Kátia Abreu, Venezuela e a adesão do agronegócio a Bolsonaro

Vice de Ciro disse temer uma ditadura chavista no Brasil, narrativa frequente entre os apoiadores do candidato do PSL sobre eventual vitória de Haddad

Kátia Abreu mostra ser diferente dos colegas ruralistas, mas não vira as costas para o setor

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A narrativa de que um provável segundo turno entre Fernando Haddad, do PT, e Jair Bolsonaro, do PSL, será uma “eleição dos extremos” tornou-se o principal discurso dos demais candidatos à Presidência nesta reta final de campanha.

Não surpreende a postura crítica de Ciro em relação aos petistas, pois seu objetivo é vender-se como uma terceira via capaz de superar os polos que lideram a disputa. Mas o pedetista mantém coerência com sua trajetória.

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Em meio a críticas a Haddad pela proposta de convocar uma nova Assembleia Constituinte, não aderiu até o momento ao discurso frequente entre os bolsonaristas de que um governo petista transformaria o Brasil em uma Venezuela, algo distante das experiências reais do PT no poder. Em ocasiões anteriores, Ciro fez críticas à oposição no país vizinho, por exemplo.

Por outro lado, Kátia Abreu, sua vice e ex-ministra da petista Dilma Rousseff, reforçou essa associação feita diariamente pela direita no País em debate no Roda Viva. “Eu tenho medo dos extremos. Tenho medo de ditadura de direita Pinochet e tenho medo de ditadura de esquerda Hugo Chavez. As duas são abomináveis, podem destruir a economia, todos os ganhos sociais que tivemos”, disse, em relação à polarização entre Haddad e Bolsonaro.

À parte a narrativa da vice-candidata na tentativa de fortalecer Ciro, há de se ter em vista a força de Bolsonaro no agronegócio. Apesar de Kátia Abreu ter desafiado o pensamento majoritário do setor ao defender Dilma durante o impeachment, não se pode negar que a classe dos produtores rurais constitui sua origem política e sua pauta central.


Ela mostra ser independente de seus colegas ruralistas: recentemente, entregou um buquê de flores a Sônia Guajajara, única candidata de origem indígena na disputa presidencial, em um debate entre postulantes a vice. Imaginar que ela vire completamente as costas para o setor seria ingênuo, porém.

Nesta terça-feira 2, a Frente Parlamentar da Agropecuária, que reúne 227 deputados e 27 senadores da bancada ruralista, declarou seu apoio ao candidato do PSL nestas eleições. Um endosso esperado diante da impressionante performance de Bolsonaro em estados onde o agronegócio desempenha papel relevante.

Em uma pesquisa Ibope divulgada na semana passada, antes do crescimento de Bolsonaro apontado pelo instituto nesta segunda-feira 1º, a intenção de votos dos presidenciáveis nos estados com maior concentração de áreas rurais e terras indígenas mostra uma consistente adesão ao capitão reformado do Exército. Bolsonaro chegava a ter 53% das intenções de voto no Acre e 52% em Rondônia. No Mato Grosso do Sul e Goiás, ele tinha mais de 35%, segundo o Ibope. Em Tocantins, domicílio eleitoral de Kátia Abreu, também supera 30% das intenções de voto.

Entre os eleitores de Bolsonaro, a defesa de que a vitória do PT abriria o caminho para o Brasil se tornar uma Venezuela é tese bastante popular, defendida pelo próprio candidato, por seus filhos, por Luciano Hand, dono da Havan e um dos maiores entusiastas da candidatura do ex-capitão, e por muitos de seus eleitores. Um dos “memes” mais populares de seus apoiadores é uma encruzilhada em que há apenas dois caminhos para o País: Bolsonaro, a representar o “Brasil”, e a turma da “Venezuela”, composta por Lula, Haddad, Manuela D’Ávila e… o próprio Ciro.

Kátia Abreu prometeu ficar neutra em um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. Embora Ciro frequentemente critique o PT, não demonstrou ainda estar disposto a associar o partido adversário à Venezuela e ao frágil e autoritário governo de Nicolás Maduro. A adesão do agronegócio a Bolsonaro talvez ajude a explicar porque sua vice já tenha seguido este caminho.

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