Jornada às profundezas

Quatro acadêmicos analisam, uma década depois, as causas e efeitos dos protestos de junho de 2013

Custou mais de 20 centavos. Os protestos contra o reajuste da tarifa de ônibus foram reprimidos com violência – Imagem: Nelson Almeida/AFP

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Movimento espontâneo e popular? Revolta manipulada pela elite nativa associada a interesses internacionais? Abre-alas da ascensão de Jair Bolsonaro e do extremismo? Passados 10 anos das jornadas de junho, o País ainda não conseguiu decifrar a contento as causas e as consequências dos protestos, cujo estopim, na tarde de 13 de junho de 2013, foi uma reivindicação tão antiga quanto pueril de estudantes paulistanos: não só impedir o aumento de 20 centavos na tarifa de ônibus da capital, mas defender a gratuidade do transporte público.

Capitaneado pelo Movimento Passe Livre, organização autodeclarada apartidária, as jornadas de junho foram marcadas pela violência policial e por uma metamorfose ao longo dos dias. Aos poucos, o MPL viu-se alijado dos protestos, enquanto os manifestantes, cada vez mais brancos, empunhavam a bandeira da antipolítica. O movimento cresceu, alastrou-se pelos demais estados e fez surgir um tipo de militância incomum no País, os Black Blocs, encapuzados violentos que promoveram o quebra-quebra de agências bancárias, lojas, equipamentos públicos e, por fim, a invasão do Congresso.

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4 comentários

Gilson Duarte F dos Santos 16 de junho de 2023 21h18
Nenhum dos analistas conseguiu captar o sentido das manifestações. Faltou a configuração do contexto político e econômico nacional e os movimentos da geopolítica que aqui respingaram, especialmente petróleo e primavera árabe, intrinsecamente associados. Embora tenha sido um movimento que teve a rede social como força mobilizadora, não dá para omitir o papel da midia empresarial tradicional no descrédito dos políticos e da política, tendo como propósito fundamental a desconstrução do protagonismo do PT na vida nacional, seja desqualificando a sua administração as suas realizações e o associando sistematicamente à secular corrupção da vida brasileira. Lembremos que movimento surgiu no esplendor do Mensalão e o alvorecer do lavajatismo e seu moralismo e punitivismo seletivo para o qual eram dedicadas loas diárias. Em suma, faltou profundidade. Sorry.
ricardo fernandes de oliveira 17 de junho de 2023 19h01
A melhor análise e a de breno Bringel. A de Cláudio parece paranoica
Reginaldo Araújo Costa 18 de junho de 2023 01h26
A incapacidade da direita de apresentar um candidato capaz de concorrer com o PT em 2018, colaborou muito mais para que chegássemos a Bolsonaro, além, é claro, dos interesses internacionais e do capital nacional em derrubar o PT, e para isso puderam contar com o apoio incondicional da grande mídia. Esse retrocesso que vivemos tem portanto, menos relação com aqueles movimentos de 2013.
ANA ROCHA 18 de junho de 2023 14h21
2013 escancarou a desorganização da esquerda, sua incapacidade de reagir, fato que ocorre até os dias de hoje. Temos alguns dinossauros apegados a teses e teorias ultrapassadas, um presidente que é um dos maiores líderes políticos do mundo, refém de um parlamento inominável e pouco aprofundamento sobre as questões centrais, sobre o que fazer. A esquerda dormita apegada ao passado, enquanto a direita, que sempre foi competente, e a extrema-direita, alastram seus movimentos no Brasil e no mundo, desprovida que é de ética, princípios, elementos facilitadores para sua ação. É preciso acordar!

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