Lei de Cotas pode ser alterada com exclusão de critérios raciais para seleção de alunos

No texto sancionado por Dilma Rousseff, está prevista uma revisão do sistema após dez anos de implantação, o que ocorrerá em agosto próximo

O sistema de cotas mudou o perfil das universidades federais. O indígena Tarisson Nawa vê na política a possibilidade de inverter papéis, de objeto de estudo a pesquisador da história de seu povo. Lívia Gabrielle realizou aos 18 anos o sonho que a mãe, Sandra, levou cinco décadas para desfrutar - Imagem: UFSB e Acervo pessoal

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No início de 2021, uma família negra de Caçapava, no interior paulista, teve uma dupla conquista para celebrar. A técnica de enfermagem Sandra Baptista, de 53 anos, obteve uma bolsa de estudos integral para cursar Gestão Pública em uma universidade privada de Santos. Já a filha Lívia ­Gabrielle dos Santos da Silva, de 18 anos, foi aprovada no processo seletivo do curso de Engenharia Química da USP, no campus de Lorena, e tornou-se a primeira integrante do núcleo familiar a ter acesso a uma universidade pública. Até então, apenas outro filho teve a oportunidade de cursar uma faculdade, com financiamento pelo Fies.

Sandra precisou adiar por muitos anos o sonho do ensino superior. Chegou a iniciar alguns cursos no passado, mas precisou abandoná-los em decorrência de problemas financeiros. Agora, com os filhos crescidos, acredita ser possível conciliar o trabalho com a graduação a distância. Lívia, por sua vez, entrou na USP logo após o Ensino Médio. Não foi uma tarefa fácil, ainda mais em tempos de pandemia. “Começava às 7 e meia da manhã e seguia com os estudos até 9 da noite, sem descanso”, relembra. Um sacrifício necessário para dar conta das aulas remotas da escola, a elaboração do trabalho de conclusão de curso e o reforço do Emancipa, um cursinho popular, mantido por voluntários.

ANTES EM MINORIA, OS NEGROS HOJE SOMAM 51,2% DOS ALUNOS DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS. AS VAGAS PARA BRANCOS TAMBÉM CRESCERAM

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2 comentários

CARLOS ALBERTO CALDEIRA MENDES 18 de março de 2022 04h48
Excelente reportagem!
JONAS BANDEIRA 18 de março de 2022 00h20
Acredito sim que deva ser aperfeiçoada. Da forma como está, as bancas examinadoras de cotas estão fazendo uma seleção excludente ao adotar critérios subjetivos. Pessoas pardas que sempre se declararam como tal estão sendo excluídas. Essa subjetividade tem levado o sistema de seleção a da um tiro no próprio pé, criando uma seleção excludente entre os próprios excluídos, ferindo a identidade cultural e o sentimento de pertença de quem sempre se declarou e se identificou com a cor parda. Não é possível admitir que uma lei que foi criada para diminuir a exclusão de classes historicamente excluídas das universidades, esteja agora servido, lamentavelmente, por meio das bancas, para selecionar uns e excluir outros, chegando ao ponto de irmãos de mesmo pai e mãe, terem resultados diferentes. Portanto, faz-se, urgentemente, necessário definir critérios mais objetivos, e assim fazer uma seleção mais justa. Da forma como está, com a crescente judicialização dos casos, só dará mais voz aos que sempre se declararam contra as cotas.

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