensão de empresas do setor público entregues pela administração (federal)”. Em 2003, após a descoberta de irregularidades nas empresas controladas pelo banqueiro, ele e seu grupo foram removidos da administração dos recursos. Com isso, seu poder na Brasil Telecom, Telemig e Amazônia Celular, entre outras empresas, estava abalado.

Então, prosseguiu Lewandowski, para manter-se à frente do controle dos recursos e “no afã de voltar ao poder”, canalizou recursos das companhias que controlava por meio de seu grupo para Marcos Valério. O publicitário os distribuiria aos interlocutores de Dantas, a fim de restabelê-lo. “Ele quase conseguiu, se não fosse a revelação do mensalão.”

Para a acusação, a viagem ocorreu a mando de Dirceu, apontado pelo Ministério Público Federal como o chefe do suposto esquema de compra de votos no Congresso. Valério negociaria com a empresa portuguesa o recebimento de 8 milhões de euros, um valor que seria repassado pelo PT ao PTB em troca do seu apoio. Também foram ao encontro em Lisboa Rogério Tolentino e Emerson Palmieri (PTB).

Valério alega ter ido a Portugal resolver negócios de suas agências de publicidade, pois a Portugal Telecom teria interesse em comprar a Telemig, que era sua cliente no Brasil. O publicitário alega ter tido a intenção de manter essa conta e obter parte dos trabalhos da Vivo, controlada pela empresa portuguesa.

Segundo o revisor, a Brasil Telecom, a Telemig e a Amazônia Celular possuíam contratos milionários com a DNA Propaganda e a SMP&B. Isso ocorreu porque Dantas via em Valério uma ponte no meio político que poderia ajudá-lo em sua empreitada para manter o controle das empresas. “Ele entregou contas a Valério com contratos milionários, com indícios de superfaturamento desde 2000 até a exposição do escândalo.”

Para manter as irregularidades, necessitava de “uma alta dosagem de influência política”. “Para isso, mantinha um time de investigadores e advogados caros a violar o direito de quem ousava passar em seu caminho”, disse.

Ainda sobre a “Conexão Lisboa”, destacou que o relatório da CPMI apontou “de forma cristalina a relação [de Valério] com o grupo Opportunity” e que a viagem para Portugal se deu para intermediar a venda da Telemig. “Valério fez a intermediação, mesmo que sem êxito. Era contratado por Dantas e atuou como verdadeiro empresário dele.”

O ministro buscou ainda refutar que nos encontros com altos executivos em Lisboa Valério tenha se identificado como representante do PT ou do governo brasileiro. Citou depoimentos de António Luis Guerra Nunes Mexia, ministro de Comunicação de Portugal, Miguel Horta, presidente da Portugal Telecom, e Ricardo Espírito Santo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo, com os quais o publicitário se reuniu, negando intenção política dos encontros. “O vi na vida por uma vez, em 15 minutos”, disse Meixa em carta rogatória. “Os objetivos desta reunião eram para falar sobre a Portugal Telecom e sua participação no mercado brasileiro”, completou.

Segundo o depoimento de Meixa, Valério foi apresentado como alguém com conhecimentos empresariais da Telemig, que se pretendia comprar pela Portugal Telecom.

Conexão Lisboa

A revelação dos contatos de Marcos Valério com a Portugal Telecom deixou clara, conforme relevou CartaCapital em 2005, a participação do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, na gênese da crise. Dantas tinha interesse em vender a Telemig Celular aos portugueses para, com isso, fazer caixa e comprar a parte do Citi no controle da Brasil Telecom.

O Opportunity e a Portugal Telecom chegaram a assinar uma carta de intenção, após meses de exaustiva negociação, mas a venda não foi concluída.

Soube-se em 2005 que Valério intermediou contatos de integrantes da cúpula do PT com executivos do Opportunity. Há registros de encontros de Delúbio Soares, tesoureiro do partido, com Carlos Rodenburg, sócio de Dantas, intermediado pelo publicitário.

Em janeiro daquele ano, o Opportunity ainda não havia desistido de vender a Telemig Celular. As divergências com o Citi aumentavam. E foi nesse ambiente que Valério viaja a Lisboa.

Relembre os detalhes deste caso na reportagem publicada originalmente em agosto de 2005, edição 354, de CartaCapital: .

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