No dia em que a lama chegou, fui ver o que era aquilo e me deparei com a imagem mais triste da minha vida”, recorda a pescadora Regiane Soares Rosa, moradora de Baixo Guandu, no Espírito Santo, um dos 49 municípios atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, na cidade mineira de Mariana, em 2015. Depois de devastar vilarejos inteiros, o tsunami de rejeitos de minério de ferro alcançou o Rio Doce e percorreu 600 quilômetros até tingir de marrom as águas esverdeadas do litoral capixaba. Responsável pelo desastre, a Samarco, controlada por duas gigantes da mineração, a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, ainda não reparou os danos causados a milhares de habitantes nos dois estados.
Regiane cresceu nadando no Rio Doce, o maior curso de água do Sudeste brasileiro. Com a tragédia, sua tranquila rotina se deteriorou rapidamente. Toda a família vivia da pesca e, de uma hora para outra, viu o flúmen se converter em um abatedouro de seres aquáticos de variadas espécies. “Vi milhares de peixes pulando para fora d’água por causa da contaminação. A cena me machucou tanto que fiquei mais de seis meses sem voltar ao leito do rio”, conta. Da barragem rompida, foram vertidos mais de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração altamente tóxicos. Ninguém arrisca um palpite sobre quando o ecossistema local conseguirá se refazer. Talvez nunca, especulam ambientalistas. O fato é que milhares de trabalhadores perderam sua principal fonte de sustento e, até hoje, dezenas de comunidades ainda não têm água potável para consumo, precisam ser atendidas por caminhões-pipa ou comprar água mineral engarrafada.
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